Em um momento em que os principais grupos de educação do Brasil estão em processo de migração do presencial para o digital, a Descomplica está dando seu passo mais ousado para ganhar terreno no mercado de graduação e ser uma “intrusa” no meio de Cogna, Yduqs, Anima e Ser.
A startup de educação está anunciando a compra da UniAmérica, centro universitário do Paraná, em sua primeira aquisição após aporte de R$ 450 milhões coliderado pela Invus Opportunities e pelo Softbank, em fevereiro destes ano.
Com a transação, de valor não revelado, a Descomplica multiplica por mais de cinco o número de cursos que passa a oferecer na Faculdade Descomplica, saltando de quatro para 22. O número de alunos, atualmente na casa de 2 mil, deve atingir 10 mil até o fim do primeiro semestre de 2022.
“Como professor de física, gosto da imagem do pêndulo. Primeiro captamos. Agora, é a hora da execução, com lançamento de novos cursos e crescimento exponencial”, diz Marco Fisbhen, fundador e CEO da Descomplica, ao NeoFeed.
O objetivo da Descomplica é repetir a trajetória da área de pós-graduação, que, em menos de um ano, saiu de 3 mil para 55 mil alunos pagantes. “Vamos ser considerados a maior faculdade do Brasil em pouco tempo, chegando rapidamente a 1 milhão de alunos no modelo 100% digital”, afirma Fisbhen.
Com a UniAmérica, fundada por Ryon Braga, a Descomplica acrescenta ao seu portfólio um menu de cursos voltados para área de tecnologia e engenharia, que se somam aos de administração, contabilidade, pedagogia e recursos humanos, que já eram oferecidos.
A edtech ganha também um método educacional inovador, baseado em projetos e com foco na empregabilidade, além de 2 mil estudantes. O plano é, aos poucos, dar escala às aulas de ensino a distância da UniAmérica.
“A Descomplica vai ser um competidor relevante”, afirma William Klein, CEO da consultoria Hoper Educação. “Ela vão ser uma 'intrusa' no meio desses grandes grupos, pois leva a educação de maneira simples, direta e eficiente. Além de se beneficiar dessa tendência que a Covid-19 acelerou, que é a educação online.”
A compra da UniAmérica faz parte de um plano de investimentos de R$ 1 bilhão nos próximos três anos da Descomplica. Os recursos vão ser gastos em mais M&As, em novo produtos e tecnologias, bem como na geração de conteúdo educacional. O número de funcionários, hoje na casa dos 700, deve chegar a 1,1 mil até o fim de 2021 – 20% desse total são de professores.
O passo da Descomplica para fortalecer sua área de graduação acontece em um momento de transição dos principais grupos educacionais que querem ganhar tração com o ensino online. A Yduqs, por exemplo, acaba de comprar a sua primeira edtech, a QConcursos, voltada para alunos que estão se preparando para concursos, vestibulares e a prova da OAB.
A Cogna está reestruturando o negócio físico da Kroton, sua empresa de ensino superior, com redução de 45 unidades e outras medidas de redução de custos, como aluguel, nos campi que seguem em operação. Ao mesmo tempo, tenta levar mais alunos para os cursos online.
A Descomplica nasceu em 2011, fundada por Fisbhen, um professor de física que começou a dar aulas aos 17 anos para complementar sua renda. A startup surgiu com aulas online para preparar os alunos para o vestibular, em especial o Enem – hoje, cinco milhões de estudantes acessam mensalmente os conteúdos, que são ofertados no modelo freemium.
Ao longo dos últimos anos, a Descomplica foi aumentando o seu leque de ofertas educacionais, com cursos livres e reforço escolar para o ensino médio. Há pouco menos de um ano, colocou no ar a Faculdade Descomplica, com cursos de pós-graduação e graduação.
Fisbhen diz que a área de preparação para o Enem é lucrativa. Ela conta com 300 mil alunos pagantes na modalidade B2C – o empreendedor afirma que ela é oferecida também para empresas, o que faz esse número aumentar.
Mesmo com a pandemia, que trouxe uma série de indefinições para as provas do Enem, Fisbhen diz que essa área seguiu crescendo, embora tenha desacelerado. “Ele foi impactado, mas nunca diminuiu de tamanho”, afirma o fundador da Descomplica.
Uma das estratégias para manter o crescimento acelerado é oferecer cursos para as classes C e D por preços competitivos. A pós-graduação, por exemplo, tem custo anual na casa dos R$ 1.000. Em graduação, a faixa média de preço é R$ 200 por mês. Esses valores não variam ao longo de todo o período do curso.
“É um tíquete bastante baixo e comparável à educação online de massa dos grandes grupos educacionais”, diz Klein, da Hoper Educação.