Já faz algum tempo que o Magazine Luiza vem batendo na tecla de que, em vez de olhar seus resultados trimestrais isoladamente, o mercado deveria analisá-los sob uma ótica mais ampla, que contempla o “filme” dos últimos três anos.
Esse script teve início no período pré-Covid-19, evoluiu para a aceleração das vendas digitais na pandemia e desembocou na ressaca observada a partir do fim de 2021. Nessa última parte da trilogia, questões como a inflação e a alta na taxa de juros passaram a afetar fortemente a companhia e boa parte do varejo.
No desenrolar dessa trama, o Magazine Luiza acaba de divulgar seu balanço do terceiro trimestre. E os números vêm acompanhados de argumentos que, na visão do grupo, abrem caminho para uma sequência menos dramática e, quem sabe, mais próxima de um final feliz.
“O cenário econômico está mais positivo. Os juros pararam de subir, a inflação começou a cair, acabou a eleição, enfim, é o oposto do que víamos há um ano”, diz Roberto Bellissimo Rodrigues, CFO do Magazine Luiza, ao NeoFeed. “Passamos por essa turbulência e a tendência é de retomada.”
A percepção mais positiva é realçada pelo calendário à frente. Com poucas exceções, como em 2021, o quarto trimestre é o melhor do varejo. E nesse ano, além da Black Friday e do Natal, o período será reforçado com a Copa do Mundo do Catar e por um outro componente, a princípio, favorável ao grupo.
“Para nós, a Copa já começou e estamos bastante animados com as vendas de TVs e de produtos ao redor”, afirma Rodrigues. “O sentimento é de que o pior já passou. Nós nunca deixamos de crescer, mas isso tende a se acelerar, até mesmo porque a base de comparação com o ano passado será menor.”
Entre outras ações programadas para o período e para a Copa, o Magazine Luiza irá patrocinar as transmissões do torneio, com inserções em canais de TV abertos e fechados, e também nos canais digitais do grupo Globo.
À parte dessas datas, Rodrigues entende que o Magazine Luiza também cumpriu uma agenda nos últimos meses que permite à empresa ingressar nesse cenário mais preparada e com uma operação mais saudável. Ele cita alguns dos movimentos realizados nos últimos meses.
“Nós conseguimos repassar um pouco do aumento de custos e reduzimos as vendas sem juros, ao mesmo tempo em que aumentamos as vendas com juros”, explica. “Houve também um efeito positivo na margem bruta com a venda de serviços, muito em função do marketplace e do take rate cobrado dos sellers.”
Como reflexo, o Magazine Luiza fechou o terceiro trimestre com uma margem bruta de 27,9%, contra 20,1%, em igual período, há um ano. Já a margem Ebitda ajustada foi de 6% entre julho e setembro, um aumento de 1,9 ponto percentual e a melhor patamar trimestral desse indicador desde 2020. O Ebitda ajustado cresceu 50,3%, para R$ 527,5 milhões.
“No lado das despesas, fizemos um trabalho grande de renegociação de contratos e de otimização dos investimentos em marketing e logística desde o começo do ano”, diz o CFO. “A última linha do balanço ainda tem sido afetada pelas despesas financeiras, mas estamos conseguindo elevar a rentabilidade operacional.”
Como saldo desse contexto, a empresa apurou um prejuízo líquido de R$ 166,8 milhões no terceiro trimestre, contra um lucro líquido de R$ 143,5 milhões, há um ano. O prejuízo líquido ajustado foi de R$ 146 milhões, ante um lucro líquido ajustado de R$ 22,6 milhões, na mesma base de comparação.
As vendas totais, que abrangem lojas físicas, e-commerce e marketplace, alcançaram o patamar de R$ 14,1 bilhões, alta de 2,2%, na comparação anual. A receita líquida, por sua vez, avançou 2,3%, para R$ 8,8 bilhões. Os dois indicadores vieram em linha com as projeções de analistas.
Nas lojas físicas, o crescimento nas vendas foi de 1%, para R$ 3,9 bilhões. Já no e-commerce, as vendas de R$ 10,3 bilhões representaram um avanço de 3%, enquanto no marketplace, o volume foi de R$ 3,5 bilhões, 0,9% superior há um ano.
Uma das grandes apostas do Magazine Luiza, o marketplace fechou o trimestre com 236 mil sellers. Há um ano, essa base era de 120 mil sellers e, no segundo trimestre, estava em 200 mil parceiros.
Ainda nos canais digitais, Rodrigues destaca o fato de que categorias como moda, esporte, cosméticos, móveis, decoração, acessórios e games representaram 52% do GMV online. Em boa parte desses segmentos foi alvo da onda de aquisições do Magazine Luiza, especialmente, entre 2019 e 2021. Essa lista inclui negócios como Netshoes, Época Cosméticos, Zattini, AiQFome e, mais recentemente, a KaBum!.
“Todos esses negócios estão dando lucro e crescendo”, afirma Rodrigues. O executivo acrescenta que essas linhas ajudaram a compensar a queda nas vendas de bens duráveis, mais impactadas pelo cenário macroeconômico. “E o marketplace ajuda nessa estratégia, porque é ainda mais diverso em termos de categorias.”
Outro ponto ressaltado pela empresa foi a geração de caixa operacional de R$ 324 milhões no trimestre, como reflexo da evolução do Ebitda e da melhoria no capital de giro. O Magazine Luiza encerrou o período com uma posição de caixa total de R$ 9 bilhões.
As ações do Magazine Luiza fecharam o pregão de hoje cotadas a R$ 3,98, queda de 10,96%. Em 2022, os papéis da empresa, avaliada em R$ 26,5 bilhões, acumulam uma desvalorização de 44,8%.