Já se tornou comum o surgimento de startups que atuam no mercado plant-based com a intenção de substituir proteína animal com o uso de vegetais em uma troca que, além de poupar a vida dos animais, também reduz as emissões de carbono decorrentes da atividade pecuária.
Uma startup americana, no entanto, quer fazer essa troca utilizando como base o próprio dióxido de carbono. Com sede na Califórnia e fundada em 2019 pela física Lisa Dyson e o cientista de materiais John Reed, a Air Protein promete “criar carne a partir do ar”.
Para fazer isso, a companhia combina micróbios com dióxido de carbono para criar a proteína que serve como base para a criação de alimentos que se assemelham à carne. A técnica, que parece bizarra, na verdade, é estudada desde a década de 1960.
Dyson e Reeds tiveram a ideia de criar a proteína a partir do ar após analisarem pesquisas feitas pela Nasa ainda na década de 1960 e que abordavam técnicas para alimentar astronautas durante longas jornadas especiais.
Uma das ideias analisada pelos pesquisadores na época explorava a combinação de micróbios com o dióxido de carbono dos próprios astronautas para a produção de alimentos. Isso nunca saiu do papel. Pelo menos, até Dyson e Reed criarem a Air Protein.
Em 2020, a companhia recebeu um prêmio no Fórum Econômico Mundial, em Davos, pelo desenvolvimento de uma tecnologia pioneira.
Cultivo sustentável de micróbios
Para transformar dióxido de carbono em carne bovina, de frango ou de peixe, a Air Protein cultiva micróbios hidrogenotróficos em tanques de fermentação e os alimenta com uma mistura de dióxido de carbono, oxigênio, minerais, água e nitrogênio. Em parte, o processo é semelhante ao realizado na produção de iogurte.
O resultado da fermentação é uma farinha rica em proteínas e que possui aminoácidos semelhantes aos encontrados na proteína da carne. Essa farinha, então, é utilizada na culinária para ser transformada em algo semelhante a um peito de frango ou um bife bovino com técnicas de pressão, temperatura e cozimento.
Os produtos que estão sendo desenvolvidos ainda não chegaram ao mercado e estão em fase de testes pela empresa. Não há uma previsão de quando a carne feita a partir de ar chegará às prateleiras dos supermercados. O desafio maior parece ser encontrar uma forma de fazer isso de forma sustentavelmente econômica e comercial.
O mercado parece ter apostado que isso pode ser possível de ser feito. No começo do ano passado, a Air Protein levantou US$ 32,1 milhões numa rodada de Série A liderada pelos fundos GV (antiga Google Ventures), ADM Ventures e pelo banco Barclays.
Carbono negativo
Ecologicamente, a diferença da Air Protein para outras empresas que tentam substituir a carne por outro tipo de proteína é que, ao utilizar o dióxido de carbono no processo, a startup californiana consegue ser carbono negativa. Ou seja, quanto mais comida produzida pela Air Protein, menos carbono haverá na atmosfera.
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico apontam que em uma escala global o consumo de carne corresponde a emissão de 350 milhões de toneladas de gases do efeito estufa na atmosfera a cada ano.
Isso sem contar outros problemas. O uso de terra é 1,5 milhão de vezes inferior ao utilizado pela indústria pecuária na produção de carne bovina, enquanto o uso de água é 15 mil vezes menor.