O plástico é o vilão do momento. E não sem razão. O uso descontrolado de um material que se tornou bom e barato faz com que tenhamos um problema de 6,3 bilhões de toneladas de plásticos que jamais foram reciclados desde que essa festa começou em 1950. E cerca de 9 milhões de toneladas vão parar anualmente nos oceanos, formando ilhas de resíduos e matando a vida marinha.
Somos todos responsáveis por essa tragédia socioambiental porque aderimos a um estilo de vida pautado pela alta conveniência, que alicerçou comportamentos como o “use e jogue fora”. Assim, 40% do plástico que consumimos é chamado de “Uso Único”, aquele dos copinhos, garrafas pet, canudinhos, sacolas, filmes e demais descartáveis.
O problema já era bem conhecido dos cientistas e ambientalistas, mas conquistou finalmente a atenção dos consumidores quando a National Geographic lançou a campanha e a edição de sua revista intitulada “Plástico ou Planeta?”, em junho do ano passado. Com sua capacidade de unir ciência, ativismo e boa comunicação, a National Geographic chamou a atenção do mundo.
Neste último ano, nosso comportamento pendular entrou em ação, cidades e países baniram sacolas plásticas e canudinhos, consumidores questionaram produtos feitos de plástico e fabricantes de embalagens e de outros produtos que utilizam plástico viram-se ameaçados de uma hora para a outra.
A histeria em torno do plástico tem um pouco de tudo: boa intenção, ingenuidade, desinformação, oportunismo e despreparo. Afinal, o plástico é um material muito bom por conta de suas características de peso, resistência, durabilidade, limpeza e reciclabilidade. Está presente em muitos bens de uso contínuo e longa vida útil, como carros, aviões, computadores, utensílios domésticos, ferramentas etc.
A questão é o uso inadequado, distorcido ao longo dos anos pela fome de lucros de produtores da matéria-prima e de fabricantes, que induziram o consumo de descartáveis e produtos de baixa qualidade e durabilidade. Reduzir o uso desnecessário de plástico, como os itens de uso único, é parte importante da solução. Mas não é tudo.
Para todos as aplicações mais nobres do plástico, é imperativo que se pense na origem da matéria-prima a ser trabalhada e no destino do produto pós-consumo. O que antes era um pensamento linear (extrair a matéria-prima, produzir e descartar no lixo), hoje exige uma abordagem circular: como uso menos matéria-prima virgem, retorno mais material reciclado à produção e dou destino ao produto, ao final do seu consumo, para que justamente retorne a minha linha de produção ou a de outros fabricantes. Desta forma, o plástico bem usado recupera novamente a licença social que hoje está em xeque.
O uso descontrolado de um material que se tornou bom e barato faz com que tenhamos um problema de 6,3 bilhões de toneladas de plásticos que jamais foram reciclados desde que essa festa começou em 1950
Há ainda questões tecnológicas a trabalhar como a composição desses plásticos, preferencialmente com menos matéria-prima de origem fóssil e mais componentes de base biológica e renovável, o que abre espaço para muita inovação e estudo em torno do impacto das formulações.
O fato é que estamos diante da grande oportunidade de criar uma nova consciência sobre o uso responsável do plástico (e de outros materiais). E, assim, ampliarmos o pensamento circular na produção, eliminarmos o conceito de lixo em favor do entendimento de que, ao final do uso, tudo se torna resíduo passível de retornar ao ciclo produtivo.
* Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).