Antes mesmo de detalhar os resultados da BRF no segundo trimestre de 2021, o CEO global da dona das marcas Sadia e Perdigão, Lorival Luz, preferiu começar a videoconferência com analistas tratando de um tema que está fora do seu controle: a inflação.
A escolha não foi à toa. O aumento dos preços, que tem afetado todo o setor e pressiona as margens dos produtos, é, no momento, a maior preocupação da companhia e o principal obstáculo para resultados melhores no balanço, que registrou prejuízo líquido de R$ 199 milhões no segundo trimestre, após um lucro de R$ 307 milhões em igual período do ano passado.
“Essa é uma das maiores inflações de custos que já tivemos”, afirmou Luz. “Chegamos a ter aumento de 100% para o milho e de 50% a 70% para custos como embalagens, transportes, fretes marítimos a farelos. É um ambiente absolutamente adverso para a estrutura de custo de todas as companhias.”
Segundo o executivo, os resultados seriam piores se não fosse o esforço da companhia para fazer o que estava ao seu alcance: trabalhar a eficiência da operação e a produtividade comercial. Ainda assim, a margem bruta da companhia caiu para 19% neste segundo trimestre. Há um ano, era de 21,7%.
“É uma queda? Sim. Mas olhem o que tivemos de inflação de custos”, disse Luz. “E se não tivéssemos esse aumento de custos tão grande, quais seriam as nossas margens?”
Para a BRF, porém, o pesadelo da inflação está perto do fim. Os estoques do setor, que estavam altos no início do ano e pressionaram os preços de mercado para baixo, agora estão normalizados, o que permite uma readequação das margens, afirmou Sidney Manzano, vice-presidente de mercado da companhia.
O movimento só não ocorreu antes, disse Manzano, porque a empresa precisa ter cuidado para repassar os preços sem comprometer a cadeia produtiva. “Estamos fazendo isso bem e, no segundo semestre, acreditamos que haverá uma equação de custos e preços, para um resultado melhor”, afirmou o executivo.
O otimismo com o restante de 2021 se baseia principalmente no que foi visto lá fora. O mercado externo, que também sofreu com a alta dos preços das commodities, já está normalizado, em especial nos Estados Unidos.
“Essa readequação já aconteceu no Brasil? Ainda não. Precisamos de mais para que haja reequilíbrio, mas vai acontecer”, disse o CEO global da BRF. “O mercado internacional é um bom proxy para os próximos períodos no Brasil.”
Entre analistas, porém, o cenário para os preços não é tão otimista. Em relatório sobre a BRF, o Credit Suisse reconheceu que a empresa está se saindo melhor do que a média do setor e elogiou o trabalho da gestão, mas ressaltou que há uma "pressão quase sem fim" sobre os preços dos grãos, que devem durar pelo menos até o fim do ano que vem.
"Isso pode exigir novos aumentos de preços que não poderiam ser absorvidos pela demanda", escreveu o analista Victor Saragiotto. "Como consequência, a BRF (e a indústria em geral) poderá se encontrar em uma situação desafiadora ao longo de 2021, com margens abaixo do potencial."
O analista, no entanto, diz que os resultados divulgados pela BRF para o segundo trimestre não são suficientes para pânico. O Credit Suisse tem uma posição neutra para as ações da companhia.
O preço-alvo é de R$ 22, enquanto o papel fechou negociado a R$ 23,90 no pregão de quinta-feira, dia 12 de agosto. Por volta das 12h, as ações da BRF caíam 0,17%, a R$ 23,86. A empresa é avaliada em R$ 19,4 bilhões.
Apesar do prejuízo registrado no trimestre, a receita líquida da empresa cresceu 27,8% em relação a igual período do ano passado, para R$ 11,6 bilhões. O Ebitda ajustado somou R$ 1,27 bilhão, avanço de 23,2% na mesma comparação.