Em junho de 2021, no auge da guerra entre XP e BTG pelos escritórios de agentes autônomos, a XP venceu a batalha para manter a Monte Bravo Investimentos, uma das joias da coroa, dentro de casa. Na época do acordo, a XP virou sócia da empresa fundada por Pier Mattei e Filipe Portella com uma participação de 45%. A promessa era a de que a Monte Bravo se tornaria uma corretora independente.
Pois o plano acaba de ganhar contornos reais. A Monte Bravo revelou com exclusividade ao NeoFeed que acaba de receber o sinal verde do Banco Central para constituir sua corretora. Agora, a companhia, que hoje conta com R$ 32 bilhões sob sua assessoria, precisa passar por mais alguns trâmites, como a visita técnica do BC, para iniciar as atividades como corretora. A meta é chegar a R$ 100 bilhões até 2025.
A expectativa é a de que a corretora comece a operar no início do segundo semestre deste ano. "Hoje seríamos a quinta maior corretora independente do Brasil", diz Mattei. Portella complementa. "A Monte Bravo passa a ser um player de mercado institucional e vai ter mais controle sobre a experiência do cliente". Além disso, obviamente, aumenta a receita da companhia.
O que acontece atualmente é que a experiência dos clientes, a jornada, é calcada nos aplicativos da XP. Ao ter a sua corretora, a Monte Bravo terá os clientes nas mãos e a chance de criar um trajeto próprio - até mesmo com mais produtos que não são ofertados na plataforma da XP. "A relação agora se inverte. Nós contratamos a XP para ser um backoffice as a service e todo o resto passa a ser nosso", diz Mattei.
Indagado se nesse processo a Monte Bravo poderá perder clientes para a própria XP, Pier é enfático. "O fato que faz o cliente estar conosco é o atendimento que prestamos para ele. O cliente vem para a Monte Bravo não é por causa da XP. Na verdade é o oposto, o cliente está na XP e vem para cá porque busca o nosso atendimento." Portella complementa dizendo que a custódia continuará na XP.
Um novo tempo
Ao virar corretora, a Monte Bravo vai intensificar o seu trabalho em outras áreas também. A sua gestora, a Kilima Asset, com R$ 2 bilhões sob gestão, tem feito estruturações de CRIs e CRAs."Vamos botar na rua cerca de 6 operações de crédito estruturado", diz Portella. No futuro, a ideia é criar um segmento de Investment Banking. Já a área de wealth management, com outros R$ 2 bilhões, deve passar por mudanças.
Com 500 funcionários, o crescimento da Monte Bravo chama a atenção no mercado. Em junho de 2021, a companhia tinha R$ 18 bilhões sob assessoria, hoje são R$ 32 bilhões. "Não captamos menos de R$ 600 milhões líquidos por mês e, em alguns meses, chega a R$ 1 bilhão", diz Portella. "Conseguimos atrair pessoas muito boas para o time de wealth management."
Entre os profissionais que chegaram para fazer gestão de patrimônio estão Ricardo Lopes, ex-head de produtos e serviços do Santander; Eduardo Oliveira, ex-CEO do UBS Wealth Management no Brasil; e Gustavo Jesus, ex-J.P. Morgan e Aqua Wealth Management. "Antes não conseguíamos clientes com mais de R$ 10 milhões. Hoje, temos clientes com R$ 700 milhões", afirma Portella.
De acordo com Mattei, chegou uma nova era no mercado de investimentos. Até 2009, diz ele, os bancos eram os donos do campinho no mercado financeiro. Em 2010, começou a era das plataformas abertas com a XP como expoente e depois vieram outras. "Até 2022, quem era banco virou plataforma e quem era plataforma virou banco. A vida do investidor ficou melhor porque acessa uma infinidade de produtos, mas ficou muito confuso para ele. Ele está perdido, não sabe o que fazer", diz Mattei.
Agora, os cofundadores da Monte Bravo, com 30 mil clientes, dizem que é o terceiro momento do mercado, batizado de a "era da assessoria". "Tem que estar no apoio e acompanhando o investidor. Plataforma aberta e produtos não resolvem mais a vida dele", diz Mattei. No total, a Monte Bravo conta com 250 assessores. "Esse jogo não será vencido por quem tem mais assessores, será ganho por quem tiver mais qualidade", afirma Portella.
A Monte Bravo não é o único escritório de agentes autônomos a buscar um "lugar ao Sol" nesse mercado de corretoras. A EQI Investimentos, antigo escritório conectado à XP, deixou a empresa de Guilherme Benchimol e se conectou ao BTG em 2021. Desde então, recebeu autorização do BC para constituir corretora, vem crescendo na captação, montando outras áreas como gestora e estruturação de M&As.