Yvon Chouinard não é o típico empresário. Na verdade, nunca quis ser. Ele fundou a marca de roupas e equipamentos Patagonia, em 1984, para produzir equipamentos de escalada para ele e seus amigos. Apesar de ter uma fortuna na casa dos US$ 1,2 bilhão, de acordo com a revista americana Forbes, Chouinard dirige um carro usado, usa roupas velhas e não tem celular ou computador. 

Mesmo sua empresa não segue à risca os preceitos capitalistas, aderindo às prioridades de seu fundador. A Patagonia foi uma das primeiras a adotar pautas progressistas, desde comprar algodão orgânico para suas roupas a instalar creche em sua sede. Ela, inclusive, chegou a desencorajar as pessoas de comprarem seus produtos, tendo veiculado propagandas em Black Fridays nesse sentido. Com medidas como essa, Chouinard foi um dos percursores do capitalismo consciente.

Agora, aos 84 anos, Chouinard decidiu abrir mão do controle da empresa em nome do meio ambiente. Em vez de vender a companhia ou abrir seu capital, o empresário e sua família transferiram suas participações na Patagonia, avaliada em US$ 3 bilhões, para uma série de fundos e organizações não governamentais. 

O plano prevê que 100% do capital votante da empresa será destinado a um trust criado para proteger os valores da empresa, enquanto 100% das ações sem poder de voto serão destinadas à ONG Holdfast Collective, dedicada a combater a crise climática e defender a natureza. 

“Tomara que isso influencie uma nova forma de capitalismo que não resulte em algumas pessoas ricas e um bando de pessoas pobres”, disse Chouinard em entrevista ao The New York Times. “Vamos doar o maior montante possível de dinheiro para pessoas que estão buscando salvar este planeta.”

A Patagonia continuará operando como uma empresa privada, em busca de lucro, com receita anual de mais de US$ 1 bilhão e lucro de US$ 100 milhões. Mas a família Chouinard não terá mais participação na companhia. 

O trust será supervisionado por membros da família e assessores próximos e deverá manter o compromisso da Patagonia em ser uma companhia socialmente responsável e que repassará seus lucros para a ONG. 

A decisão da família Chouinard ocorre no momento em que a sociedade cobra mais responsabilidade de bilionários e das empresas, cuja retórica de tornar o mundo melhor acaba às vezes ofuscada por ações que causam os problemas que eles se propõe a resolver.