Depois de anos turbulentos, com direito a brigas societárias, uma tentativa frustrada de fusão com a Inbrands e sendo obrigada a pedir recuperação extrajudicial, a Veste (ex-Restoque) ganhou um respiro na segunda metade de 2022 para sair do buraco que se meteu.
A companhia conseguiu acertar sua estrutura de capital em outubro, com a conversão de R$ 1,6 bilhão de dívida em ações. Houve, também, uma capitalização dos acionistas, ocorrida em dezembro, de R$ 100 milhões. O mercado está agora de olho nos resultados do plano de turnaround que a dona das marcas Le Lis, Dudalina e John John vem implementando desde 2019.
O caminho não é simples, considerando tudo o que a companhia já passou e a expectativa ruim para a economia em 2023. Mas Marcelo Lima, presidente do conselho de administração da Veste, se mostra otimista. Ele acredita que os recentes resultados colocam a companhia no caminho para cumprir o objetivo de chegar em 2025 faturando 50% a mais, dobrando seu Ebitda, de forma orgânica.
“Acho que a questão da reestruturação ficou lá atrás”, diz ele ao NeoFeed. “Agora, é fazer a gestão do dia a dia, melhorando todos os nossos indicadores.”
Segundo Lima, a empresa vem conseguindo colher os frutos da estratégia traçada há três anos, que pressupõe controlar estoques e melhor aproveitamento das coleções, visando aumentar as vendas de produtos a preços cheios e reduzir a participação dos outlets e das liquidações no total das vendas.
Lima diz que os efeitos dessa estratégia ficaram evidentes no primeiro trimestre, usualmente mais promocional, por conta da liquidação das coleções de verão em janeiro. No canal B2C, considerando o canal digital e as lojas físicas, as vendas a preço cheio representaram 69% do faturamento total, acima dos 61% registrados no primeiro trimestre de 2022.
“Neste trimestre tivemos a menor venda proporcional, em muitos anos, de produtos em liquidação”, afirma o chairman. “Estamos focando nisso, numa estratégia de crescimento com qualidade, não fazendo promoções, olhando o longo prazo.”
O presidente do conselho de administração da Veste diz que a estratégia de buscar vendas a preços cheios segue em frente, mesmo com a perspectiva de desaceleração da economia nos próximos trimestres. A expectativa é de que as marcas da companhia não sofram as mesmas consequências esperadas para o varejo em geral, considerando que o público da Veste tem uma renda maior, sendo mais resiliente às turbulências econômicas.
“Esperamos que as vendas ‘mesmas lojas’ permaneçam positivas, mas talvez com números um pouco menores aos 18,1% obtidos no primeiro trimestre”, afirma. “Mas não vamos buscar atalhos para obter resultados no curto prazo.”
Além de controle firme para não precisar oferecer descontos, a Veste pretende continuar ajustando sua base de lojas. Ela fechou o primeiro trimestre com um total de 182 unidades próprias, redução de 12,1% em base anual.
Deste total, a companhia tem planos de renovar pouco mais de 50 unidades neste ano, seja mudando o conceito visual ou reduzindo o metro quadrado de algumas lojas, visando reduzir os custos de ocupação e melhorar a experiência do cliente. A abertura de lojas, por sua vez, deve ser bem limitada.
O resultado da Veste
A expectativa da Veste é de que esses avanços coloquem o histórico de dificuldades no passado. A companhia ganhou uma segunda chance após a gestora focada em crédito e special situations WNT Capital, cujo maior investidor é o Banco Master, bancar a conversão da dívida e a capitalização. Em troca, a gestora se tornou a maior acionista da empresa, tendo 40,4% do capital social.
As operações permitiram uma redução significativa da alavancagem financeira, que chegou perto de 10 vezes. No primeiro trimestre, a dívida da Veste somou R$ 86,3 milhões, bem abaixo do R$ 1,6 bilhão do mesmo período de 2022, com alavancagem chegando a 0,4 vez.
Segundo Lima, a dívida da Veste possui agora vencimento final em oito anos, sendo que a companhia tem carência de três para o pagamento do principal e dos juros.
A companhia fechou o primeiro trimestre com lucro líquido de R$ 6,5 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 59 milhões do mesmo período de 2022. A receita líquida subiu 14%, para R$ 265,1 milhões, enquanto o Ebitda avançou 61,4%, para R$ 47,7 milhões.
As ações fecharam o pregão desta sexta-feira, dia 12 de maio, com queda de 0,31%, para R$ 15,94. No ano, elas acumulam queda de 4%, levando valor de mercado a R$ 1,8 bilhão.