Nos últimos cinco anos, a Selfit tentou colocar em prática um plano de expansão de sua rede de academias que nasceu no Nordeste. O objetivo era ganhar espaço em novos mercados e competir com gigantes como Smart Fit, Bodytech e Bluefit, além de academias de bairro. A expectativa era de que o negócio superasse suas rivais já no ano passado.
Mas o plano não avançou como o esperado. Com receita líquida de R$ 149,1 milhões no ano passado, a companhia ainda está distante de suas rivais no mercado fitness. A Smart Fit, por exemplo, faturou quase sete vezes mais somente no primeiro trimestre deste ano. Bodytech e Bluefit não divulgam dados financeiros.
A Selfit, então, decidiu reformular sua estratégia de expansão. Sob o comando do empresário Fernando Menezes, que assumiu o cargo de CEO em 2021 após suceder o fundador Leonardo Pereira, a companhia voltou a olhar para seu próprio quintal em uma tentativa de recuperar clientes após o baque da pandemia e acelerar seu crescimento.
“Continuamos olhando o Brasil como um todo porque entendemos que há um mercado subpenetrado e com oportunidades em todos os locais”, diz Menezes, em entrevista ao NeoFeed. “Mas o Nordeste é o nosso quintal e a prioridade. É onde a gente conhece melhor o mercado."
No ano passado, a companhia abriu oito novas unidades de suas academias na região. Com isso, a Selfit agora conta com 75 unidades em funcionamento (51 no Nordeste, 16 no Sudeste, 6 no Norte e 2 no Centro-Oeste). E o plano é abrir mais 25 lojas até o fim de 2023, quase todas no Nordeste.
A meta de chegar em 100 unidades neste ano passou também por uma revisão. Antes, o plano era terminar 2023 com cerca de 130 academias em funcionamento. Segundo Menezes, uma desaceleração do crescimento no ano passado por conta dos impactos da variante ômicron do coronavírus adiou o crescimento para os próximos anos.
Ao concentrar esforços no seu "quintal" ou em regiões periféricas de capitais metropolitanas, a Selfit prepara um plano para se distanciar da competição com gigantes que têm atuação mais forte nos grandes centros. “Todo mundo quer o ‘filet mignon’, que são as classes A e B”, diz Menezes. “Queremos ser a academia para todos.”
Mas ao mesmo tempo em que faz isso, a companhia também tira os olhos do Sudeste e do Sul, onde planejava ter mais academias. Somente o estado de São Paulo está incluso nos planos de abertura de novas unidades da empresa para 2023.
Além do coronavírus, Mendez cita uma mudança no modus operandi da companhia como um dos fatores para o crescimento ser reavaliado. “Resolvemos empurrar um pouco o crescimento para consolidar nos últimos meses uma nova frente do negócio, que é a abertura de unidades franqueadas”, afirma ele.
Esta frente é focada em abrir unidades em regiões pouco exploradas, como uma em Serra Talhada, município pernambucano com cerca de 90 mil habitantes e que fica a mais de 400 km distante de Recife. Outras nove unidades franqueadas foram abertas no ano passado e a expectativa é de que mais 15 sejam inauguradas neste ano.
De acordo com Menezes, as unidades franqueadas possuem as mesmas características das que são montadas pela própria companhia em relação aos equipamentos e a infraestrutura. Cada estabelecimento mede cerca de 1 mil m².
Para abrir uma unidade é preciso investir R$ 3 milhões e o retorno do investimento acontece em até 36 meses. O valor é menor do que o investimento de uma unidade da Smart Fit, na qual o cheque inicial fica em R$ 3,8 milhões e o payback acontece em um período entre 24 meses e 36 meses.
Com as franquias, a Selfit consegue expandir sua operação sem queimar caixa, fator que ajudou a empresa a diminuir seu prejuízo no último ano. Em relação a abertura de unidades próprias, a empresa adotou processos de otimização de custos e digitalização para reduzir o custo de R$ 5 milhões para R$ 3,5 milhões.
A Selfit está tentando retomar um crescimento mais saudável de seu negócio. A clientela, por exemplo, aumentou 33% no ano passado, quando chegou a 150 mil alunos matriculados em suas academias. As mensalidades começam em R$ 99, mas o preço de alguns planos pode variar de acordo com a região.
Em relação aos dados financeiros, a companhia viu o prejuízo do exercício de 2022 somar R$ 33,3 milhões contra perdas de R$ 69,3 milhões em 2021. A queda ajudou a diminuir a dívida líquida em 14% para R$ 83 milhões. Já o caixa aumentou quase 60% para R$ 44,8 milhões.
Os números ainda estão bem distantes da Smart Fit, líder do setor na América Latina com 1,2 mil academias e mais de 3,9 milhões de alunos. Somente no primeiro trimestre deste ano, a companhia teve lucro líquido de R$ 105 milhões – revertendo um prejuízo de R$ 75 milhões registrado um ano antes – e está avaliada em R$ 10,1 bilhões.
A Selfit tem como sócio majoritário o grupo americano de private equity H.I.G. Capital. No Brasil, a firma que tem mais de US$ 52 bilhões em ativos sob gestão e já investiu em negócios como Nadir Figueiredo (de artigos para casa), Bigsal (de nutrição animal), Grupo NZN (de comunicação), entre outras companhias.
No fim de 2021, a Selfit enviou à CVM um pedido para que a empresa pudesse iniciar seu processo de abertura de capital e ser listada na bolsa de valores. Com a mudança de ventos no mercado, no entanto, a companhia adiou os planos para o IPO. Agora, não há previsão de quando isso irá acontecer.