Metade da produção global de alimentos depende hoje da amônia. Gás incolor, de cheiro forte e desagradável, o composto é a base dos fertilizantes nitrogenados, essenciais para o desenvolvimento de lavouras robustas e saudáveis. Com o aumento da população e a demanda crescente por comida, a procura por amônia deve triplicar até 2050.
Há, no entanto, um problema. Desenvolvido no início do século 20, o sistema de Haber-Bosch para obtenção de amônia depende de gás natural, em especial metano. O processo requer condições extremas, como altas temperatura e pressão, e grandes unidades fabris, em geral, afastadas do mercado consumidor.
“O mundo vai precisar de mais amônia, mas não pode arcar com as emissões que acompanham sua produção”, já declarou Timur Gül, chefe da Divisão de Política de Tecnologia de Energia, da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Para cada molécula de amônia produzida ocorre a liberação de uma molécula de gás carbônico. O método, estima-se, é responsável por quase 2% das emissões globais de gases de efeito estufa –ou 450 milhões de toneladas de CO2, lançadas anualmente na atmosfera.
Com a colaboração do professor Rony Neumann, do Weizmann Institutte of Science, referência mundial nos estudos das ciências naturais e exatas, em Israel, as químicas Ophira Melamed e Meital Aron desenvolveram uma tecnologia inédita para obtenção de amônia, sem a necessidade de combustíveis fósseis.
Fundada por elas, em 2022, a Nitrofix acaba de receber um aporte de US$ 3,1 milhões, em uma rodada seed de investimentos, liderada pela Clean Energy Ventures, fundo de VC americano focado em inovações em energia limpa. Participaram do financiamento a SOSV, Zero Carbon, UM6P Ventures e High House Investments.
Produção modular, sem CO2
Ophira, CEO da empresa, e Meital, CTO, criaram um sistema de produção de amônia que usa água e ar, em vez de combustíveis fósseis, que reduz a quantidade de energia para a metade, em comparação ao sistema de Haber-Bosch.
Ao dispensar reatores e condensadores enormes, a plataforma de produção da amônia da Nitrofix pode ser modular e descentralizadas, com unidades fabricando de 100 a 100 mil toneladas, por ano.
“Das muitas empresas de amônia verde que avaliamos, a Nitrofix foi a única a interromper a abordagem Haber-Bosch de energia fóssil convencional e intensiva em carbono e criar um caminho econômico para descarbonizar a indústria global”, diz Daniel Goldman, cofundador da Clean Energy Ventures.
A amônia é utilizada uma série de indústrias – do produtos de higiene pessoal aos de limpeza; da farmacêutica ao transporte marítimo. Mas o principal uso está na agricultura. Cerca de 80% do consumo global do composto destina-se à produção de fertilizantes nitrogenados. O nitrogênio é fundamental para o desenvolvimento das plantas. Participa da biossíntese de proteínas e clorofila, sem os quais não crescem.
Futuro verde
Mas o nitrogênio é encontrado em pequenas quantidades em alguns tipos de solo, como o do Cerrado brasileiro. Em outras situações, a escassez decorre de processos como erosão e lixiviação, quando ocorre a perda de nutrientes, devido à entrada de água no subsolo.
Por isso, frequentemente as lavouras requerem adubação à base de nitrogênio. A monocultura extensiva, por exemplo, só foi possível mediante o aperfeiçoamento dos fertilizantes sintéticos. Graças a esses produtos, foi possível aumentar a produtividade das lavouras em aproximadamente 50%.
Em 2018, o mercado global de fertilizantes nitrogenados movimentou US$ 113,70 bilhões. Por causa da demanda crescente por alimentos, até 2028, o setor deve chegar a US$ 140,51 bilhões, a uma taxa de crescimento anual composta de 2,73%, segundo a consultoria Fortune Business Insights.
Isso tudo, porém tem um custo alto para o planeta. A amônia verde, como a proposta pela Nitrofix, permitirá aos agricultores aumentar o rendimento das colheitas, sem (ou com baixo) impacto ambiental.