Em meio ao pessimismo que tomou conta de muitos investidores e economistas em relação às perspectivas do Brasil em 2023, o Bank of America (BofA) divulgou expectativas ligeiramente melhores do que espera o mercado, apesar de o banco também demonstrar preocupação com o futuro da política fiscal.
As projeções do chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina, David Beker, e da economista Natacha Perez indicam que a economia brasileira deve registrar um crescimento de 0,9% em 2023, depois de uma expansão de 3,25% esperada para 2022.
Os dados estão acima da mediana das projeções dos economistas do mercado, segundo o Relatório Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira, dia 19 de dezembro. Para esse ano, o boletim aponta para um crescimento de 3,05% da economia e uma desaceleração da expansão no ano que vem, a 0,79%.
Para os economistas do BofA, mesmo com a Selic limitando a transferência dos efeitos positivos da expansão da economia em 2022 para 2023, o aumento real previsto para o salário mínimo e medidas de estímulo fiscal, especialmente os desembolsos do Bolsa Família, devem sustentar parte do consumo no ano que vem.
Na visão do banco, outro aspecto importante para o crescimento previsto para 2023 são os investimentos, que devem ser mais robustos, diante do fim do risco eleitoral.
“Nós estamos considerando um cenário intermediário, com alguma melhora econômica via estímulos fiscais extraordinários e o potencial de algumas reformas”, destaca um trecho do relatório. “Ainda esperamos uma reforma tributária sendo aprovada neste cenário, pois as discussões na Câmara dos Deputados estão em estágio avançado.”
Diferentemente de seus pares, os economistas do BofA também acreditam que haverá um espaço maior para cortes na Selic, com os riscos fiscais contidos pelo Congresso, cuja composição mais à direita, a partir de 2023, pode ajudar a conter descontroles das contas públicas.
A expectativa dos economistas do BofA é de que a taxa feche o ano que vem em 10,50% ao ano, recuando do patamar atual de 13,75% ao ano. Já o Relatório Focus aponta que a maioria dos economistas espera a Selic encerrando 2023 em 11,75% ao ano.
“Nosso cenário base é de que o BC começará a fazer cortes em junho e atingir os 10,50% ao final de 2023, apoiado na desaceleração da inflação, que ainda permitirá as taxas reais permanecerem elevadas”, ressalta o BofA, no relatório. “Nossa visão é de que a desinflação vai continuar e que uma forte oposição do Congresso ajudará a conter riscos para a política fiscal.”
Mesmo assim, para o banco, a situação fiscal é o principal tema de 2023. Assim como muitos economistas e gestores, o BofA demonstra receio quanto à perspectiva fiscal no médio e longo prazo, em meio às pressões para manter o apoio a programas sociais, as isenções fiscais e o aumento constante dos salários no setor público.
No caso da inflação, os economistas do BofA avaliam que, mesmo com o movimento de desaceleração, ela continuará sob pressão em 2023. A estimativa é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará acima da meta de inflação pelo quinto ano consecutivo.
A leitura de 4,8% esperada pelo banco para 2023 é menor que o estimado pelo mercado. O Relatório Focus mostra que a mediana das projeções é de 5,17%. Para 2022, a expectativa é de 5,8%, um pouco acima dos 5,76% indicados pelo Focus.
Para o câmbio, a expectativa é de que o real permanecerá desvalorizado frente ao dólar, com a alta dos juros nas principais economias do mundo e o risco fiscal. No entanto, diferentemente das outras projeções, o BofA espera um dólar mais valorizado do que os economistas do mercado – R$ 5,40 contra R$ 5,26.