A Petrobras fechou o primeiro trimestre com resultados que agradaram analistas e investidores, ao mesmo tempo em que deixou um sabor amargo na boca do mercado, considerando a falta de visibilidade do que o futuro promete para a companhia.
No lado das notícias positivas, a companhia registrou um lucro líquido de R$ 38,1 bilhões. De acordo com dados do TradeMap, foi o segundo maior lucro da história entre empresas de capital aberto para os primeiros três meses do ano.
Ao mesmo tempo, ela aprovou o pagamento de R$ 1,89 por ação aos acionistas, montante em linha com a atual política de dividendos, representando um dividend yield de 7,4%, patamar considerado alto por analistas que acompanham a empresa.
Se os resultados passados foram comemorados, as perspectivas futuras geram preocupação. Muitos esperavam ter algum tipo de sinalização quanto às mudanças que a nova gestão planeja implementar na teleconferência de resultados, ocorrida nesta sexta-feira, 12 maio. Mas o que se viu foi uma continuidade da nuvem de incerteza que paira sobre a empresa.
Sem contar com a participação do CEO Jean Paul Prates, que fez um breve discurso via vídeo, analistas e investidores ficaram sem muitas pistas dos diretores sobre dois pontos considerados essenciais: o futuro da política de dividendos e a política de preços da companhia.
No caso dos dividendos, a Petrobras informou, junto com os resultados, que a diretoria vai elaborar uma nova proposta de política de remuneração, que será submetida ao conselho de administração antes do fim de julho.
Questionado a respeito do tema, o diretor financeiro e de relações com investidores, Sergio Leite, foi sucinto, dizendo que há poucos detalhes, não querendo nem revelar se o plano envolve que os pagamentos sejam feitos trimestralmente ou anualmente.
“Neste momento, estamos no início do processo de análise”, afirmou. “Não temos um direcionamento claro a respeito da periodicidade do pagamento.”
A companhia já vinha sinalizando mudanças nesta frente, depois que membros e pessoas ligadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva externaram críticas aos montantes pagos pela Petrobras aos acionistas.
Na teleconferência de resultados do quarto trimestre, a primeira de Prates como CEO da empresa, ele afirmou que poderia ocorrer uma mudança de postura sobre o tema. “Tenho dúvidas se tem que ter regras rígidas de distribuição de dividendos. As circunstâncias mudam, os projetos mudam”, afirmou.
Política de preços
Outro ponto que a teleconferência não respondeu foi a respeito da política de preços dos combustíveis, que também já sofreu com diversas críticas de Lula e integrantes do PT. Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira, Prates disse que deve anunciar em breve a nova estratégia de precificação de combustíveis.
Destacando que a companhia está prestes a divulgar a “estratégia comercial da Petrobras quanto a preços” e que ela “não é política de governo”, Prates disse que ela deve levar em conta a relação a melhor opção para o cliente, em que o preço será “inexoravelmente mais baixo” daquele estabelecido via a política de Preço de Paridade Internacional (PPI), em vigor desde 2016.
Na teleconferência, o diretor executivo de logística, comercialização e mercados, Claudio Schlosser, voltou a ressaltar o termo “estratégia comercial” em vez de de política de preços, destacando que o segundo é “algo de país”, e afirmou que a Petrobras vai buscar ser competitiva no Brasil, sem afetar as finanças da companhia.
“Vamos fazer isso de forma racional”, afirmou Schlosser. “O parâmetro principal é a preservação de geração de recursos, para a companhia fazer frente aos investimentos planejados.”
Outro ponto abordado foi a política de desinvestimentos de ativos, utilizada pelas administrações passadas para reduzir a alavancagem financeira da Petrobras e focar sua atuação em atividades de exploração e produção de petróleo em alto mar.
Segundo o diretor financeiro, projetos que já foram assinados e que estão em fase de fechamento de contratos, serão honrados pela companhia. Neste sentido, a companhia concluiu a venda dos Campos de Albacora Leste, no Rio de Janeiro, e de campos terrestres no Espírito Santo.
No caso de processos em que não houve contratos assinados, Leite disse que a Petrobras está reavaliando os processos.
A Petrobras fechou o primeiro trimestre de 2023 com uma receita de R$ 139 bilhões, uma queda de 2% na comparação com o mesmo período do ano passado. O Ebitda ajustado recuou 6,7%, a R$ 72,5 bilhões.
O fluxo de caixa operacional avançou 1,8%, a R$ 53,7 bilhões, enquanto a alavancagem financeira saiu de 0,63 vez, registrado no quarto trimestre, para 0,58 vez nos primeiros três meses do ano.
Por volta das 13h27, as ações preferenciais da Petrobras subiam 3,78%, a R$ 26,39. No ano, os papéis acumulam alta de 21%, levando o valor de mercado a R$ 366,7 bilhões.