O balanço da Ânima contagiou todo o setor de educação na bolsa de valores. Na segunda-feira, 14 de agosto, enquanto a Ânima recuou 19%, Yduqs e Ser Educacional vieram logo atrás, com quedas de 14,5% e 9,4%, respectivamente. Mas, depois do susto no pregão passado, a ação da Ser reagia na terça, 15, com alta de 8,8% às 14h. Os números da empresa comandada por Jânyo Diniz parecem ter agradado investidores e analistas.
A companhia sinalizou que deve seguir crescendo em cursos de medicina, principal aposta da empresa. Além disso, Diniz afirmou que o plano de otimização operacional, que começou a ser aplicado desde o final do ano passado, e uma melhora do cenário econômico, são indicativos de que a companhia siga registrando crescimento em suas margens operacionais.
“Com o plano, estamos no caminho certo para retomar a nossa alavancagem operacional”, afirmou o CEO da Ser em teleconferência com analistas e investidores. “Estamos no início do ciclo de aumento de margens.”
Na frente de ajustes, ele afirmou que boa parte dos resultados veio do reposicionamento de portfólio, com direcionamento da oferta de cursos ao ensino híbrido, medicina e engenharia. As medidas de ganho de sinergia também estão apresentando os primeiros resultados após a revisão do parque imobiliário, com renegociação de contratos de alugueis e devolução de prédios considerados não essenciais.
Associadas a um cenário mais favorável no mercado, as medidas fizeram a margem Ebitda ajustada subiu 2,2 pontos percentuais em base anual, para 23,9%, afirmou Diniz, e a expectativa é de que essas medidas comecem a ter efeitos integrais na segunda metade do ano. "Teremos novas ondas de geração de sinergias, executadas no terceiro e quarto trimestre, que por sua vez terão efeito contínuo em 2024”, disse Diniz
A Ser apresentou ainda crescimento de 1,3% da base de alunos e 7,8% do ticket médio dos cursos, com destaque para o ensino híbrido, que está “voltando a crescer de forma saudável”. “Pelo andamento do processo de captação [de alunos] de inverno, até o momento, devemos manter essa tendência até o final do ano”, afirmou Diniz.
Os analistas do Itaú BBA destacaram a questão do tíquete médio, por conta do aumento da participação dos cursos de medicina no mix total. Segundo eles, o resultado indica uma tendência positiva que, combinada com os ajustes, devem permitir um avanço da rentabilidade da Ser Educacional.
Sustos vindos de Brasília
Além do contágio provocado pelo balanço da Ânima, os papéis das empresas de educação aprofundaram a queda após informações de que Ministério da Educação (MEC) não sabia como cumprir uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs restrições à abertura de cursos de medicina.
A questão é sensível para a Ser, considerando a forte aposta da companhia no segmento de medicina, cujo curso tem ticket médio elevado, alta taxa de ocupação próxima e baixa evasão. A cadeira de medicina representa em torno de 76% do Ebitda da Ser, segundo cálculos da Ativa Investimentos.
Questionado sobre o tema STF e MEC, Diniz disse que a Ser tem decisões judiciais em relação à abertura de cursos de medicina que se enquadram na resolução do ministro Gilmar Mendes. “Algumas delas estão em estágio bastante avançado, dentro do que foi protegido pela decisão e podem possibilitar uma expansão das vagas de medicina”, afirmou.
Ele destacou que a companhia ainda não consegue dizer quantas dessas decisões estão vigentes, com a empresa ainda buscando entender os detalhes da decisão do STF.
Outro ponto levantado foram as as mudanças promovidas no percentual de recursos que as empresas que possuem alunos financiados pelo FIES precisam repassar ao fundo garantidor do programa (FG-FIES). A nova prevê o repasse a partir da inadimplência em cada empresa, algo que pode afetar o desempenho financeiro. Esse ponto foi um dos levantados como explicação para a queda das ações no pregão de ontem.
Segundo o CFO João Aguiar, a Ser faz uma “manutenção” semestral da base de alunos do FIES, retirando aqueles que não cumprem com as regras, não tendo visto nenhum “evento anormal”. Ele também destacou que a companhia fez provisão de perda para o FG-FIES desde que a nova regra foi anunciada.
A Ser Educacional fechou o segundo trimestre com um lucro líquido de R$ 31,4 milhões, revertendo prejuízo no mesmo período de 2022. A receita líquida subiu 9%, a R$ 506 milhões, e o Ebitda ajustado subiu 20,1%, para R$ 121 milhões.
A disponibilidade de caixa somou R$ 272,1 milhões, uma redução de 12,6% em relação ao registrado ao final do ano passado, enquanto a dívida líquida caiu 4,3%, para R$ 750 milhões.
No ano, a ação da Ser acumula alta de 36,7%, levando o valor de mercado a R$ 782,8 milhões.