Desde que desembarcou oficialmente no Brasil, há três anos, o AliExpress, marketplace internacional do gigante chinês Alibaba, vem ampliando, passo a passo, sua pegada no País. Nessa trilha, que incluiu o investimento em uma estrutura local, um dos movimentos mais recentes foi a abertura da plataforma para sellers brasileiros.
Agora, esse pacote destinado ao País está sendo embalado com uma novidade sob encomenda para esses vendedores. O AliExpress anunciou nesta quinta-feira, 27 de outubro, que passará a oferecer uma solução de full commerce a esses sellers made in Brazil cadastrados em seu marketplace.
Na prática, o conceito de full commerce abrange a gestão completa das operações de lojas virtuais dos clientes, dos pedidos à logística. No caso do AliExpress, essa oferta de ponta a ponta será viabilizada por meio de uma parceria com a brasileira Infracommerce e com a Cainiao, outra empresa do grupo Alibaba.
“O Brasil é um dos mercados mais estáveis e que mais cresce no e-commerce”, afirma Yusuf Ibili, diretor de operações do AliExpress no Brasil, ao NeoFeed. “E os consumidores também estão comprando das empresas brasileiras. Por isso, nossa ambição é habilitar o máximo possível de marcas locais no AliExpress.”
A escolha pela Infracommerce para agilizar o desenvolvimento dessa oferta veio, principalmente, da constatação de que muitos clientes da base do AliExpress já mantinham algum relacionamento com a empresa brasileira, especializada em full commerce e na ativa desde 2012.
“No início do ano, nós dissemos que chegaríamos a R$ 13 bilhões de GMV em 2022. Temos uma máquina enorme que já está funcionando”, diz Kai Schoppen, fundador e CEO da Infracommerce. “Fizemos muitos investimentos em dez anos e o AliExpress só precisa conectar seus sellers para ter acesso a essa estrutura.”
Na contramão, ele ressalta os benefícios da associação para a Infracommerce. “O Alibaba é um dos maiores nomes globais de tecnologia e sempre foi uma das nossas inspirações”, afirma. “E com o volume do AliExpress, vamos diluir ainda mais nossos custos e ganhar mais competitividade.”
Dentro da oferta costurada a “seis mãos”, os vendedores do AliExpress terão acesso a um pacote para operarem suas lojas que, entre outras frentes, cobre operações como gestão de estoque, armazenamento, tecnologia, softwares, meios de pagamento, ferramentas de vendas, marketing, logística e transporte.
Como terceiro elemento dessa equação, a Cainiao, que também chegou ao país recentemente, atuará nos transportes e nas entregas em todo o território brasileiro. Especialmente na última milha, como é conhecido o trecho final para que uma encomenda chegue às mãos do consumidor.
Um dos componentes para convencer os sellers a contratarem o pacote serão as entregas no mesmo dia, com custos de frente que começam em R$ 6 e que terão valores fixos para envios a qualquer região do Brasil. Ao mesmo tempo, para esses usuários, o take rate cobrado pelo AliExpress será de 5%.
“A média do mercado, dependendo da categoria, varia de 10% a 25%”, ressalta Ibili, diretor do AliExpress. “E no caso dos fretes, o preço médio no mercado está na faixa de R$ 16.”
Uma das primeiras empresas a fechar o pacote é a Pernod Ricard, grupo que comercializa marcas e bebidas como Ballantine’s, Absolut e Havana Club no Brasil. “No total, temos cerca de cem marcas no pipeline, que já estão trabalhando nessa adoção”, observa Ibili.
O AliExpress não revela o número de sellers cadastrados em sua plataforma no Brasil. Mas tem na ponta da língua o tamanho da oportunidade à frente. Apenas no primeiro semestre deste ano, movimentaram R$ 118,6 bilhões em vendas virtuais, segundo a Nielsen IQ|Ebit, alta de 6% sobre igual período, em 2021.
“Com essa solução de full commerce, estamos olhando para sellers de todos os portes”, observa Ibili. “E vemos ainda uma grande oportunidade em digitalizar negócios que têm um estoque de produtos muito bom, mas que ainda não estão no offline.”
No plano global, a divisão de comércio internacional, que abriga o AliExpress, reportou uma receita de US$ 1,5 bihão no segundo trimestre, uma queda de 3% na comparação anual. Já a receita da Cainiao cresceu 5% no período, para US$ 1,8 bilhão. Avaliado em US$ 181 bilhões, o Alibaba, registrou uma receita de US$ 30,6 bilhões entre abril e junho.
A Infracommerce, por sua vez, fechou o segundo trimestre com alta de 100,2% no GMV, para R$ 3,08 bilhões, e de 178,3% em sua receita líquida, para R$ 220,4 milhões. Já no mercado de capitais, as ações da empresa, avaliada R$ 1,7 bilhão, amargam uma desvalorização próxima de 72% no ano.
Esse desempenho crítico ganhou um alento, no entanto, recentemente. Em setembro, a empresa anunciou que repactuou as parcelas relacionadas a aquisições realizadas entre 2020 e 2021. Com a medida, entre outros avanços, reduziu de R$ 295,5 milhões para cerca de R$ 60 milhões o montante a ser quitado neste segundo semestre de 2022.
Ao mesmo tempo, a Infracommerce concluiu um aumento de capital, via subscrição privada, no qual levantou R$ 400,8 milhões. Com esses dois movimentos, a companhia aliviou, em parte, as preocupações de investidores.
“Nós seguíamos e continuamos crescendo no ritmo de uma startup. Claro, havia uma preocupação crescente com a alavancagem, mas que não influenciava diretamente no dia a dia”, afirma Schoppen. “De qualquer forma, agora, nós conseguimos tirar esse peso da operação.”