O Itaú BBA está entrando de cabeça no jogo de M&As de esportes, estruturando uma área focada exclusivamente em operações desse setor, um espaço que até agora estava sendo ocupado por BTG Pactual e XP.

O objetivo é enxergar oportunidades em Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs), naming rights (quando uma empresa dá nome a um estádio, arena ou, mesmo, a um campeonato), além de negociar direitos de transmissão de partidas em veículos de mídia e, ainda, olhar para outros esportes promissores no Brasil.

Para isso, o Itaú BBA está pescando profissionais de peso no mercado, que devem começar a atuar no banco em janeiro do ano que vem. Guilherme Ávila, que era sócio da XP, foi a primeira contratação nesse sentido, como adiantou o colunista do O Globo, Lauro Jardim. Ele liderava a área de esportes e entretenimento na empresa e conduziu as SAFs do Botafogo, do Coritiba e do Cruzeiro.

XP e BTG Pactual têm protagonizado os principais negócios na área do futebol. A dupla esteve por trás, por exemplo, dos processos de estruturação das SAFs de Cruzeiro (XP) e Atlético-MG (BTG Pactual), entre outros negócios desse segmento.

O principal campo desses embates, porém, foi a tentativa de criação de uma liga do futebol brasileiro. Fora das quatro linhas, essa disputa colocou, de um lado, a Liga Brasileira de Futebol (Libra), assessorada pelo BTG Capital e a Codajas Sports Kapital, tendo como potencial investidor o Mubadala Capital.

Nessa peleja, a grande oponente foi a Liga Forte Futebol (LFF), reforçada posteriormente pelo Grupo União, e que foi apoiada por uma equipe composta pela XP, o escritório Alvarez & Marsal e pela Live Mode, além de investidores como a Life Capital Partners (LCP).

O que está em jogo nessas disputas é um mercado responsável por movimentar bilhões de reais no Brasil, atraindo patrocínios, investimentos, parcerias comerciais e, mais recentemente, o interesse das bets. Porém, com cada vez mais clubes se transformando em sociedades empresariais, esse mercado vem chamando cada vez mais a atenção das instituições financeiras.

Um estudo da EY com a Confederação Brasileira de Futebol estima que o futebol, sozinho, movimente mais de R$ 52,9 bilhões por ano, o que equivale a 0,72% do Produto Interno Bruto do país. E com aumento das SAFs, que já representam o modelo adotado por 63 clubes brasileiros, a importância econômica da paixão nacional pode se tornar ainda mais significativa.

O nome mais recente a engrossar esse elenco foi a Portuguesa, time tradicional de São Paulo, que aprovou neste mês uma proposta de R$ 1 bilhão liderada pela Tauá Partners, em parceria com a Revee e com a XP. O clube, atualmente na série D do Campeonato Brasileiro, tem a meta de voltar à primeira divisão em cinco anos.

Interessado também em virar uma sociedade empresarial, o Fluminense, do Rio de Janeiro, contratou o BTG para buscar investidores.

Outra vertente desse mesmo mercado, os naming rights vêm ganhando fôlego no país. O número de arenas que levam nomes de marcas já passa de dez no país, incluindo Allianz Parque (estádio do Palmeiras), Neo Química Arena (Corinthians) e a Mercado Livre Arena Pacaembu, em São Paulo; a Arena MRV (Atlético), em Minas Gerais; e a Arena BRB Mané Garrincha, em Brasília.

As negociações envolvem cifras milionárias. Num contrato de R$ 75 milhões por três anos, por exemplo, o estádio do Morumbi virou MorumBIS após patrocínio da marca de chocolate Bis.

A venda dos direitos de transmissão também tem se tornado cada vez mais atraente com a possibilidade de concessão não só para canais abertos e fechados de televisão, mas também para streamings e canais de YouTube. Por meio de um acordo da plataforma, a Cazé TV, do apresentador Casimiro Miguel, irá transmitir o Campeonato Brasileiro em sinal aberto entre 2025 e 2027.

Todas essas frentes podem ajudar o Itaú BBA a se manter expressivo em market share de M&As no Brasil, explorando um segmento que boutiques ainda não estão de olho. Um levantamento feito pela Seneca Evercore mostrou que, entre 2018 e 2024, a fatia de mercado de fusões e aquisições por volume transacionado no país caiu de 54,3% para 49,3% entre os bancos comerciais de crédito.

Os bancos de investimento internacionais também perderam representatividade, saindo de 38,7% para 27,9%. Em contrapartida, assessores independentes e boutiques, que em geral não têm profissionais dedicados para esportes e entretenimento, subiram de 7% para 22,8% em market share.

Procurado, o Itaú BBA não comentou.