O ano mal havia começado e a brasileira Smart Fit, o terceiro maior grupo de academias do mundo, anunciava, no dia 2 de janeiro, a aquisição da parte de seus sócios na Sporty, uma rede de 28 academias no Panamá e Costa Rica, por US$ 59,3 milhões. O negócio era mais uma etapa em seus ambiciosos planos. "Temos espaço para dobrar de tamanho na América Latina", diz Edgard Corona, fundador e CEO da Smart Fit, ao NeoFeed.

Para alcançar essa meta, o grupo, avaliado em R$ 9,3 bilhões na B3, segue acelerando seu plano de expansão. Corona revelou com exclusividade ao NeoFeed que, recentemente, finalizou a compra da rede mexicana de academias Califórnia, localizada em Cancún, no México, por US$ 4 milhões; se prepara para entrar no Uruguai; e nesta quarta-feira, 1 de fevereiro, dará o pontapé inicial a um plano para fincar a bandeira do grupo na Europa.

A companhia vai abrir a sua primeira unidade no Velho Continente, mais precisamente em Lisboa, em parceria com um operador local no formato de franquia. "Vamos testar o mercado e, se der certo, compramos depois a parte dele", diz Corona. Além de Portugal, há conversas em andamento para inaugurar unidades na Espanha. Mas nenhuma delas das marcas Smart Fit ou Bio Ritmo.

O plano é invadir a região com os studios, que começaram a ser franqueados pela Smart Fit em 2021, mas que começou a ganhar força no ano passado. Os studios são unidades de 250 a 300 metros quadrados para públicos específicos. Hoje, são 12 unidades e, segundo Corona, a companhia já tem mais 27 contratos de abertura assinados.

"Só na América Latina podemos chegar a 600", diz o empresário. Ele explica que não concorre com Smart Fit ou Bio Ritmo. "É um público novo que se exercita, mas não gosta de academia”, diz. Os studios são divididos entre o Vidya, para ioga em uma sala com temperatura de 40 °C; o Race Bootcamp, com aula intervalada de esteira e exercícios de solo; o Jab House, que é de boxe; e o Tonus Gym, focado na tonificação muscular.

A estratégia pode se mostrar vantajosa, sobretudo, porque os tíquetes de um aluno do studio são mais altos. Enquanto uma academia Smart Fit tem, em média, 1 mil metros quadrados e cobra uma mensalidade entre R$ 100 e R$ 110, os studios são menores e têm mensalidades que variam entre R$ 350 e R$ 490.

Os studios como o Vidya (foto) são uma grande aposta da Smart Fit

O grande player nesse segmento e que serve de inspiração para a Smart Fit é a americana Xponential Fitness, que tem ações negociadas na Nasdaq e é avaliada em US$ 1,3 bilhão. Ela conta com 2.485 studios e cresce a uma alta velocidade por meio de franquias. Só no ano passado, por exemplo, abriu 511 unidades ao redor do mundo. O grupo Smart Fit pretende fazer o mesmo em outros países.

A presença internacional da Smart Fit não é nova, a rede começou a sua internacionalização em dezembro de 2011, mas o apetite é crescente. Primeiro porque não fica dependente de um único mercado. E segundo porque consegue direcionar os investimentos para as regiões que crescem mais e performam melhor.

Atualmente, o grupo conta com 1.157 unidades, de acordo com o balanço do terceiro trimestre do ano passado. Deste total, 536 estão no exterior. Dos 3,7 milhões de clientes, 1,6 milhão estão nos 13 países em que a companhia atua: Colômbia, Chile, Peru, Panamá, Costa Rica, Argentina, Paraguai, El Salvador, Equador, Guatemala, República Dominicana, México e Honduras.

No ano passado, segundo Corona, dos R$ 800 milhões investidos pela companhia, dois terços foram direcionados para o exterior. Isso se deve, principalmente, ao tempo de recuperação de cada mercado. "Colômbia, Chile e Peru se recuperaram muito forte, 115% em relação a pandemia", diz Corona. O Brasil pode chegar a uma recuperação de 100% até o fim do ano.

Em 2023, o grupo manterá o foco maior na abertura em outros países. "Acredito que 60% do investimento será no exterior e o restante no Brasil", diz Corona. Para definir a alocação do investimento, o empresário tem feito um périplo por suas unidades em várias regiões. "Visitei umas 200 no ano passado."

No norte do México, na região de maquiladoras como Monterrey, entre outras, ele diz que o lugar vive pleno emprego e quase não há espaços para locação. “Com a crise de produção na China, muito foi transferido para lá”. A região de Quintana Roo, onde fica Cancún, também vive uma efervescência.

“Cancún tem 100 mil quartos em operação e estão sendo construído outros 30 mil quartos para os próximos dois anos”, diz Corona. É nesses lugares que ele está mirando. A rede Califórnia, adquirida recentemente, conta com quatro unidades de 2 mil metros quadrados cada nessa região. “O México passa a ser a nossa principal aposta. Hoje temos 230 unidades lá e vamos chegar a 450 nos próximos três anos.”

Em seguida, Corona vai listando a presença no exterior. "Na Costa Rica, são 17 unidades. Você vai lá em San Jose e só tem a gente. Na Colômbia, temos cerca de 450 mil alunos. No México, são 750 mil alunos. No Chile, 180 mil. A expansão é meio um jogo de War, não pode sair espalhando o exército e desguarnecer a retaguarda. Ainda temos muito para crescer na América Latina. O nosso foco é olhar para 1% a 1,5% da população de cada país.”

Mesmo diante do avanço em várias regiões, o mercado tem cobrado um avanço mais acelerado e números prometidos quando a empresa fez o IPO, em julho de 2021, levantando R$ 2,3 bilhões. No ano passado, a empresa investiu muito em marketing esperando uma forte retomada do setor. Mas a onda de gripe H3N2 chegou forte e retardou a retomada no Brasil. “Ninguém se matrícula em abril, maio e junho.”

A companhia acabou fechando 15 unidades, segundo Corona muito por conta de academias que estavam em lojas do Pão de Açúcar e viraram Assaí. Em contrapartida, foram abertas 158.

"O mercado deveria aplaudir a gente. Tínhamos falado que íamos abrir entre 190 e 200 lojas em novembro de 2021. Entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, tivemos juro indo para 14%, uma guerra na Ucrânia, aumento de custo de energia, inflação para tudo quanto é lado", diz Corona. "Se eu tivesse feito 190 lojas, os caras iam achar que a gente mora em Marte. É melhor segurar a expansão, preservando caixa e fazendo os investimentos corretos."

Aos poucos, a companhia vai voltando a normalidade. Entre o terceiro trimestre de 2021 e o terceiro trimestre de 2022, adicionou 1,5 milhão de clientes. A margem ebitda saiu de 0,8% para 22,7%. As receitas de R$ 1,16 bilhão, nos primeiros nove meses de 2021, saltaram para R$ 2,07 bilhões no mesmo período de 2022.

Segundo um relatório do Santander assinado pelos analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, "o maior desafio da Smart Fit é recuperar as métricas operacionais pré-pandemia no Brasil, pois, além do habitual alto nível de rotatividade de membros, a empresa pode enfrentar uma economia deteriorada e uma competição mais acirrada do que no passado."

Para 2023, os analistas acreditam que receita líquida deverá crescer 33% e a margem ebitda chegará em 27,3%. Nos últimos 12 meses, os papéis da companhia recuaram de R$ 17,30 para R$ 15,87, numa desvalorização de 8,2%. Desde o seu IPO, em julho de 2021, as ações caíram 50,7%.