Empresa de full commerce, o conceito que embarca a gestão completa dos canais de e-commerce de clientes, dos pedidos à logística, a Infracommerce vem lidando com um pacote bastante pesado em 2022, que se traduz na desvalorização de 55,65% de suas ações no acumulado do ano.
Além do cenário macroeconômico, o fardo inclui ruídos e problemas específicos envolvendo a companhia. Nessa última esteira, despontam o alto nível de endividamento e os custos associados às seis aquisições feitas desde dezembro de 2020, que vêm contribuindo para tingir de vermelho a última linha do balanço da empresa.
Diante desse contexto, a Infracommerce está se movimentando para fechar essa conta e acalmar os ânimos do mercado. A empresa acaba de divulgar seu resultado referente ao segundo trimestre de 2022 e o balanço veio acompanhado do anúncio de um aumento de capital por meio de subscrição privada.
O plano da companhia é levantar até R$ 400,8 milhões, com um montante mínimo estipulado em R$ 170 milhões. O preço de emissão, de R$ 5,01 por ação, leva em conta a cotação do papel da companhia nos últimos 60 pregões da B3, no período entre 18 de maio e 10 de agosto.
“Esse é um range que entendemos como ideal para equacionarmos nossa estrutura de capital”, diz Fábio Bortolotti, diretor de internacionalização e de RI da Infracommerce, ao NeoFeed. “E acredito que praticamente endereçamos o último grande questionamento do mercado, que é a nossa alavancagem.”
O aumento de capital envolverá um período de trinta dias para que qualquer acionista da operação exerça seus direitos de preferências. Posteriormente, haverá duas rodadas de rateios de sobras. A estimativa é de que, ao todo, o processo leve 45 dias.
O diretor ressalta que a Infracommerce estipulou esse valor mínimo com base no interesse já manifestado por acionistas de referência não apenas na subscrição pro rata – proporcional às suas fatias. Mas também, em ampliar suas posições em eventuais rateios de sobras de ações.
“Na visão desses acionistas, não faz sentido a empresa estar digerindo um endividamento quando poderia estar em uma posição de força”, afirma. “Já tínhamos linhas bancárias suficientes, mas isso viria a um custo de despesa financeira muito alta e eles decidiram virar a página para seguir em frente.”
Em fato relevante, a empresa informou que a Engadin Investment, a Núcleo Capital, a Megeve Capital e a Compass se comprometeram a participar do aumento de capital justamente no montante mínimo, em conjunto, de R$ 170 milhões.
Antes de consolidar, de fato, essa virada de página, é importante fazer uma leitura do cenário atual da companhia, a partir do balanço do segundo trimestre. A empresa fechou o período com uma dívida bruta de R$ 450 milhões, uma dívida líquida de R$ 250,5 milhões e um caixa de R$ 224 milhões.
Do total da dívida bruta, R$ 250 milhões estão relacionados a uma emissão de debêntures realizada em novembro de 2021, com prazo de vencimento de cinco anos e dois anos de carência. O maior ponto de atenção, porém, envolve outro valor, a ser quitado em dezembro deste ano.
Trata-se de uma parcela de R$ 200 milhões referente à compra da Synapcom, anunciada em setembro de 2021, pela bagatela de R$ 1,2 bilhão. O acordo representou a maior aquisição da Infracommerce que, acelerou essa frente após abrir capital, em abril do ano passado, e levantar R$ 902 milhões.
Com uma linha de crédito de R$ 350 milhões aprovada com bancos, uma das possibilidades na mesa para não se submeter a taxas pouco favoráveis é a negociação com os antigos donos da empresa – e atuais sócios da Infracommerce – para postergar o prazo.
“O aumento de capital tira um pouco dessa pressão na negociação”, observa Bortolotti. “Temos a opção de pagar diretamente, postergar ou financiar o pagamento, pois já temos uma linha aprovada para isso. Vamos buscar as melhores condições e, nas próximas semanas, devemos ter alguma novidade.”
Ele acrescenta que, a partir do reforço na estrutura de capital, a Infracommerce provavelmente estenderá essa abordagem a outras renegociações para tentar repactuar outras linhas já contratadas com bancos e alongar suas dívidas.
Em paralelo, a companhia segue “fechada” para novos M&As e focada em olhar para dentro de casa, ao priorizar a integração da sua primeira leva de aquisições. Nesse processo, a Infracommerce já cumpriu etapas como a renegociação de condições comerciais com fornecedores em comum.
Agora, a empresa está dando andamento a pilares como a exploração de vendas cruzadas na conexão com alguns dos ativos incorporados e na integração de sistemas. Nessa última área, a expectativa é que boa parte seja cumprida até o fim do ano.
Já o rescaldo, que envolverá softwares de gestão de centros de distribuição e de pedidos, deve ser concluído até meados de 2023. Uma outra fase passará ainda pelo alinhamento de processos entre todas as operações, o que pode envolver eventuais reduções dos quadros.
Essa frente, em particular, também colocou a empresa sob os holofotes recentemente. Em maio, o jornal Valor Econômico publicou uma reportagem destacando que a Infracommerce havia demitido 100 profissionais, em função de um corte de orçamento. A companhia tem cerca de 4 mil funcionários.
“No mesmo período, contratamos 200 pessoas e, hoje, temos mais de 100 vagas em aberto”, diz o diretor. “Após uma série de aquisições, é natural ter uma redução em áreas com sobreposição. Mas seguimos ampliando a equipe em áreas ligadas a crescimento. Não foi um ajuste de rota.”
Segundo trimestre
O resultado do segundo trimestre da Infracommerce mostra um balanço entre indicadores positivos e outros tantos números que traduzem o que a empresa ainda precisa entregar e comprovar ao mercado.
Entre abril e junho, a companhia reportou um prejuízo de R$ 61 milhões, contra os R$ 14,8 milhões reportados em igual período de 2021. Já o prejuízo ajustado foi de R$ 7,4 milhões, há um ano, para R$ 36,5 milhões.
A receita líquida ficou em R$ 220,4 milhões, alta anual de 178,3%, enquanto o GMV cresceu 100,2%, para R$ 3,08 bilhões. No período, a empresa reportou um Ebitda ajustado de R$ 18,8 milhões, o que representou um salto de 809,3%. A margem Ebitda ajustada subiu 6,4 pontos percentuais, para 8,5%.
“Ainda estamos no meio do caminho, mas já começamos a sentir os efeitos das sinergias dos M&As”, ressalta Bortolotti. “Há partes não recorrentes e não-caixa das aquisições que acabam poluindo um pouco o Ebitda, mas, principalmente, o prejuízo líquido.”
Com um guidance de fechar o ano com um Ebitda na faixa de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões, ele observa que, levando-se em conta os patamares atuais, sem o aumento de capital, e caso essa projeção se concretize, a empresa encerraria o ano com uma relação dívida líquida x Ebitda na faixa de 2,5 a 3 vezes. Ele não revelou qual foi esse índice no segundo trimestre.
Em maio desse ano, em uma conta que, claro, também não incluía o aumento de capital, o BTG Pactual projetou que, tomando como base um Ebitda de R$ 89 milhões em 2022 e a dívida líquida somada a R$ 290,9 milhões que a empresa teria de pagar por conta dos M&As, o índice de alavancagem poderia superar 6 vezes. Enquanto em um Ebitda no intervalo de R$ 100 milhões, ele seria de 5,4 vezes.
De volta ao segundo trimestre, outro ponto destacado por Bortolotti foi a conquista de 62 clientes. O número inclui desde novas marcas no portfólio até empresas que estenderam seus contratos a outras soluções. A lista conta com nomes como Alpargatas, Nivea, L’Oréal e Semp TCL.
Ainda entre abril e junho, as despesas comerciais e administrativas cresceram 127,6%, para R$ 117,4 milhões. As despesas financeiras, por sua vez, somaram R$ 54,9 milhões, alta de 610,4% sobre o segundo trimestre do ano passado.
As ações da Infracommerce encerraram o pregão desta quinta-feira na B3 cotadas a R$ 7,76 e em queda de 3,12%. Desde o IPO da empresa, em abril de 2021, os papéis acumulam uma desvalorização de 51,5%. A companhia está avaliada em R$ 2,18 bilhões.