No início de abril deste ano, Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, abriu o Tech Founders Summit, evento promovido pelo Itaú BBA, anunciando uma novidade: a estruturação de um fundo de corporate venture capital do banco para investir em startups de tecnologia.

Nesta quarta-feira, 28 de setembro, quase seis meses depois, ele voltou ao palco, dessa vez, no Cubo Conecta, evento do Cubo, hub de empreendedorismo ligado ao Itaú. O fundo foi novamente um dos temas da sua participação. Agora, porém, sob um cenário global de fortalecimento do aperto monetário e da elevação das taxas de juros.

“Em abril, o ciclo não era o mesmo de agora, mas se alguém me perguntar o que mudou de lá para cá, a minha resposta é nada”, afirmou o executivo, durante o painel de abertura do evento. “A direção é a mesma, apenas a intensidade e os cuidados mudaram, mas isso faz parte do ciclo do mercado.”

Como parte do processo para colocar o fundo, de fato, em operação, Maluhy Filho disse que tem mantido longas conversas com Anderson Thees e Manoel Lemos. Com um longo histórico na indústria local de venture capital, a dupla foi chamada pelo Itaú para liderar essa iniciativa.

“Nosso corporate venture capital está no forno, sendo dourado e espero, em breve, poder dar mais informações”, afirmou o executivo. “Mas tudo o que nós não tivemos foi pressa, para fazer algo que não seja o ideal.”

Quando anunciou o fundo, em abril, Maluhy Filho sinalizou um prazo de 12 meses para desenhar o projeto. Mas, conforme apurou o NeoFeed, a expectativa é de que o Itaú Unibanco faça seus primeiros anúncios nessa direção ainda neste ano.

Dentro dessa agenda, o CEO do banco aproveitou a oportunidade para dar algumas pistas da abordagem a ser seguida pelo Itaú nessa esfera. Ele ressaltou que a ideia não se resume a financiar empresas e capturar valor no longo prazo com esses investimentos.

“Vai muito além disso. É como o banco, em conjunto com essas startups, consegue estruturas iniciativas realmente grandes, que alavancam a nossa nave-mãe”, disse. Nesse ponto, o executivo frisou o tamanho dessa “nave”, mas fez questão de destacar o cuidado que será tomado na relação com as startups.

“Temos mais de R$ 2 trilhões de ativos, mais de R$ 150 bilhões de patrimônio e mais de R$ 1,2 trilhão de carteira de crédito. É evidente que precisamos de governança”, observou. “Mas não queremos exportar complexidade para essas empresas. Temos que respeitar o momento e a maturidade de cada companhia."

Sob esse viés, ele também comentou sobre o cenário macroeconômico atual e seus reflexos, em especial sobre as empresas de tecnologia. E diante de um público formado, em boa parte, por empreendedores e equipes das 400 startups residentes no Cubo, realçou um aspecto a ser aproveitado nesse contexto.

“É preciso fazer a lição de casa e, por mais doloroso que possa ser esse processo, vocês vão sair empreendedores melhores do outro lado”, afirmou. “Mares calmos não fazem bons marinheiros. Essas tormentas que vão surgindo é o que nos fortalece.”

Maluhy Filho acrescentou dizendo que esse momento irá exigir mais criatividade, inovação e, ao mesmo tempo, pragmatismo. “Se não está dando certo, volta para a prancheta e refaz o plano de negócios. Não adianta ficar lutando contra movimentos que são estruturais”, pontuou.

Ao mesmo tempo, no médio e longo prazo, Maluhy Filho destacou que as empresas do setor têm um potencial enorme a ser explorado, sobretudo na América Latina, região em que o segmento ainda representa uma parcela incipiente do Produto Interno Bruto (PIB).

Nesse horizonte mais amplo, as oportunidades para o Brasil também foram tema da sua participação no painel. Especialmente diante da tendência de desglobalização, um processo que ganhou força a partir da pandemia.

“Temos capital humano de primeira, matéria-prima, um potencial econômico gigantesco e estamos inseridos, geopoliticamente, em um território neutro”, observou. “O País sempre teve uma postura pró-mundo, pró-democracia, e pode exercer um papel muito importante nesse processo de desglobalização.”