Há quatro anos, o empresário Mauricio Barbosa, fundador da healthtech Bionexo, foi acometido por uma depressão. “O meu caso era simples, mas, por curiosidade, perguntei para o meu médico onde me internaria se fosse complicado”, diz Barbosa ao NeoFeed.

“Ele disse que eu teria que dividir um quarto com outras seis pessoas e o psiquiatra passaria uma vez por semana na clínica.” Experiente na construção de negócios na área de saúde usando tecnologia, Barbosa logo enxergou que ali havia um negócio a ser desbravado e passou analisar o setor a fundo.

Junto com um grupo de professores e doutores da Unicamp, em Campinas (SP), como Carlos Cais, Lucas Mella, Renata Azevedo e Tânia Vichi, se debruçou em estudos técnicos e mercadológicos para entender como poderia se diferenciar. Pois, em outubro, por meio de sua holding de investimentos Apus Capital, ele vai lançar oficialmente uma plataforma digital focada em psiquiatria acoplada a um hospital físico.

O plano foi revelado com exclusividade ao NeoFeed. Por enquanto, o projeto envolve 60 profissionais e o nome será definido nas próximas semanas. O investimento inicial é relativamente pequeno, de R$ 8 milhões, mas funcionará para testar mercado. “Estamos fazendo um MVP agora”, diz Barbosa.

Para isso, ele e os sócios alugaram um espaço de 1 mil metros quadrados em um hospital do Grupo São Camilo, na Granja Viana, em São Paulo. Serão 16 leitos suítes para o mercado privado, voltado para clientes de alto poder aquisitivo, e, por enquanto, não atenderá operadoras e nem SUS.

Barbosa conta que a plataforma terá psiquiatrias 24x7, enfermagem especializada e psicólogos. O CEO contratado é Henrique Paiva, psiquiatra com especialização na Unicamp e na USP.

Nesta primeira etapa, o projeto focará em pacientes que sofrem dos chamados transtornos de humor, voltados para depressão e suicídio e dependentes de álcool e droga. “Queremos testar mercado, preço, tecnologia e desfecho clínico”, diz Barbosa.

Com isso em mãos, a nova empresa pretende criar mais unidades espalhadas por outras cidades brasileiras. “Vamos ver onde há outros hospitais com espaços ociosos e entrar fazendo o retrofit, com o modelo pronto e testado”, diz Barbosa.

Outra vertical que a empresa pretende explorar é a venda dos serviços digitais para outros hospitais, com telemedicina, num formato de Software as a Service (SaaS). “Estamos com alguns dos maiores especialistas em depressão e suicídio, em álcool e droga, e demência, para criar o que ele diz ser o primeiro hospital psiquiátrico digital que existe”, diz ele.

O empresário explica que a ideia é preencher uma lacuna do setor. A doença psiquiátrica, diz ele, é tratada no tempo, com medicação, psicoterapia. “Até 10 anos atrás, não existia tecnologia para você manter a continuidade do cuidado se comunicando ou por tecnologia digital ou por telemedicina”, explica.

Antigamente, afirma, toda vez que um paciente descompensado precisava de um atendimento, ele tinha um corte do tratamento. “Aí, ele entrava no hospital, era tratado e, quando ele saía do hospital, cortava o vínculo com o médico que havia tratado ele lá.”

Outro ponto ressaltado por ele é o das acomodações. “Se você precisa internar uma pessoa com surto psicótico de droga, vai ficar no mesmo quarto com pacientes com depressão e suicídio, com Alzheimer. Todos juntos.”

Paiva, o CEO da nova empresa, explica que esse é um ponto crítico no segmento. “A assistência psiquiátrica é muito carente”, diz Paiva. “São pouquíssimas as opções focadas. O paciente psiquiátrico não dá dinheiro para um hospital geral.”

Avalanche de plataformas

Nos últimos anos, as plataformas de saúde mental ganharam muito espaço e investimentos milionários ao redor do mundo. Nos EUA, a plataforma Mindstrong recebeu aportes que totalizaram US$ 160 milhões. No Brasil, uma das mais conhecidas é a Zenklub, que já recebeu US$ 11,9 milhões.

Muito disso se deve ao aumento das doenças mentais no Brasil e no mundo. No fim de fevereiro, um levantamento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que os casos de ansiedade e depressão aumentaram 25% no mundo por conta da pandemia da Covid-19.

Antes mesmo de esses números se agravarem, Barbosa já estava atento a esse fenômeno. Em 2019, ele criou uma área de atendimento psicológico para os funcionários da Bionexo, o que ele diz ter sido um sucesso.

“Imagina que um funcionário seu tenha alguma dificuldade de saúde mental. Ou resultado secundário de uma separação, da morte de um parente querido. Ele vai falar com você e você vai fazer o quê? Que recurso você tem para falar com esse cara? Nenhum.”

A vontade de criar um negócio à parte nessa área se intensificou depois que a Bionexo vendeu 43% de seu capital para a Bain Capital numa operação de R$ 440 milhões, em outubro do ano passado. Parte do dinheiro entrou para a sua holding, a Apus Capital.

“Com a liquidez que tive recentemente, pensei que poderia usar o capital humano e financeiro para fazer coisas legais e diferentes, unindo sempre saúde e tecnologia”, diz Barbosa.

A Apus tem participação na consultoria Folks, que ajuda hospitais a se transformarem digitalmente; na Pipo Saúde, focada em planos empresariais; e na startup Medikus, de ERP, com atuação na Europa. Mas o principal ativo ainda é a Bionexo, em que ele tem cerca de 14% e que é avaliada em R$ 1,2 bilhão.