O fósforo é imprescindível para o desenvolvimento e crescimento das lavouras robustas e saudáveis. Como sua disponibilidade no solo, porém, é baixa, os agricultores têm de reforçar a adubação com fertilizantes – em geral, sintéticos. Sem as tecnologias de precisão atuais, para garantir a nutrição das plantas, o costume sempre foi usar uma quantidade do mineral acima da necessária.
O problema é que, em excesso, a substância é um tiro pela culatra. Faz mal às culturas e ao planeta. Empobrece o solo, ao competir com outros nutrientes, e contamina o meio ambiente, sobretudo os cursos d’água. Encontrar uma forma de entregar o volume exato acabou se transformando em uma corrida entre os inovadores do ecossistema agtech, batizada “o desafio do fósforo”.
Ainda como estudante de ciências das plantas, na Penn State University, nos Estados Unidos, Hunter Swisher aceitou a provocação e, em abril de 2016, fundou a Phosphosolutions, na cidade de State College, na Pensilvânia.
“Os fertilizantes tradicionais têm um problema de eficiência”, explica o fundador e CEO da startup, em entrevista ao NeoFeed. “As plantas ficam com apenas 10% a 30% do total aplicado.” Por causa da composição química do solo, em algumas regiões mais do que em outras, grande parte do fósforo, em contato com outros minerais, fica retida no solo.
Alguns anos de pesquisa e experiências em campo, até que, em março passado, a startup lançou seu primeiro produto, o RhizoSorb. O novo fertilizante, diz Swisher, reduz a necessidade de fósforo em 50% por acre de plantação, sem comprometer o rendimento da lavoura.
A inovação vem se traduzindo em cheques polpudos para a Phosphosolutions. Na captação mais recente, a agtech levantou US$ 10,15 milhões A rodada foi liderada pela Advantage Capital e contou com a participação de outros quatro fundos. A gigante global de fertilizantes Keytrade entrou como novo investidor. Com o dinheiro de agora, o total financiado sobe para US$ 32,5 milhões.
Graças ao último investimento, nos próximos 18 a 24 meses, Swisher pretende estender as operações da empresa para a América Latina. No Brasil, o empreendedor diz já estar conversando com possíveis parceiros comerciais, sem revelar, porém, seus nomes.
A tecnologia
O RhizoSorb é uma espécie de “fertilizante inteligente”. “Em comparação com os produtos tradicionais, o nosso dispõe de um mecanismo de liberação acionado pela própria planta, para otimizar o fornecimento de fósforo e limitar a retenção do nutriente no solo”, conta Swisher.
O segredo está em uma estrutura cristalina, aplicada na superfície dos grãos do fertilizante, no momento de sua produção. No período de crescimento da lavoura, reações químicas, deflagradas pela interação entre a planta, o microbioma da terra e o princípio ativo do produto, liberam o mineral conforme as necessidades da plantação.
“Com isso, a absorção de fósforo aumenta em 76%”, conta Swisher. Este ano, o empresário entrou para a lista dos 30 maiores inovadores com menos de 30 anos, na categoria impacto social, da revista americana Forbes. Ao longo dos últimos três anos, o RhizoSorb já passou por cerca de 300 testes de campo em 14 estados, em plantações de milho, soja, trigo, cevada, girassol, grão de bico, arroz e grama.
Soluções como a da agtech de State College são comemoradas pelo agro global. Com o aquecimento global, os eventos climáticos extremos e a crescente demanda por alimentos, é condição sine qua non encontrar formas mais sustentáveis de lidar com a terra. E a questão passa necessariamente pelas novas tecnologias para adubação das culturas.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, em janeiro de 2022, trouxe mais um agravante para esse cenário, já um tanto delicado, já que o país liderado por Vladimir Putin é o maior produtor de fertilizantes do mundo. Quarto grande consumidor global dos produtos, Brasil importa cerca de 85% dos insumos usados na agricultura.