Quando assumiu o ministério da Economia, em 2019, Paulo Guedes foi considerado pela maioria dos analistas políticos como um dos homens fortes do governo Bolsonaro. Com uma agenda liberal, ele era, ao lado do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, chamado de superministro.
Aos poucos, no entanto, Guedes foi perdendo poder e alguns de seus principais assessores. Deixaram a pasta nomes como Salim Mattar, secretário da Desestatização; Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional; e Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, entre tantos assessores de apreço do mercado financeiro.
Agora, aos poucos, Guedes está ampliando, de novo, os seus tentáculos na economia e colocando aliados e assessores em cargos chaves do governo Bolsonaro. Com a saída de Pedro Guimarães da presidência da Caixa, acusado de assédio sexual, mais um nome próximo do ministro da Economia assume o cargo.
É o da secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, que foi confirmada como presidente da Caixa, o segundo maior banco estatal do Brasil.
Marques é considerada o braço direito de Guedes, do qual foi sócia na Bozano Investimentos (hoje Crescera Capital). Antes de seu cargo atual, ela chefiou a assessoria especial de Assuntos Estratégicos da Pasta.
Com a nomeação de Marques, sobe para seis o número de ex-assessores de Guedes que deixaram o Ministério da Economia para assumir postos relevantes no governo ou em áreas de influência do governo.
O nome mais recente a deixar o ministério da Economia e ir para um cargo chave foi o de Caio Paes de Andrade, ex-secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital no Ministério, que assumiu na terça-feira, 28 de junho, a presidência da Petrobras.
Antes dele, Adolfo Sachsida foi promovido a ministro de Minas e Energia. Ele ocupava o posto de chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia. Mas comandou desde o início do governo Bolsonaro a Secretaria de Política Econômica da pasta.
A lista inclui ainda Bruno Bianco, ex-secretário adjunto da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, que assumiu a Advocacia-Geral da União; e Marcos Troyjo, ex-secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, que foi para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics.
Um caso à parte é o de Rogério Marinho, que chefiou a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, e se tornou ministro do Desenvolvimento Regional. No fim de março deste ano, ele deixou a pasta para concorrer a uma vaga no Senado pelo Rio Grande do Norte.
Com Marques na Caixa, Guedes terá uma pessoa de confiança em uma das principais estatais do governo Bolsonaro. A Caixa é responsável pelo pagamento de programas sociais e ergueu, com a distribuição do auxílio emergencial no período da pandemia, a maior “fintech” brasileira através do aplicativo Caixa Tem.
Mercado de mau humor
O mercado financeiro, no entanto, parece não estar sensibilizado com o aumento da influência de Paulo Guedes e, nesta quarta-feira, ampliou o seu mau humor com o risco fiscal por conta da PEC dos Combustíveis.
Investidores empurraram o Ibovespa abaixo de 100 mil pontos e puxaram os juros futuros. O dólar deslizou a R$ 5,20, mas a trajetória pode ser revertida na esteira do Risco Brasil que ultrapassou 300 pontos – patamar mais elevado em dois anos, segundo a IHS Markit.
A apresentação do relatório do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), relator da PEC dos Combustíveis, levantou preocupações. A PEC, que prevê aumento do Auxílio-Brasil, do Vale Gás e a criação de um “voucher” para os caminhoneiros, implica em aumento de gastos de R$ 38,75 bilhões.
Quando a proposta começou a ser discutida semanas atrás, a perspectiva era de gastos adicionais pouco superiores a R$ 29 bilhões. A diferença entre esses valores corresponde à proposta de tornar o Vale Gás um benefício mensal, e não bimestral como é hoje, e zerar a fila do Auxílio Brasil neste ano.