Os trâmites para o divórcio entre o Casino e o GPA, a partir da venda do controle da varejista brasileira, ainda estão em curso. Mas, em paralelo a esse processo, o grupo francês segue disposto a cortar outros laços com a dona do Pão de Açúcar.
Na manhã desta sexta-feira, 8 de setembro, o GPA informou que o Casino propôs iniciar negociações para a compra da participação indireta que a varejista brasileira detém na CNova, operação de e-commerce do grupo francês.
O GPA tem uma participação indireta de 34% no capital social da CNova, enquanto o Casino detém uma fatia de 64,8%. O fato relevante ressalta que um eventual acordo será fechado por um preço definido e acordado entre as duas partes, com base em metodologias usuais de avaliação financeira.
A varejista brasileira observou ainda que a proposta foi submetida para análise do seu Conselho de Administração, que, por sua vez, optou pela composição de um comitê especial independente, composto por três membros independentes do board, para avaliar o negócio.
Com modelos B2C e B2B, hoje, a presença da CNova inclui, além da França, mercados europeus como Espanha e Reino Unido, por meio de três marcas: C-Discount, de e-commerce; C-Discount, com recursos de marketing digital para sellers e marcas; e Octopia, de ferramentas para marketplaces.
A partir dessa estrutura, o balanço da empresa tem registrado indicadores pouco animadores. No primeiro semestre de 2023, a operação registrou um prejuízo de € 65,4 milhões, contra uma perda de € 69,4 milhões, em igual período, um ano antes.
Já a receita líquida foi de € 612,5 milhões, queda de 29,9% na mesma base de comparação. O volume bruto de mercadorias (GMV) recuou 23% nesse intervalo, para € 1,3 bilhão, enquanto a dívida líquida saltou de € 469,6 milhões, um ano antes, para € 582,5 milhões.
Como reflexo, as ações da CNova, listada na Euronext e avaliada em € 1,02 bilhão, acumulam uma desvalorização de 4,2% em 2023. No pregão de hoje, porém, o papel registrava alta de 5,71%, por volta das 11h53 (horário local).
Com uma dívida também elevada, na casa de € 6,4 bilhões, o Casino vem encampando uma estratégia de desinvestimentos que já envolveu, entre outros movimentos, um follow on em março desse ano, em que o grupo levantou R$ 4 bilhões e reduziu sua fatia no atacarejo brasileiro Assaí, de 30% para 11,7%.
Já no caso do GPA, o processo para a venda do controle da fatia de 40,9% do negócio passa por negociações em andamento com o consórcio formado pela EP Global Commerce, do bilionário tcheco Daniel Kretinsky, pela holding francesa Fimalac e a gestora de private equity britânica Attestor Capital.
No fim de julho, o Casino informou que havia chegado a um acordo preliminar com o consórcio, aprovado por seu board. E acrescentou que a expectativa era de que o negócio fosse selado, de fato, nesse mês de setembro.
O acordo em questão foi citado também na divulgação do balanço da CNova como parte essencial do plano de reestruturação da empresa e dos esforços para reduzir o endividamento e melhorar a liquidez da operação.
Sob a ótica do GPA, por sua vez, uma eventual venda da fatia indireta na CNova iria ao encontro da pegada de simplificação da varejista, cada vez mais focada no segmento premium, por meio da marca Pão de Açúcar, e em formatos como as lojas de proximidade.
Nessa direção, um dos movimentos recentes do grupo envolveu o spin-off de seus ativos e do grupo colombiano Éxito. Com essa cisão, concluída em agosto, o GPA, antes controlador da operação, reduziu sua participação no negócio a uma fatia minoritária de 13%.
Em outra frente, de olho na redução de despesas e no reforço do caixa, o grupo vendeu 11 lojas numa operação de sale and leaseback em junho, levantando cerca de R$ 330 milhões, e planeja vender sua sede em São Paulo, além de um terreno no Rio de Janeiro.
As ações do GPA, avaliado em R$ 1,2 bilhão, operavam em queda de 1,72% na B3, por volta das 10h30. Já os papéis do Casino registravam alta de 2,2% na Bolsa de Paris (horário local). O grupo está avaliado em € 305,8 milhões.