Na semana passada, as ações das construtoras caíram, em média, 15% - derrubadas principalmente por um ambiente macroeconômico que se apresenta mais difícil para o restante deste ano e 2022, com inflação na casa dos 10%, risco de recessão e a expectativa crescente de que os juros básicos do País voltem a ter dois dígitos.
Para citar alguns exemplos, a MRV acumula queda de 10,85% na última semana; a Even tem recuo de 5,64%; a Cyrela, 5,98%; e a Eztec tem desvalorização de 7,19%.
Segundo analistas do Credit Suisse, “muitos investidores” têm argumentado que a retração dos papéis pode representar uma boa oportunidade de compra. O banco reconhece que os valuations estão em níveis “deprimidos” e o potencial de novos recuos parece limitado, mas tem uma visão mais cautelosa sobre uma possível retomada.
“Acreditamos que a volatilidade macroeconômica atual, associada a uma crescente deterioração da dinâmica micro, pode continuar pesando sobre o desempenho do setor", escrevem os analistas Daniel Gasparete, Pedro Hajnal e Vanessa Quiroga. “Um rali do setor teria vida curta”.
Ao analisar as ações das companhias sob uma perspectiva mais longa, o Credit destaca que os papéis estão 46% abaixo do nível de janeiro deste ano e acumulam recuo de 50% em relação a janeiro do ano passado. No entanto, em comparação a 2019, as cotações ainda estão 5% acima.
“A pergunta que nos fizemos foi: as condições macro e micro estão mais próximas do cenário de 2021, 2020 ou 2019? Só para dar um exemplo, a taxa de juros nominal para 10 anos já está em 12% ao ano, o maior nível desde antes da eleição presidencial desde 2018”, afirmam.
As próprias projeções do banco suíço estão piores para a economia. Na semana passada, o Credit Suisse revisou para baixo a sua projeção para o PIB do ano que vem, de alta de 1,1% para 0,6%. A Selic, por sua vez, foi elevada de 9,75% para 10,5% ao ano no fim de 2022.
No mercado, já há instituições que preveem recessão em 2022. É o caso do Itaú, que estima retração de 0,5% para o PIB.
"Enquanto há pouca dúvida quanto à deterioração do cenário macroeconômico, acreditamos que os investidores estão começando a ver a piora nas condições micro do setor", escrevem os analistas do banco suíço.
Após reuniões com uma série de CEOs do setor na semana passada, os analistas veem um consenso de viés de baixa para as empresas, com volumes menores de vendas. "Algumas companhias estão começando a pisar no freio em alguns lançamentos", afirmam.
Eles também preveem uma velocidade menor para as vendas das unidades, taxas mais altas de financiamento imobiliário e, potencialmente, margens mais baixas, influenciadas pelo aumento do custo da mão de obra.
O banco também acredita que as construtoras voltadas para o público de baixa renda provavelmente cairão menos no mercado do que aquelas dedicadas à renda média.
“Isso ocorre porque a demanda do público de baixa renda deve se mostrar mais resiliente, impulsionada por um alto déficit habitacional e taxas de financiamento fixas”, dizem. “Além disso, é provável que as margens brutas tenham atingido seu nível mínimo no terceiro e no quarto trimestre, enquanto as de renda média devem começar a se deteriorar no próximo ano”.