Pela primeira vez, a FDA reconheceu a segurança para consumo humano de uma carne cultivada em laboratório. A benção da agência de controle de remédios e alimentos dos Estados Unidos foi para o frango fabricado nos centros de pesquisa da Upside Foods.
Fundada em 2015, em Berkeley, na Califórnia, como Memphis Meats, a foodtech é uma das pioneiras na fabricação de carne a partir de células animais.
Em abril passado, na maior rodada de financiamento do setor, a Upside Foods recebeu um aporte de US$ 400 milhões, alçando a companhia à categoria de unicórnio, como são classificadas as empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Ao longo de sua história, a foodtech já amealhou US$ 606 milhões, de 39 investidores, entre os quais Bill Gates, Softbank, Elon Musk e Cargill, conforme aponta relatório da Crunchbase. Em 2021, a companhia inaugurou uma fábrica de quase dois mil metros quadrados, na região da baía da São Francisco. As novas instalações terão capacidade para produzir cerca de 181,5 toneladas de carne.
“Esse é um divisor de águas na história da alimentação”, diz Uma Valeti, CEO e fundadora da empresa, em comunicado. “Começamos a Upside em meio a um mundo cheio de céticos e, hoje, voltamos a fazer história. É um grande passo em direção a uma nova era na produção de carne.”
O aval da FDA não representa ainda uma liberação para a comercialização do frango produzido pela Upside Foods. A partir de agora, a foodtech passa por uma série de avaliações conduzidas pela agência sanitária e pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Será averiguado, por exemplo, as condições de fabricação da carne.
Se a empresa passar pelo crivo rigoroso dos especialistas do governo americano, poderá então escalar o produto. Não há previsão ainda de quando o frango da Upside Foods estaria liberado para comercialização.
De qualquer forma, os fabricantes de carne de laboratório comemoraram a avaliação da FDA como um passo importante rumo ao reconhecimento da viabilidade das carnes produzidas em laboratório.
Em comunicado, Robert Califf, comissário de alimentos e medicamentos, e Susan Mayne, diretora do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada, ambos da FDA, dizem que alimentação mundial passa por uma revolução.
“Os avanços na tecnologia de cultura de células têm permitido que os fabricantes usem células animais obtidas de gado, aves e frutos do mar na produção de alimentos, com a expectativa de que esses produtos estejam prontos para o mercado em um futuro próximo”, escrevem os analistas da agência.
Desde 2018, a Upside Foods vinha trabalhando junto à FDA para a aprovação de suas carnes cultivadas em laboratório. Até agora, Cingapura é o único país do mundo que deu o sinal verde para produtos fabricados a partir de células animais. Desde 2020, a Eat Just, também da Califórnia, vende seus produtos para supermercados e restaurantes cingapurenses. Aos poucos, o futuro da alimentação se transforma em presente.