Em um longo relatório sobre as eleições 2022, o banco de investimento Credit Suisse diz que acredita que o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, seja eleito em 2022.
Assinado por Solange Srour e Lucas Vilela, o relatório tenta traçar alguns cenários sobre o que esperar de um terceiro mandato de Lula, que foi presidente de janeiro de 2003 a janeiro de 2011.
“O consenso agora é que se Lula for eleito ele será pragmático, aprovando reformas e avançando no processo de consolidação fiscal como fez em 2003”, escreveram os analistas do Credit Suisse. “Ele provavelmente não governaria em linhas populistas.”
A conclusão do Credit Suisse, que acredita na vitória do Lula, é baseada nas pesquisas eleitorais, que mostram um quadro consolidado de disputa entre o canditado do PT e o atual presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com o Credit Suisse, Lula parece ter uma base sólida de cerca de 40% das intenções de voto, o que é menos do que seu pico de 47% observado em dezembro de 2021.
Bolsonaro, por sua vez, está com uma posição sólida de aproximadamente 30%. O demais candidatos ainda não decolaram, o que reduz a probabilidade de um cenario de segundo turno com outros candidatos.
Na parte do relatório em que analisa o cenário de um eventual terceiro mandato do ex-presidente, o Credit Suisse diz que, em 2002, antes da eleição presidencial que acabou vencendo, Lula escreveu uma carta ao povo brasileiro, comprometendo-se a manter o controle das contas públicas e da inflação.
Desta vez, lembra o Credit Suisse, não haverá tal carta, “mas o fato de que o antigo presidente está fazendo propostas para partidos de centro-direita e de direta traz confiança de que ele será pragmático”.
Apesar de um discurso mais centrista, Lula e seus aliados do PT fizeram acenos moderados para a esquerda, lembra o relatório do Credit Suisse. “Por exemplo, ele disse que vai modificar algumas reformas feitas no governo Temer (como a Reforma Trabalhista), aumentar os gastos sociais e aumentar os impostos sobre os ricos.”
O Credit Suisse, no entanto, não enxerga um governo Lula como extremamente pró-negócios e que realizaria reformas que colocariam a economia em um caminho inequívoco de consolidação. “Mas também não vemos como algo que acabaria com a responsabilidade, colocando o país no caminho da insolvência.”
Na visão do Credit Suisse, o equilíbrio entre a agenda de reformas estruturais e a agenda desenvolvimentista dependeria da margem na qual Lula ganharia a eleição, por sua base de coalização no Congresso e pelo nível de preços, como inflação, ativos financeiros, taxa de câmbio e produtos.
“Se Lula vencer por ampla margem e se os agentes econômicos não exercerem muita pressão, então ele provavelmente governará com uma coalizão semelhante a de seu segundo governo, e haverá menos incentivo para adotar uma agenda a favor das reformas.”
Os analistas do Credit Suisse escreveram ainda no relatório que, se Lula for eleito, ele impulsionará o crescimento econômico por meio de mais investimentos públicos e de novos avanços no bem-estar social.
Mas acrescentam que, para compensar os maiores gastos, a nova administração provavelmente aumentará a carga tributária, através da criação de imposto sobre dividendos e de um imposto de renda mais alto.
“Até o momento, não temos clareza sobre quais diretrizes e regras serão propostas pela nova administração para recuperar a credibilidade fiscal tão importante para reduzir os juros e retomar crescimento econômico sustentável.”
Para o Credit Suisse, a manutenção do atual desequilíbrio fiscal representa alta incerteza. E conclui: “Sem ações eficazes para reverter a situação, é provável que a economia continue registrando baixo crescimento econômico em relação aos seus pares.”