No início desta semana, poucos dias após a Microsoft anunciar que faria um investimento multibilionário na OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT, foi a vez do Google mostrar ao mundo sua aposta em uma ferramenta de inteligência artificial. Chamada de Bard, o novo rival do ChatGPT deve não apenas acirrar a disputa entre as duas big techs, como também trazer uma nova dinâmica para os serviços de busca.

No texto publicado no blog oficial da companhia na última segunda-feira, 6 de fevereiro, o CEO do Google, Sundar Pichai, afirmou que o Bard é “um serviço experimental de conversação que utiliza inteligência artificial”. Ainda em fase de testes e sem previsão de ser ofertada publicamente, a ferramenta deverá ser utilizada pela companhia para otimizar as buscas na internet utilizando o Google.

Em um vídeo de exemplo, a companhia de Mountain View exibiu o funcionamento do chatbot ao solicitar que a ferramenta produzisse um texto explicativo e voltado para uma criança de 9 anos sobre as novas descobertas do Telescópio Espacial James Webb. Em outra demonstração, o Bard foi usado para montar listas sobre os melhores atacantes de futebol do mundo.

Nesta terça-feira, 7 de fevereiro, um dia depois dessa demonstração, a Microsoft anunciou uma nova versão do navegador Edge e do buscador Bing, ambos munidos, agora, com a tecnologia do ChatGPT, para que o internauta possa consultar o chatbot quando bem desejar ao usar o software e o buscador.

“Essa tecnologia vai remodelar praticamente todas as categorias de softwares”, disse Satya Nadella, CEO da Microsoft, durante o evento de apresentação dessas novidades, realizado na sede da companhia, em Redmond.

De acordo com a empresa, a tecnologia do chatbot usada no Bing é mais avançada do que a que está disponível na plataforma oficial da OpenAI. Entre as novidades, está a possibilidade de que o chatbot possa escrever e-mails e resumir resultados de buscas.

Do lado do Google, o Bard é uma resposta a uma ameaça em um negócio no qual, durante muitos anos, a companhia sofreu pouca pressão: o seu serviço de busca. Dados da consultoria Statcounter mostram que quase 93% das buscas na internet são realizadas pelo Google, enquanto apenas 3% são feitas pelo Bing, o buscador da Microsoft.

Da receita de US$ 76 bilhões registrada pela gigante de Mountain View no último trimestre, uma fatia de 56% (US$ 42,6 bilhões) veio com as receitas obtidas por publicidade em seu serviço de busca. Para efeito de comparação, a cifra obtida com anúncios no YouTube foi de US$ 7,9 bilhões, representando pouco mais de 10% do total.

A Microsoft não revela quanto ganha especificamente com o Bing, mas o valor é bem inferior. No balanço, a companhia inclui as receitas com publicidade do navegador em um grupo chamado de More Personal Computing e que inclui também, por exemplo, a venda de dispositivos como HoloLens e Surface, além da área de games. No quarto trimestre, essa frente representou US$ 14,3 bilhões do total de US$ 51,8 bilhões reportados pela empresa no período.

Para capturar ou manter esse mercado, Microsoft e Google não estão poupando recursos. A primeira já havia investido ao menos US$ 1 bilhão em uma rodada de financiamento na OpenAI anos atrás e, mais recentemente, anunciou um investimento multibilionário na empresa, que pode chegar a US$ 10 bilhões.

Entre outros planos desenhados pela Microsoft para o ChatGPT estaria a sua incorporação ao aplicativo de comunicação Teams. Enquanto isso não acontece, na semana passada, a OpenAI lançou uma versão paga do ChatGPT. A empresa tem ainda a intenção de rentabilizar o serviço com uma versão voltada para empresas. O BuzzFeed, por exemplo, já utiliza o chatbot.

O Google, por sua vez, além de ter desenvolvido o Bard dentro de casa, anunciou recentemente um investimento de US$ 300 milhões na operação da startup americana Anthropic, que também desenvolveu um chatbot inteligente chamado de Claude.

Fundada em 2021, a companhia já recebeu ao todo US$ 1 bilhão em aportes. Segundo dados do Crunchbase, entre os investidores da startup está Sam Bankman-Fried, o fundador da FTX, envolvido numa série de escândalos. Ele liderou o round de US$ 580 milhões recebido pela startup em abril do ano passado.