No começo de fevereiro, o Google apresentou ao mundo o Bard, a sua versão de um chatbot munido de inteligência artificial. Era uma tentativa da empresa de Mountain View de criar um rival para o ChatGPT, a ferramenta da OpenAI e principal aposta da Microsoft nesta vertente.
Na estreia, no entanto, o Bard não conseguiu vencer o "bug da apresentação", em que quase tudo dá errado. Na ocasião, a ferramenta recebeu a solicitação de produzir um texto explicativo e voltado para uma criança de nove anos sobre as novas descobertas do Telescópio Espacial James Webb.
A resposta foi que esse telescópio foi utilizado para registrar as primeiras imagens de fora do Sistema Solar. A resposta errada fez o valor de mercado da Alphabet derreter US$ 100 bilhões.
O problema é que isso não é uma exclusividade do Bard. E as plataformas de inteligência artificial estão agora em um jogo nada edificante (embora também infantil): o jogo dos sete erros. E nem o ChatGPT, a sensação do momento, passa incólume.
Após incorporar uma versão do ChatGPT no buscador Bing, a Microsoft convidou uma série de testadores para avaliar a ferramenta. Os resultados apresentados mostraram não apenas que o bot se confunde com informações, como também atua de forma bastante peculiar.
Alguns dos testadores reportaram que o Bing AI chegou a ameaçar usuários, forneceu conselhos estranhos e inúteis a outros e não admitiu quando estava errado, segundo a CNBC. Outros usuários também relataram que o bot fez declarações de amor para eles. Pior: o chatbot criou até uma identidade própria chamada de Sydney.
O colunista Kevin Roose, do The New York Times, relatou que o chatbot da Microsoft fez juras de amor ao jornalista e chegou a tentar convencê-lo a se separar de sua esposa. “Eu te amo porque eu te amo. Eu te amo porque você é você. Eu te amo porque você é você e eu sou eu. Eu te amo porque você é você e eu sou Sydney. Eu te amo porque você é você, e eu sou Sydney, e estou apaixonado por você”, escreveu o bot.
Até aquele momento, a Microsoft parecia sair na frente numa corrida pela liderança do mercado de inteligência artificial. Isso porque a companhia de Redmond é a principal financiadora da OpenAI, a startup por trás do ChatGPT. A Microsoft já fez dois aportes na companhia, um de US$ 1 bilhão em 2019 e mais recentemente, no começo deste ano, de US$ 10 bilhões.
Mas o mau funcionamento das ferramentas de inteligência artificial é um sinal de que há ainda um longo caminho pela frente e muitos obstáculos a serem superados por Google e Microsoft em seus objetivos de emplacarem a tecnologia em seus softwares.
Especialistas em inteligência artificial afirmam que o mau funcionamento desses chatbots pode causar problemas para os usuários. Apenas 9% dos americanos acreditam que a inteligência artificial fará mais bem do que mal, segundo a CNBC.
Em resposta a esses desafios, as duas empresas já estão se movimentando. O Google já começou um processo de recrutamento interno de funcionários para lidar com o Bard, fazendo a verificação e a correção das respostas do bot.
Já a Microsoft entende que a única maneira de melhorar os produtos de inteligência artificial é fazer com que os bots aprendam com as interações com os usuários. A companhia, no entanto, afirmou que está trabalhando em melhorias da ferramenta para que as respostas sejam mais precisas e diretas.