Os fundos de pensão brasileiros detêm quase de R$ 1,2 trilhão sob gestão. Muitos gestores sonham entrar nesse mercado, que atende mais de 7 milhões de pessoas. Mas as 242 entidades, que atuam por meio de investimentos próprios e em fundos de investimento, ainda estão concentradas em poucas casas. No entanto, a ÍSOS, uma empresa de distribuição de fundos, recém-lançada por três experientes executivos, quer ser a ponte para mudar essa realidade.
Nome originário do grego que significa igual, a ÍSOS é um Third Party Distribution (TPD), empresa que distribui fundos de investimento para o mercado, segmento ainda pouco desenvolvido no Brasil, mas que conta com alguns players fortes como a Itajubá Investimentos, a HMC, a Compass e o BTG Pactual.
“Acreditamos que há muito espaço para atuar nesse segmento, que é mal atendido e em geral esquecido pelo mercado. E o Brasil possui mais de 900 gestoras, mas apenas 17% delas estão nos portfólios das EFPCs (Entidades Fechadas de Previdência Complementar)”, diz Heitor de Souza Lima, um dos sócios da ÍSOS, em entrevista ao NeoFeed.
Ao lado de Lima, que tem mais de 35 anos de carreira e passou por Bozano, Simonsen, Opportunity, J.P. Morgan, CLSA, Schroders, Franklin Templeton e HSL AAI, os outros sócios administradores da ÍSOS têm expertise no mercado de distribuição e no mundo das fundações.
Gianmarco Gomes foi do Banco Bozano, do Simonsen, Banco Crefisul, Banco Pactual e Genial, além de ter sido um dos sócios-fundadores da Itajubá. E Frederico Duarte, com 20 anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pelo Banco Safra, BNY Mellon, Icatu FMP, Fundação Atlântico, Banco Plural, Truxt Investimentos e Canvas Capital.
O diferencial da ÍSOS é o foco em atender somente as EFPCs, os fundos de pensão como Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras), que somados gerem mais de RS$ 460 bilhões, aproximando os gestores desse grande mercado institucional de forma especializada para as suas necessidades.
“Há 40 anos estamos trabalhando no mercado de distribuição e acompanhamos de perto o crescimento de gestoras no Brasil. Criar uma empresa para ser o elo estratégico entre os gestores e os fundos de pensão foi um caminho natural”, diz Gomes.
Ele complementa: “Nossa história e networking desempenham um papel fundamental na análise qualitativa das gestoras de recursos e das pessoas envolvidas, resultando em uma curadoria complementar de fundos que atendem as demandas das fundações.”
Como qualquer distribuidor no mercado financeiro, eles são remunerados por meio de rebates de distribuição, que é um percentual acordado entre distribuidor e gestor relativo à receita dos fundos de investimento com o volume captado.
É o mesmo modelo de assessores de investimento (distribuidores de produto) com as pessoas físicas. Mas, no caso de um TPD, os clientes são institucionais — como corretoras, family offices, seguradoras e fundos de pensão — clientes muito maiores e muito visados pelas gestoras.
Atendendo as fundações
Apesar de recém-criada, a ÍSOS já possui um portfólio de 8 gestoras parceiras, entre elas a Principal Asset Management, a Plural, Canvas Capital e Norte Asset, que juntas detêm R$ 16 bilhões sob gestão. Mas outras estão em negociação.
Entretanto, a distribuidora não colocará no seu portfólio gestoras com a mesma estratégia de investimento. A decisão é para não haver sobreposição. As casas são escolhidas por meio de uma curadoria e o acompanhamento é feito de forma ativa. As gestoras que perderem o nível de atendimento e a performance podem sair da carteira da ÍSOS.
Outra proposta da distribuidora de fundos é fazer uma consultoria para ajudar as gestoras a se preparem para o mercado de fundos de pensão, que possuem normas e peculiaridades próprias.
Para as fundações investirem, os fundos precisam estar enquadrados na Resolução CMN de N° 4994, segundo as normas da Previc (órgão que regula o setor), que dispõe sobre os tipos de alocação e seus percentuais, liquidez, volatilidade e outros assuntos.
As EFPCs, por exemplo, têm um limite de alocação de 25% de uma mesma série de ativos financeiros de renda fixa. Para uma mesma classe de cotas de Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), o teto é o mesmo. As normas não são muito simples, mesmo para as grandes gestoras se enquadrarem.
“A verdade é que muitos gestores querem o volume dos fundos de pensão, mas não estão preparados para isso. Não estão enquadrados nas normas deles, não têm os produtos aderentes e não estão preparados para acompanhar esse cliente. Nosso papel será exatamente ajudar as gestoras a entrarem nesse mercado e a atenderem as demandas das fundações”, afirma Duarte.
Na média, os fundos de pensão investem em fundos que têm, pelo menos, 24 meses de vida e R$ 100 milhões de patrimônio líquido. Além disso, usam filtros rigorosos para buscar gestores e produtos que conseguem os melhores retornos com a menor volatilidade (embora aguentem as oscilações), e são os que historicamente procuram os menores índices nesse sentido. E parte do trabalho da empresa é ajudar as gestoras a entender todas essas exigências.
“Muitas gestoras têm produtos excelentes, mas eles não são aderentes às necessidades dos fundos de pensão. Nosso trabalho é explicar a regulação, identificar os tipos de produto que fazem mais sentido para esse cliente e por quê”, diz Gomes.
Ele ainda explica que “talvez o mais importante, ajudar a gestora no pós-venda. Porque as fundações exigem relatórios, explicações de alocações entre outras coisas que não são naturais do restante do mercado. E nós iremos ajudar com isso”.
Momento favorável e necessário do mercado
As fundações são, em geral, mais conservadoras em suas alocações - e ultimamente estão mais do que nunca. Segundo dados da Abrapp de abril de 2023, a alocação em renda fixa está em 80,2%, um recorde histórico. A taxa de juros alta levou o segmento para a zona de conforto. Agora, com a perspectiva de queda da Selic, as coisas irão mudar. E essa virada de mesa irá aquecer o mercado de distribuição de fundos.
“Os fundos de pensão estão com níveis de volatilidade muito baixos, mas agora vão precisar voltar a ampliar risco para tentar retornos necessários para bater as metas atuariais. Então, será nos próximos meses que eles irão começar a analisar novamente gestores para investir”, afirma Duarte.
Se antes as entidades se acomodavam a investir apenas com grandes bancos e gestoras muito tradicionais, elas percebem que para conseguir bons resultados é preciso apostar em gestoras independentes mais novas, desde que elas estejam preparadas para atender às suas necessidades.
“A indústria de gestão independente é relativamente recente, mas as fundações ainda se concentram nos grandes nomes por serem mais cautelosas e conservadoras”, diz Lima. “Entretanto, cada vez mais elas buscam ativamente bons gestores independentes mais rentáveis, mas que tenham um bom track record e se mostrem confiáveis e por dentro do mundo deles.”
Em um cenário mais amplo, se é bom para os fundos de pensão ter mais opções de investimento, para as gestoras a captação é cada vez mais valiosa. Investidores institucionais são de mais longo prazo e aceitam as volatilidades do mercado.
A indústria de assets independente foi fomentada pela ascensão das corretoras de varejo, aumentando o acesso ao público em geral, mas os investidores pessoa física mudam de ideia rapidamente e, muitas vezes por imaturidade, não aceitam alguns meses de queda e resgatam o capital.
Esse é um dos motivos para a indústria de fundos ter um recorde de resgate líquido no primeiro semestre de 2023. Segundo dados da Anbima, o total de saídas no período foi de R$ 204,9 bilhões. Com o cenário ruim, muitas boas gestoras, focadas no varejo, estão lutando para sobreviver. Quem tem um portfólio mais diversificado, atravessa melhor os maus momentos.