CEO da Juntos Somos Mais, Antonio Serrano costuma dizer que a empresa, fruto de uma joint venture entre Votorantim Cimentos, Gerdau e Tigre, se inspira no modelo de ecossistema do Alibaba. Com uma diferença. Aqui, a criação de tentáculos que se retroalimentam envolve a cadeia do varejo da construção civil.
Fundada em 2018, a companhia ainda tem um bom caminho a percorrer para replicar, em seu setor, o alcance e a influência do grupo chinês. Mas está dando mais um passo para tornar essa ambição uma realidade.
Com o caixa reforçado pelo aporte de R$ 100 milhões de suas três sócias, em abril deste ano, a Juntos Somos Mais anuncia nesta terça-feira, 6 de julho, a compra da operação brasileira da espanhola habitissimo, marketplace de serviços que conecta consumidores com profissionais para construções e obras de grande porte.
A partir da transação, cujo valor não foi revelado, a plataforma e os 582 mil profissionais cadastrados na habitissimo serão integrados à Triider, marketplace de pequenos reparos, serviços de manutenção e reformas que abriu, em setembro de 2020, a agenda de aquisições da Juntos Somos Mais.
“Essa aquisição é muito complementar à operação da Triider, que é nossa principal aposta na conexão com os profissionais e o B2C”, diz Serrano, ao NeoFeed. “Com o acordo, nossa expectativa é alcançar uma base próxima de 1 milhão de participantes no nosso ecossistema, entre lojas e profissionais.”
Hoje, além da Triider e de uma fatia minoritária da Conecta Reforma, plataforma de reformas adquirida em janeiro deste ano, a Juntos Somos Mais tem um programa de fidelidade, com 28 empresas. E ainda a Loja Virtual, marketplace B2B que movimentou R$ 7,4 bilhões em 2020.
“O primeiro passo será assumir o ativo e fazer com que a operação siga rodando, de forma transparente”, afirma Juliano Murlick, fundador e CEO da Triider. “Mas nosso plano é consolidar uma plataforma única de contratação de serviços, dos de manutenção às obras mais complexas”
Hoje, a Triider oferece mais de 50 serviços e está presente em 17 cidades do País, incluindo capitais como São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Fortaleza e Curitiba. A startup planeja fechar 2021 com 50 cidades no portfólio e triplicar sua receita, para R$ 12 milhões.
A aquisição da habitissimo pode ajudar a encurtar esse caminho. “Eles já estão em mais de 500 cidades do País”, explica Murlick. “Nossa ideia é capturar parte dessa presença para oferecer também os nossos serviços.”
Sob a ótica de ecossistema, além de turbinar a oferta da Triider, Serrano destaca que a chegada da habitissimo dialoga com o plano da Juntos Somos Mais de oferecer uma alternativa para que os profissionais do setor tenham uma trilha completa para evoluir na carreira, a partir do acesso a um leque mais amplo de serviços e a cursos de capacitação, por meio das suas plataformas.
O apetite por aquisições da empresa não se esgota, porém, nos três acordos fechados até o momento. A companhia segue ativa na busca por outras oportunidades. O pacote pode incluir desde construtechs até empresas em áreas como tecnologia e logística, com soluções voltadas para o setor.
“Uma boa parcela dos R$ 100 milhões será reservada para aquisições”, diz Serrano. Ele acrescenta que não há restrições no tamanho dos cheques. “Podemos captar mais recursos com os acionistas ou no mercado se houver algo que faça sentido, mas a tendência é que sejam acordos de menor porte”
A julgar por um levantamento realizado em abril pela Terracotta Ventures, fundo de venture capital especializado nos segmentos imobiliário e de construção, não faltam opções na mesa para a avaliação da Juntos Somos Mais.
O estudo identificou 839 construtechs e proptechs no País, com um crescimento de 19,5% na comparação com 2020 e de 235% desde a primeira edição da pesquisa, feita em 2017. O segmento mais focado no ambiente de obras responde por uma participação de 26% desse total.
“Ninguém conseguiu chegar ainda a um tamanho relevante nesse espaço específico”, afirma Marcus Anselmo, sócio da Terracotta Ventures. “Os marketplaces de serviços só vão ganhar escala quando estiverem conectados a outras plataformas, como é o caso da Juntos Somos Mais.”
Além da empresa, Anselmo cita outro movimento recente e que também vai nessa direção. Trata-se da aquisição da Fix, startup de reparos domésticos, pela Tempo Assist, empresa de assistência especializada controlada pela gestora Carlyle e que tem ainda a Swiss Re entre suas sócias.
Com uma base de cerca de 25 milhões de clientes, a Tempo Assist comprou a Fix em março desse ano, em um acordo de R$ 210 milhões.