Em uma nova frente de sua operação financeira iniciada em janeiro do ano passado, o Walmart agora está entrando no mercado de buy now, pay later, o crediário digital que há tempos é utilizado no Brasil.

Através da One, sua fintech firmada em conjunto com a Ribbit Capital, a varejista deve começar a oferecer o popular crediário já em 2023. A entrada no buy now, pay later seria a última fase para o crescimento da fintech, disseram três pessoas familiarizadas com o assunto ao The Information.

A frente financeira nasceu em janeiro do ano passado e opera com serviços de conta corrente, investimentos e tem seu próprio cartão de crédito. O Walmart não comentou o assunto.

A entrada da One neste mercado coloca mais concorrência para empresas como Affirm e Klarna. Ambas enfrentaram um 2022 complicado com a desvalorização de seus negócios a partir de down rounds. Na Klarna, que já foi a startup mais valiosa da Europa, o valuation caiu de US$ 46 bilhões para US$ 7 bilhões.

Quem também deve ser impactado por esta iniciativa é a Apple. A fabricante do iPhone entrou no segmento em junho deste ano através de uma parceria com o Goldman Sachs e agora permite o parcelamento de compras dentro do Apple Pay.

A entrada neste mercado estava sendo cogitada pelo Walmart pelo menos desde o segundo trimestre deste ano. Na época, uma apresentação interna da empresa contava com um slide que mostrava que havia a intenção de oferecer uma forma de parcelamento de compras.

Ainda que queira ter seu próprio serviço de parcelamento de compras, não é a primeira vez que o Walmart se envolve com esta prática. A varejista já utilizava os serviços da Affirm para oferecer o buy now, pay later para seus clientes. Não está claro se a entrada da One neste mercado vai afetar a parceria.

A entrada do Walmart neste mercado parece fazer sentido. Um estudo realizado pela consultoria canadense Precedence Research aponta que o segmento movimentou US$ 125 bilhões no mundo em 2021. A expectativa é de que esta cifra escale mais de 43% por ano até 2030 para US$ 3,2 trilhões.

Dentro da companhia, no entanto, os planos não parecem conquistar a todos. Fontes disseram ao The Information que a entrada do Walmart no crediário cria uma oferta de crédito arriscada para os consumidores e funcionários (que estão no grupo de testes da funcionalidade). O temor é de que os compradores gastem dinheiro que não têm e acumulem dívidas.

Um relatório divulgado em setembro pela Agência de Proteção Financeira ao Consumidor nos Estados Unidos apontou que as multas por atraso nos pagamentos de compras parceladas estavam se tornando mais comuns. Uma fatia de 10,5% dos consumidores foi multada ao menos uma vez em 2021, contra 7,8% em 2020.