A World Wide Fund For Nature (WWF) soou o alarme. A monotonia de nossa dieta está afetando a biodiversidade do planeta. Historicamente, cerca de 5 mil culturas já foram usadas para a produção de alimentos. Hoje em dia, porém, 75% do total de calorias consumidas no mundo vêm de apenas 12 culturas e cinco animais, informam os analistas da organização não governamental.

A falta de diversidade em nossos pratos tende a levar a sistemas agroalimentares menos resilientes às mudanças climáticas, mais vulneráveis a pragas e doenças e menos sustentáveis.

As consequências são desastrosas, segundo o “Relatório Planeta Vivo 2022”, lançado pela WWF. Entre 1970 e 2018, a população de animais selvagens reduziu 69%. E a principal causa para o declínio é a mudança da cobertura e do uso do solo.

Essas alterações destroem e fragmentam os habitats naturais de muitas espécies vegetais e de animais terrestres, marinhos e de água doce, indica o levantamento da ONG, a partir de dados coletados de quase 32 mil populações de 5.230 espécies.

De todas as regiões do mundo, nenhuma registrou uma queda tão grande quanto a América Latina e o Caribe – redução de 94%, no período, sobretudo entre os peixes de água doce, répteis e anfíbios.

A fragmentação dos ecossistemas naturais tem um impacto devastador na chamada conectividade ecológica - caracterizada pelo “movimento desimpedido das espécies e ao fluxo de processos naturais que sustentam a vida na Terra”, explicam os pesquisadores da WWF.

Com isso, as cadeias alimentares são desestruturadas e a migração dos animais para suprir suas necessidades de comida e reprodução fica comprometida, levando à dispersão das espécies – o cenário perfeito para a extinção. “Atualmente, apenas 10% das áreas terrestres protegidas estão conectadas”, informa o documento da ONG.

Do modo como estão construídos, os sistemas agroalimentares são o grande fator de risco para essas disfunções na bioesfera. Responsáveis pela maior pegada ecológica (30%) entre todas as atividades humanas, respondem por 70% da perda de biodiversidade em terra, 50% em água doce e 30% das emissões globais de gases de efeito estufa. Portanto, faz-se urgente uma transformação radical nas práticas agropecuárias vigentes.

“A diversificação na produção de alimentos, particularmente nos sistemas de cultivo e na pecuária, é um meio de aumentar a produtividade, a resiliência às mudanças climáticas e a resistência a pragas e doenças, além de amortecer choques econômicos, melhorar o desempenho ecológico das culturas e conservar a biodiversidade”, dizem os autores do “Relatório Planeta Vivo 2022”.

Em outro estudo, a WWF aponta algumas iniciativas de sucesso no combate à emergência da biodiversidade. Um dos exemplos de sucesso citados pelos pesquisadores são os Sistemas Agrocerratenses Inclusivos (Sacis), com foco na produção de alimentos a partir de técnicas restauração com espécies nativas do cerrado. Considerado a savana mais rica do planeta, o ecossistema já perdeu 50% de sua vegetação original.

Os Sacis se assemelham aos modelos agroflorestais. Essa forma de uso do solo combina, em uma mesma área, o cultivo de elementos perenes (espécies arbóreas ou arbustivas, frutíferas, madeiráveis e adubadoras) e semiperenes (espécies que permanecem por dois a três anos no sistema), com a eventual criação animal. Por esse método, o plantio otimiza o uso da terra, conciliando a preservação ambiental com a produção de alimentos.