A inteligência artificial é uma realidade nas empresas brasileiras. Estudo realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes), em parceria com a International Data Corporation (IDC), mostra que 79,2% dos líderes das principais companhias brasileiras já usam IA em seus negócios.

Chamado de "Inovação tecnológica, seu uso e os impactos na indústria brasileira", o estudo da Abes vai além na adoção dessa nova tecnologia: 16% dos C-levels disseram que ainda não usam, mas vão incorporar os recursos nos próximos 12 meses. Isso porque 95,2% das companhias já têm, em seus planos atuais, a intenção de inserir a IA em algum tipo de função.

Sobre IA generativa, o número é um pouco menor, mas ainda assim surpreende. Dos executivos entrevistados, 55,7% afirmaram que já usam GenAI, e 34% revelaram que irão incorporar suas funcionalidades nos próximos 12 meses.

“Só começamos a ouvir falar em inteligência artificial a partir de novembro de 2023. E constatar que, em empresas grandes, mais de 95% já usam ou vão usar IA até o ano que vem é uma informação muito relevante”, diz Jorge Sukarie, conselheiro da Abes e responsável pelo estudo, em entrevista ao NeoFeed.

Realizada entre janeiro e abril deste ano, a pesquisa ouviu 106 executivos, entre CEOs, VPs, diretores de tecnologia e outros cargos, de empresas com mais de 100 funcionários, para entender o impacto da tecnologia em suas corporações. A entidade pesquisou companhias que atuam nas áreas de finanças, agronegócio, saúde e educação, considerados os principais segmentos que devem atrair mais recursos nos próximos anos.

“O grau de maturidade das empresas nos surpreendeu positivamente. Há alguns anos, quando se falava de tecnologia, muita gente só ia conhecê-la após três ou cinco anos. Hoje, quando você fala com um executivo, na sala ao lado essa tecnologia já está em implementação”, afirma Sukarie.

Outro dado que surpreendeu diz respeito ao volume de recursos do caixa das empresas direcionados para a área de TI: 39% dos entrevistados disseram que investem de 5% a 6% em novas tecnologias; 31%, entre 2% e 4%; e 30% alocam de 7% a 10% dos recursos nessa unidade.

Para o conselheiro da Abes, com base na pesquisa, esse índice deve crescer. Entre os líderes das empresas pesquisadas, 75% disseram que vão aumentar os investimentos em 2025 sobre o volume do ano passado.

“As análises de dados devem transformar os negócios das empresas nos próximos anos de uma maneira geral. O estudo traz essa expectativa de forma bem consolidada”, diz ele.

A pesquisa confirma uma tendência de evolução da presença de TI nas companhias brasileiras. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), divulgado pelo governo federal no ano passado, mostra que, até 2028, o País deve receber investimentos de R$ 1,76 bilhão para o desenvolvimento de soluções em IA.

Atualmente, o Brasil ocupa uma posição importante no ranking global de investimentos em tecnologia. Em 2024, o País registrou alocações de US$ 90 bilhões no setor, sendo US$ 59 bilhões em tecnologia da informação e US$ 31 bilhões em telecomunicações. Isso coloca o mercado brasileiro na 9ª posição, atrás do Canadá, em oitavo (US$ 113 bilhões) e da Índia, em sétimo (US$ 126 bilhões). Os Estados Unidos lideram.

Preocupação com a formação

Mas o principal gargalo está na mão de obra, que ocupa o topo dos desafios para as empresas. Há preocupação com a criação de um quadro de funcionários preparados para ocupar funções ligadas à IA.

O primeiro item da pesquisa (53%) foi a falta de funcionários para aprender e trabalhar com IA. O segundo (44%) é a falta de pessoal qualificado. Na terceira posição entre as preocupações (39%) está a falta de regulamentação da IA no Brasil.

Para Jamile Sabatini Marques, diretora de inovação e fomento da Abes, a instituição tem atuado na busca de capacitação para funcionários das empresas associadas, além da criação de uma plataforma que integra o terceiro setor para formar jovens, principalmente da periferia.

“Muitas escolas, no ensino médio, só mostram opções de cursos tradicionais e não falam sobre tecnologia, que tem muitas vagas disponíveis. Hoje, ainda pensam que uma pessoa formada em Matemática só pode ser professor. E ele pode atuar diretamente em uma grande empresa de tecnologia para trabalhar com dados”, diz a diretora.

Ainda que esteja no top 10 global de recursos aportados em tecnologia, o Brasil vem, ao longo dos últimos anos, avançando no cenário global e pode, em breve, subir de posição. Antes da pandemia, o Brasil já havia ocupado a sétima posição.

“A gente caiu para 11º e agora vem voltando a avançar. Ainda que a distância seja grande para o Canadá, de US$ 23 bilhões, podemos subir para oitavo nos próximos cinco ou seis anos, porque estamos crescendo mais do que outros países”, diz Sukarie.

O Brasil deve registrar um crescimento de 9,5% em recursos em 2025, o que deve elevar o volume de investimentos para US$ 64 bilhões. A tendência é que o País cresça mais do que a média mundial, projetada em 8,9%. “Esse crescimento será impactado pela redução do crescimento da economia global”, diz ele.