Há quatro anos, um Porsche 911 geração 964 embarcava no Brasil com destino à Califórnia, nos Estados Unidos. Por lá, o modelo, que já havia rodado 52 mil quilômetros desde a sua fabricação em 1989, ganharia uma nova identidade e passaria a fazer parte da família Singer Vehicle Design, a empresa especializada em restaurar e customizar os automóveis da montadora alemã, em especial os modelos 911.
Primeiro carro do gênero no Brasil e batizado de Brazil Commission, ele acaba de "voltar para casa". E, em breve, deve ser entregue ao dono, cliente fiel da GTO Car Specialists, referência nacional em curadoria e importação de veículos raros e colecionáveis.
Desenvolvido pela Singer em parceria com a GTO, o projeto do "novo" Porsche custou algo em torno de R$ 10 milhões, conforme apurou o NeoFeed. Isso sem contar o R$ 1 milhão gasto na aquisição do veículo original, segundo a tabela de mercado.
“Nós da GTO sempre fomos apaixonados pelos carros da Singer e, ao surgir uma oportunidade de desenvolver um carro desse para um cliente nosso, aproveitamos”, explica Fabio Amaja, sócio-proprietário da GTO, em entrevista ao NeoFeed. “Como esse cliente já tinha vários Porsches na garagem e também era amante da Singer, ele topou deixar esse projeto na nossa mão”.
Depois de passar pelas instalações da empresa americana, fundada na cidade de Torrance, em 2009, pelo apaixonado por carros Rob Dickinson, o modelo manteve apenas o seu chassi, que recebe adereços para se assemelhar às versões mais antigas do 911, fabricadas nos anos 60. Fora isso, tudo é refeito: motor, freio, suspensão, bancos, faróis, escapamento, pintura… e, o melhor, de forma artesanal.
As transformações são discretíssimas. Para quem não entende de automóvel, aquele é apenas um Porsche antigo bem cuidado. Mas, o que realmente importa é invisível aos olhos. E quem conhece reconhece. Os Porsches reformulados pela Singer são o suprassumo do quiet luxury do setor automotivo.
O resultado impressiona. Com uma pintura feita no tom Dark Sapphire Metallic, que se assemelha a um azul marinho, mas recebe tons de roxo ao encontrar com a luz, o modelo tem os bancos, painel inferior e laterais de porta revestidos em couro na cor Vivaldi – uma mistura de marrom com caramelo.
No volante, painel superior e nas colunas do veículo, uma outra tonalidade de couro, desta vez no clássico Azul Oxford, criam uma sensação de acolhimento. O conta-giros mistura o clássico ao moderno com seu mix de cores profundas e grafismos claros, que esbanjam elegância.
Fora a estética, o ronco dos motores não passa despercebido. Equipado com um motor 4.0 aspirado de 395 cavalos de potência (390 hp), escapamento em titânio e capô em fibra de carbono, o modelo traduz a essência do passado junto a o que há de mais moderno no presente.
“O dono provavelmente vai andar pouco com o carro, porque esse é o perfil dele. Mas, vale deixar claro que o Singer é feito de forma que pode ser realmente utilizado, já que ele não tem nenhum dos problemas que um carro de 1970 teria. Ele não vem zero no painel, mas ele é um carro zero”, explica Leone Andreta, também sócio-proprietário da GTO ao NeoFeed.
Do Singer Classic, modelo do Brazil Commission, foram produzidas 450 unidades – as últimas serão entregues até o fim de 2025, o que faz da versão brasileira ainda mais rara.
Por doze anos, o 911 foi o único modelo produzido pela Singer. Porém, em 2022, buscando expandir a sua produção e alcance, a marca incluiu quatro novos modelos em seu portfólio, sendo eles Turbo Study, DLS Turbo, Classic Turbo e Carrera Coupé, o mais recente lançamento.
Após deixar a fábrica, esses projetos valorizam, em média, 40% e, conforme o tempo passa, eles só ganham mais respeito do mercado e de seus admiradores.
Vale ressaltar que, apesar dos projetos da Singer serem focados nos modelos da Porsche, a marca alemã não tem relação nenhuma com a californiana, algo que a Singer faz questão de deixar claro em todas as suas publicações.
“A Singer não é patrocinada, associada, aprovada, endossada, nem de qualquer forma afiliada à Porsche”, afirma a marca em seu site oficial.
A GTO também explica que, apesar de ter criado uma relação forte com a Singer após dez anos de conversas, não pode se considerar uma representante da marca, já que eles são bastante restritos com esses títulos. Porém, caso algum cliente brasileiro entre em contato com a empresa diretamente, ele será redirecionado à GTO.
Não é para menos que a companhia brasileira já vendeu mais um veículo em parceria com a Singer, que está programado para desembarcar no Brasil em 2027. O modelo, desta vez, é o Turbo Study – o nome, porém, não pode ser revelado, já que é uma homenagem ao sobrenome do dono.
“Nós batalhamos muito para trazer algum exemplar da marca no Brasil e é muito bacana saber que já temos outra unidade sendo produzida”, complementa Amaja. “Esperamos estreitar ainda mais essa relação com a marca nos próximos anos”.