Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles formam o trio do 3G Capital, a gestora de private equity que detém participação em empresas como a Ab-InBev, Heinz e Burguer King. Em janeiro, a aura que pairava sobre eles perdeu um pouco do brilho com a Americanas, um caso que revelou problemas contábeis bilionários e empurrou a rede varejista para a recuperação judicial.
No dia a dia da Americanas, quem executava as ordens era Miguel Gutierrez, mas Beto Sicupira era o sócio do 3G que sempre esteve mais perto da gestão da rede varejista, comprada pelo trio em 1983, como revelou o NeoFeed.
Não bastasse todo esse imbróglio, Sicupira está lidando com mais uma intrincada situação: a Light, empresa privada de geração, distribuição e comercialização de energia elétrica, entrou com um pedido liminar, na terça-feira, 11 de abril, para suspender o pagamento de dívidas.
Sicupira é um dos três maiores acionistas individuais da companhia de energia elétrica, que acumula um endividamento total de R$ 9 bilhões e está em dificuldade para organizar o seu fluxo financeiro.
Na composição acionária da Light, Sicupira, por meio do fundo Santander PB FIA 1, detém 10,16% das ações. Ele está atrás do Samambaia FIA, de Ronaldo Cezar Coelho (20,01%), e à frente da Black Rock (9,29%). Os restante dos 60,54% estão pulverizados na mão dos minoritários.
Em 22 de outubro de 2020, por meio de documento entregue à Comissão de Valores Mobiliários e assinado pelo então diretor de relações com investidores da Light, Roberto Caixeta Barroso, a empresa informava que Sicupira havia adquirido 15,2 milhões de ações ordinárias, representando 5,001% do seu capital social.
Esse montante somava-se a outras 14,9 milhões de ações ordinárias e derivativos de liquidação exclusivamente financeira referenciados em ações que ele detinha “indiretamente, por meio de veículos financeiros, perfazendo o total de 30.098.855 ações, ou seja, 9,90% do capital social”.
Em 4 de novembro do mesmo ano, um novo comunicado entregue à CVM informava que Beto Sicupira estava transferindo a totalidade das ações ordinárias, que estava atreladas ao CPF dele, para um outro veículo. E foi informado que ele “ainda detém, indiretamente, 30.602.520 ações ordinárias da Companhia, representativas de 10,07% do capital social”.
Um comunicado ao mercado no dia seguinte informava que a mudança na composição acionária da Light indicava a substituição de Sicupira pelo fundo Santander PB FIA 1, que passou a deter a mesma participação do sócio do 3G.
As informações públicas do Santander PB FIA 1 indicam que o patrimônio líquido do fundo era de R$ 99,03 milhões em 5 de abril. Na composição do fundo, 89,27% está atrelada a ações da Light, num total investido de R$ 181,7 milhões. Há 5,74% em títulos públicos e R$ 854,8 mil (0,42%) em ações da São Carlos Empreendimentos.
A rentabilidade Santander PB FIA 1 em 12 meses estava negativa em 75,96% e em 24 meses, a queda era de 86,6%. E eram quatro o número de cotistas no fundo.