Desde que perdeu o bonde da fotografia digital, a Kodak já tentou se reinventar de diversas formas. Apostou em impressoras para escritórios e gráficas, investiu em películas para filmes de cinema e lançou uma plataforma de criptomoeda para fotógrafos.
No fim de julho, a companhia arriscou mais uma vez. Conseguiu um empréstimo de US$ 765 milhões do governo dos EUA para produzir princípios ativos de medicamentos. Entre eles, a hidroxicloroquina, a polêmica droga que as pesquisas mostram que não tem nenhuma eficácia contra o coronavírus, mas que é positiva no combate a outras doenças, como a malária.
Os investidores reagiram de forma entusiasmada à nova fase da Kodak. E as ações subiram mais de 2.000% em dois dias. Agora, um inquérito da Securities Exchange Commission (SEC), equivalente a Comissão de Valores Mobiliários no Brasil, vai investigar se a Kodak não queimou o filme na largada.
O xerife do mercado americano quer saber se houve vazamento de informação sobre o empréstimo do governo, o que configuraria um caso de insider trading. O que causou estranheza é que, um dia antes do empréstimo ser divulgado, os papéis da Kodak acumularam uma alta "inexplicável" de 26%.
O aumento nos preços das ações, que chegou a bater US$ 60 e hoje está na casa dos US$ 14, produziu também um ganho inesperado para executivos da empresa que possuíam stock options. Algumas delas foram concedidas em 27 de julho, um dia antes do anúncio oficial do empréstimo.
O inquérito da SEC está em sua fase inicial e não existe nenhuma garantia de que as análises revelem algum comportamento ilícito. Mas, segundo o jornal americano The Wall Street Journal, reportagens sobre a transação já circulavam na cidade de Rochester, onde fica o escritório da Kodak, também no dia 27 de julho.
Procuradas pelo WSJ, a SEC recusou pedidos de entrevistas e comentários sobre o assunto e um porta-voz da Kodak afirmou que a companhia não estava ciente das investigações, mas que a empresa está pronta para colaborar e esclarecer qualquer dúvida dos órgãos competentes.
Quem também protocolou um pedido de análise detalhada junto à SEC foi a senadora Elizabeth Warren, que chegou a disputar a vaga democrata na corrida presidencial.
Warren escreveu uma carta ao presidente da SEC, Jay Clayton, questionando a compra de ações da Kodak por diretores da companhia no mês passado, "num momento em que a empresa e a administração de Trump negociavam em segredo o acordo".
A senadora pediu ainda que outros indivíduos e entidades corporativas que tenham feito grandes aquisições de ações da Kodak antes do anúncio de 28 de julho sejam investigados.
O objetivo é entender até que ponto essas partes tinham conhecimento de informações não públicas, e se tiveram acesso aos detalhes do empréstimo. A SEC deve também investigar se a Kodak cumpriu sua parte na estratégia de divulgação.
A lei federal americana que rege a prática de insider trading, ou informação privilegiada, entende por "insider" funcionários, diretores e investidores que tenham o controle de pelo menos 10% de uma companhia.
O crime pode ser penalizado com reclusão de até 20 anos e multa de até US$ 5 milhões para pessoas físicas e US$ 25 milhões para empresas.
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