Em julho do ano passado, quando comprou a licença bancária do Andbank por R$ 500 milhões e fez uma extensão de rodada de US$ 50 milhões, o CEO e fundador da Creditas, Sergio Furio, começou a desenhar um caminho para levar a fintech ao equilíbrio financeiro em 2023.
Ao divulgar os resultados de seu primeiro trimestre de 2023, a Creditas deu mais um passo para tentar cumprir essa promessa. A fintech especializada em empréstimos com garantia fechou os três primeiros meses deste ano com um prejuízo de R$ 129,5 milhões, uma queda de 60,4% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita, por sua vez, cresceu 42,3%, para R$ 550 milhões.
O balanço do primeiro trimestre da Creditas mostrou também uma empresa que cresce em ritmo mais lento, mas com margens mais saudáveis. “Ao crescer mais devagar, você tira a pressão sobre o custo de aquisição por clientes”, diz Sergio Furio, fundador e CEO da Creditas, ao NeoFeed. “Isso leva a despesa para baixo.”
Para efeito de comparação, a receita de R$ 387 milhões da Creditas no primeiro trimestre de 2022 havia sido 275% maior do que a obtida pela startup um ano antes. O prejuízo naquele mesmo trimestre do ano passado, contudo, havia sido de R$ 327 milhões.
A diferença entre os números de 2022 e 2023 está relacionada também com o cenário macroeconômico. “O último ano foi duro porque a alta da taxa Selic elevou o custo de funding e comprimiu as margens”, diz Furio. “Isso leva tempo para ser precificado novamente.”
Com um breque no aumento da taxa básica de juros nos últimos meses – a última alta foi em agosto de 2022, quando a alíquota chegou em 13,75% –, a Creditas conseguiu montar uma nova carteira com preços maiores. De acordo com Furio, a fintech não precisa que a Selic abaixe para ampliar as margens, apenas que fique estável.
Para o executivo, o número que talvez melhor mostre o impacto das decisões do Copom na operação da Creditas é o aumento no lucro bruto, índice calculado com a diferença entre o faturado sem levar em conta os juros pagos e o custo do crédito.
No primeiro trimestre, o lucro bruto passou de R$ 45,1 milhões para R$ 118,9 milhões em 12 meses. “Quando as taxas de juros se estabilizam, rapidamente começamos a aumentar o lucro bruto”, diz o empreendedor.
Ao mesmo tempo, a Creditas também repensou seu negócio em termos de custos. Para atingir um lucro bruto maior, a fintech diminuiu parte dos custos do negócio, principalmente investimentos para aquisição de clientes, para R$ 248 milhões, uma queda de 33% no trimestre.
Em outro dado, a Creditas informou que seu portfólio de ativos sob gestão aumentou 36%, passando de R$ 4,43 bilhões para R$ 6,03 bilhões no período no último ano.
Além de reduzir custos, a Creditas também informou em seu balanço que passou a ver os resultados da migração de seu modelo de negócios de sua frente de automóveis.
Neste sentido, a empresa apostou em um modelo asset light em que está focada em reduzir o estoque e focar nas transações de compra de carros entre pessoas físicas.
Desde que foi fundada, em 2012, a Creditas já captou mais de US$ 1 bilhão em aportes junto a investidores como SoftBank, Lightrock, Kaszek, Redpoint eventures, QED Investors, entre outros.
Na última rodada, em julho de 2022, conseguiu manter a avaliação de US$ 4,8 bilhões. Mas alguns dos investidores, diante do cenário mais conservador do mercado de venture capital e de valuations inflados, começaram a remarcar o preço.
No caso da Creditas, o Kaszek já teria feito reavaliado a Creditas em US$ 3,5 bilhões. A Redpoint eventures foi mais radical e teria reprecificado a fintech em US$ 2 bilhões. Os dois dados foram publicados pelo site Pipeline.
Para Furio, o ajuste no valuation da Creditas foi reflexo do setor. “Todos os investidores ajustaram o valor interno de todas as empresas”, afirma. “O valor de mercado da Creditas estava de acordo com as condições de mercado do momento do aporte, nem alto e nem baixo.”
E o IPO?
Enquanto ainda captava investimentos no mercado privado, a Creditas chegou a conversar com bancos de investimento para sondar o mercado para um IPO.
Mas o mercado virou e isso está fora dos planos no momento. “Esse é um ano de preparação e no qual estamos vendo o que o mercado de capitais está querendo”, diz Furio. “Tenho a sensação de que o janela de IPOs vai abrir logo, ainda neste ano. Mas vamos ser conservadores sobre quando iremos entrar.”
De acordo com Furio, é preciso aumentar o ritmo de crescimento da companhia – atualmente na faixa de 40% –, mas fazendo isso de uma forma que o negócio se torne rentável. Atualmente, o foco está neste segundo ponto.
Antes disso, porém, é possível que a empresa volte ao mercado privado em busca de uma nova captação. “Me parece algo razoável. Não descartaria trazer um novo sócio”, diz Furio.
Novo mantra
A Creditas não é a única empresa que busca atingir o equilíbrio econômico neste ano. Com a virada do mercado de venture capital, crescer a qualquer custo deixou de ser uma fórmula mágica para atrair investimentos.
O novo mantra se tornou atingir o equilíbrio financeiro, mesmo que o custo seja reduzir o crescimento - como é o caso da Creditas.
O PicPay, por exemplo, apresentou o primeiro lucro de sua história no quarto trimestre de 2022: R$ 20 milhões. E o CEO, Eduardo Chedid, disse ao NeoFeed, na ocasião, que “não vamos voltar a queimar caixa.”
A Omie, que captou R$ 580 milhões em agosto de 2021, está também na busca de atingir o equilíbrio financeiro até meados deste ano.
"Estamos diminuindo a quantidade de frentes que estamos trabalhando e escolhendo melhor as batalhas”, disse Marcelo Lombardo, fundador e CEO da Omie, em entrevista ao NeoFeed.