Em julho de 2021, a Celcoin captou R$ 55 milhões em uma rodada com a Torq Ventures, a Vox Capital e o BTG Pactual. E sinalizou que o cheque abria uma nova via em sua ambição de ser o “grande Lego” de infraestrutura por trás das ofertas de fintechs e bancos digitais: as aquisições.
Seis meses depois, a empresa começa a ir às compras e antecipou com exclusividade ao NeoFeed a primeira aquisição desde que foi fundada, em 2016. Trata-se da Galaxy Pay, startup mineira que desenvolve sistemas de cobrança recorrente.
“Já temos um pool grande de serviços”, afirma Marcelo França, cofundador e CEO da Celcoin, em entrevista ao NeoFeed. “Mas, com esse motor de cobrança recorrente, a Galax Pay traz uma peça que não tínhamos até então no nosso quebra-cabeças.”
O valor do acordo não foi revelado. Fruto de conversas que tiveram início em agosto do ano passado, a transação envolve pagamento em dinheiro e troca de ações, o que coloca Márcio Silva, fundador e CEO da Galax Pay, como novo sócio da Celcoin.
“Durante toda a negociação, a gente repetiu que o acordo fazia ‘um mais um virar três’”, conta Silva. “Já tínhamos sido procurados diversas vezes por fundos de venture capital. A diferença aqui, à parte de dinheiro, é que as duas operações têm muitas sinergias.”
Em um modelo similar ao da AWS, braço de tecnologia da Amazon, a Celcoin aposta em uma infraestrutura aberta que funciona como o motor para fintechs, bancos digitais ou qualquer companhia disposta a oferecer produtos financeiros.
Para isso, a companhia está conectada a concessionárias, órgãos públicos e operadoras. E investe em um arsenal de APIs, como são conhecidos os padrões de programação que permitem o “diálogo” entre uma ou mais aplicações, de diferentes companhias.
Esse arcabouço permite que seus 190 clientes ofereçam serviços como pagamento de contas, transferências e saques em ATMs. E também é usado por uma rede de 37 mil lojistas que, instalados em periferias e cidades interioranas, atendem usuários à margem do sistema bancário.
A partir desse modelo, a Celcoin processa atualmente um volume mensal de R$ 2,5 bilhões em transações. “Com a incorporação da Galax Pay, nós chegamos a um faturamento anual próximo de R$ 100 milhões”, conta França.
“Com a incorporação da Galax Pay, nós chegamos a um faturamento anual próximo de R$ 100 milhões”, diz Marcelo França, cofundador e CEO da Celcoin
Fundada em 2018, a partir de um spin-off da empresa de tecnologia Construsite, a Galax Pay também aposta em APIs e na oferta de sistemas no modelo de software como serviço, que automatizam todo os processos relacionados a cobranças recorrentes, em cartão de crédito, boleto e PIX.
Com 35 funcionários e mais de R$ 45 milhões processados todos os meses, sua carteira tem 1,8 mil clientes, o que inclui desde escolas e academias a empresas de software ou qualquer operação que trabalhe com a cobrança de mensalidades.
“É uma via de mão dupla. Vamos levar esse produto à nossa base de quase 200 clientes”, explica França. “E podemos explorar essa carteira de empresas que eles atendem, a maioria delas, não financeiras, mas que podem ter interesse em entrar nesse espaço.”
Silva acrescenta: “Ao mesmo tempo, a rede física de lojistas plugados na Celcoin pode usar e revender nossos serviços”, diz. Ele destaca ainda o início da operação como subadquirente e o Pix Recorrente, que deve ser lançado neste semestre pelo Banco Central, como os próximos focos da Galax Pay.
O Pix e a rede de lojistas também estão no centro da atenção da Celcoin. Nesse segmento, a prioridade da startup é habilitar todos esses correspondentes como agentes do Saque Pix, uma das modalidades mais recentes ofertadas dentro do sistema de pagamentos instantâneos.
Em paralelo, a ideia da Celcoin é que a Galax Pay seja o ponto de partida para outras aquisições, com o objetivo de seguir adicionando novas peças ao seu Lego. “Já temos mais um acordo bem próximo de ser fechado”, afirma França. “O plano é ser realmente um player de one stop shop.”
Com diferentes propostas, não faltam empresas com essa mesma ambição no modelo de banking as a service. Entre elas, a Dock, apoiada por fundos como Temasek, e que também vem investindo em aquisições, e o FitBank, que tem o J.P. Morgan entre seus investidores. Além de nomes como BV, Original, Citi, HSBC, Magazine Luiza e Porto Seguro.
Em dezembro de 2021, a Celcoin ampliou seu poder de fogo nessa disputa. A empresa teve sua licença para atuar como Instituição de Pagamento, na modalidade de emissor de moeda eletrônica e iniciadora de transações de pagamento, aprovada pelo Banco Central.
“Agora, não dependemos de intermediários para muitas das transações que processamos”, ressalta França. “E teremos a possibilidade de criar mais produtos com potencial de incrementar nossa receita.” Nesse contexto, a Celcoin projeta sair de um volume processado de R$ 23 bilhões, em 2021, para R$ 45 bilhões, nesse ano.