A VTEX faz parte de uma onda de startups que surgiram com o boom da internet. Sua tese é simples: oferecer soluções para facilitar a vida das empresas que querem vender produtos e serviços no mundo online. Foi assim que a companhia, que nasceu em meados dos anos 2000, ganhou terreno para alavancar seu negócio a ponto de abrir capital na bolsa de valores de Nova York, em 2021.
Nos últimos meses, no entanto, a empresa vem intensificando esforços para diversificar sua operação para além do comércio eletrônico.
“A VTEX cresceu como uma solução de e-commerce, mas não é mais isso”, diz Rafael Forte, presidente da VTEX Brasil, em entrevista ao NeoFeed. “É uma solução de digital commerce que já está presente em várias camadas do varejo e da indústria.”
No movimento mais recente nesse sentido, a VTEX vem testando novos recursos para o InStore, uma solução lançada ainda em 2016 para conectar as lojas físicas com o e-commerce. O objetivo agora é ampliar essa conexão.
“Queremos possibilitar que, além da prateleira infinita do e-commerce, o vendedor tenha acesso aos produtos da própria loja física que trabalha ou de outras unidades por meio de um device simples", diz Forte.
Essa é uma evolução da ferramenta lançada pela companhia fundada por Mariano Gomide e Geraldo Thomaz e que já está em uso em clientes como C&A e Decathlon. Na varejista de artigos esportivos, InStore foi incorporado em 2021 e responsável por 25 mil pedidos, o que resultou em um aumento de 5% nas vendas realizadas nas lojas físicas naquele ano.
Por ora, a evolução nesta frente segue com os detalhes guardados em segredo pela companhia. Conforme apurado pelo NeoFeed, um programa piloto com os aperfeiçoamentos no InStore está sendo realizado junto a uma marca de produtos de luxo – o que foi confirmado pela VTEX, mas sem revelar nomes. A previsão é de que os primeiros resultados desta parceria sejam revelados ainda no mês de abril.
Do digital para o físico
Atacar o varejo físico faz sentido. Ainda que o e-commerce esteja crescendo, a maior parte da receita do varejo ainda vem de fora da internet. De acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), o e-commerce registrou um faturamento de R$ 169,6 bilhões no ano passado. O montante representa uma fatia pouco superior a 10% das vendas totais do varejo.
“São soluções que ampliam os canais de venda para os clientes e onde o comprador tem a assistência de vendedores, sejam aqueles que estão em lojas físicas ou mesmo aqueles que vão de porta em porta”, diz Forte. “Se a penetração do digital no varejo está entre 8% e 12%, o resto ainda passa pelo mundo físico.”
Ainda que não possa revelar expectativas de crescimento ou número de investimento nesta frente, a VTEX coloca alguns ovos dentro da cesta do varejo físico para apoiar uma guinada de seu negócio rumo ao breakeven. Em seu último balanço, a companhia reportou prejuízo líquido de US$ 323 mil no quarto trimestre. No mesmo período de 2021, as perdas foram de US$ 10,6 milhões.
A receita total do período ficou em US$ 45,4 milhões, um aumento de 22,5% ante os US$ 37,1 milhões registrados pela companhia entre outubro e dezembro do ano anterior. Já o caixa e equivalentes caiu de US$ 121 milhões para US$ 24,3 milhões em doze meses. E o número de clientes saiu de 2,4 mil para 2,6 mil, enquanto que o total de lojas aumentou 6%, para 3,4 mil.
Em relação ao endividamento, conforme consta no balanço da companhia no último trimestre, a dívida ao fim do período ficou em US$ 82,9 milhões. É uma ligeira redução frente aos US$ 87,7 milhões registrados um ano antes. Do montante devido ao fim do 2022, uma fatia de US$ 62 milhões corresponde a dívidas de curto prazo (current liabilities) e US$ 20,9 milhões são dívidas de longo prazo (non current liabilities).
Na bolsa de valores, a situação da VTEX é mais delicada. Depois de abrir capital em julho de 2021, a companhia chegou a ver suas ações subirem mais de 20%, o que fez com que o valor de mercado do negócio superasse US$ 5,4 bilhões. Desde então, o valuation da empresa despencou mais de 87%. No fim do pregão de quarta-feira, 5 de abril, o valor de mercado era pouco superior a US$ 662 milhões.
“A VTEX foi uma das primeiras empresas a reagir a este novo cenário macroeconômico, que o foco não é mais crescimento, mas rentabilidade”, diz Forte ao comentar os resultados do último trimestre. “Houve ganho de eficiência e o crescimento continua. Mas o importante é que conseguimos não apenas melhorar nossos números, mas os nossos clientes também estão crescendo acima da média do mercado.”