Ao longo de sua trajetória profissional, o executivo Lucas Madureira passou por empresas como Ambev, Centauro e Rodobens. Sua área de expertise: a de compras.
E, como ele gosta de dizer, esse é um assunto que não se ensina nas melhores faculdades de administração. “Ninguém se forma em compras. Só agora, as empresas mais maduras estão começando a ser mais eficientes nessa área.”
Madureira tem “PhD” em compras na vida real. E ganhou fluência também em uma área tão importante quanto e anterior ao fechamento do negócio, que é o onboarding do fornecedor, todo o longo e burocrático processo de qualificação para que possa vender à empresa.
“São vários processos, que vão do pré-cadastro, cadastro, homologação e due dilligence”, diz Madureira. “É uma megaburocracia e depois ninguém mais monitora.”
Essa é a principal ideia por trás da Gedanken, startup que desenvolveu uma plataforma de onboarding e de gestão de risco de fornecedores e parceiros, fundada por Madureira em conjunto com Tais Barreto Malta e André Luiz Martins Pignata, em 2018, que acaba de receber um aporte de R$ 4 milhões da ABSeed em conjunto com a Caravelas Capital.
Esse é o primeiro investimento do segundo fundo da ABSeed, que está levantando R$ 150 milhões para investir em startups de SaaS (Sotware as a Service) – até agora, dois terços desse valor já foram captados com investidores.
“Os empreendedores vivenciaram esse ambiente de forma intensa e tem uma vasta experiência nesse tipo de negócio”, diz Geraldo Melzer, sócio da ABSeeed. “A plataforma da Gedanken dá dinamismo para as empresas fazerem a gestão de seus fornecedores.”
De acordo com Madureira, a plataforma, batizada de G-Certifica, junta várias áreas dentro da empresa que não se conversavam na hora de escolher um fornecedor, como compras, procurement, cadastro e financeiro.
De forma automatizada, ela acessa mais de 400 bases de dados, como dívida com governo, multas, processos na Justiça e até mesmo se o fornecedor está em alguma lista de restrição nacional e internacional. Depois, faz o monitoramento ativo de “compliance”.
“Nossa plataforma classifica o rico financeiro e a integridade da empresa”, afirma Madureira. “Se está tudo OK, o processo é aprovado rapidamente. Dependendo do que for pego, ela direciona para workflows de aprovação.”
O empreendedor diz que o tempo médio de processos de onboarding, da forma tradicional, demoram de seis a sete semanas. Pela Gedanken, isso pode cair para um ou dois dias por conta da automação e dos workflows entre as diversas áreas, que aceleram a aprovação do fornecedor.
A Gedanken já conta 200 mil fornecedores que se cadastraram em sua plataforma e com 70 clientes. São nomes como JSL, Souza Cruz, BRF, Eldorado Celulose, OdontoPrev, Heinz, Movida, DHL e Carrefour.
Com os recursos, a meta é passar de 200 clientes até o fim de 2022. O número de funcionários deve quase triplicar. Hoje, são 30 pessoas, quase dois terços deles da área de tecnologia. A meta é chegar a 80 empregados no total.
O modelo da Gedanken envolve o pagamento de um valor por fornecedores que são acrescentados na plataforma. Na maioria dos casos, o custo é pago pela empresa que está fazendo o cadastramento.
Mas Madureira diz que uma parcela delas joga a conta para aquelas que querem se tornar fornecedoras de uma grande empresa. Nesse caso, Gedanken cobra uma anuidade e permite que a companhia possa se cadastrar em quantas empresas quiser.
A Gedanken é a primeira startup do fundo 2 da ABSeed, que segue a mesma tese do primeiro, que captou R$ 45 milhões e investiu em dez startups.
No portfólio da gestora estão empresas como Aegro, dona de um software de gestão agrícola; a Conta Simples, uma conta digital para pequenas empresas; e a Asksuite, plataforma online que quer eliminar os intermediários nas reservas dos hotéis, entre outras empresas.
Com o novo fundo, a ABSeed pretende investir em até 15 startups e vai aumentar o tamanho médio de seu cheque de R$ 2 milhões para R$ 4 milhões. A ideia é seguir fazendo investimentos seed, mas há a possibilidade de entrar em duas ou três rodadas séries A.