O impasse na Fiesp, iniciado na semana passada, com a destituição do presidente da entidade, Josué Gomes da Silva, numa assembleia geral convocada pela oposição e cuja votação final pela destituição não foi reconhecida pelo grupo que apoia o presidente, teve nesta segunda-feira, 23 de janeiro, um novo desdobramento.
Num gesto de aproximação com os representantes de sindicatos de oposição, Gomes da Silva – que ainda segue no cargo – convocou uma reunião, realizada no final da tarde desta segunda-feira e aberta à participação de todos os sindicatos, para discutir a governança da entidade patronal.
O objetivo era avançar na criação de um ou mais comitês de aprimoramento da governança, atendendo a propostas feitas durante a assembleia da última semana que o destituiu. Estiveram presentes aproximadamente 30 sindicatos, dos dois lados, um quórum considerado baixo. Avançou-se na discussão de um sistema eficiente de governança, mas sem definição
O fato de o número de representantes de sindicatos de oposição presentes na reunião ter sido baixo mostrou que a crise na Fiesp está longe de chegar ao fim.
Hora antes da reunião, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma carta manifestando apoio “irrestrito e incondicional” à permanência de Gomes da Silva. Empresários ligados à Fiesp ouvidos pelo NeoFeed lamentaram o clima de polarização que tomou conta da entidade.
“A ideia do Josué de aprimorar a governança é correta, acho que a Fiesp deveria contratar uma consultoria para avançar no tema, definir melhor o papel dos representantes de diferentes sindicatos na entidade”, afirmou o empresário Eduardo Capobianco, um dos vice-presidentes não numerado da Fiesp.
Outro empresário, que não quis se identificar, disse que a decisão da assembleia da semana passada que destituiu Gomes da Silva foi de “uma violência desnecessária”. Ligado ao agronegócio, ele pediu o fim da polarização. “Precisamos insistir no bom senso e numa solução negociada”, disse.
Abaixo-assinados
Gomes da Silva chegou à reunião fortalecido, após receber uma série de apoios no fim de semana em resposta a uma nova investida da oposição, ocorrida na tarde de sexta-feira, 20 de janeiro, que surpreendeu os apoiadores do presidente.
Numa circular enviada aos funcionários da entidade, enquanto Gomes da Silva estava em Brasília reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o segundo diretor-secretário da entidade, Ronaldo Rodrigues, anunciou que o vice-presidente Elias Miguel Haddad, de 95 anos, havia tomado posse da presidência em caráter interino.
Rodrigues citou o estatuto da Fiesp para justificar a decisão – que prevê, em caso de destituição do presidente, que o sucessor será definido pela diretoria, em até 30 dias, escolhendo um entre os três vice-presidentes da entidade.
Como a ata da assembleia do dia 16, que destituiu Gomes da Silva, não havia sido registrada em cartório até o final de sexta-feira, a posse de Haddad poderia ser juridicamente questionada.
Na verdade, a defesa de Gomes da Silva jamais reconheceu a destituição do presidente, definida numa segunda votação após ele e seus aliados deixarem a assembleia geral. A nomeação de Haddad sem nenhuma discussão interna gerou um grande movimento de apoio a Gomes da Silva no fim de semana.
Na própria sexta-feira, um abaixo-assinado de membros Conselho Jurídico da Fiesp, subscrito por Arthur Badin, Leandro Chiarotino e Walfrido Warde, entre outros nomes, apontou “alegações fúteis” na tentativa de deposição do atual presidente.
No dia seguinte, foi a vez de ser divulgado um abaixo-assinado do Conselho Superior de Economia da Fiesp, manifestando apoio à gestão do atual presidente da Fiesp. O grupo tem como membros André Lara Resende, Gabriel Galípolo e Armando Castelar Pinheiro, entre outros nomes.
Ainda no fim de semana, o conselho criativo da entidade – criado por Gomes da Silva – reforçou apoio ao presidente da Fiesp, num manifesto que teve a assinatura de nomes como o do apresentador Luciano Huck, de Petro Zezé, presidente da Central Única das Favelas, e do ator Antonio Fagundes.
Polarização
Eleito em julho de 2021 com mais de 90% dos votos, Gomes da Silva tomou posse em janeiro de 2022 e rapidamente começou a atrair críticas à sua gestão.
Mesmo tendo recebido apoio do ex-presidente Paulo Skaf (que dirigiu a entidade por 17 anos), Gomes da Silva renovou vários conselhos da Fiesp, trazendo nomes ligados à grande indústria que haviam se afastado durante a longa gestão de Skaf.
Nos bastidores, a críticas de opositores à gestão de Gomes da Silva se concentram em dois pontos. Num deles, o presidente da Fiesp é tido como de “difícil relacionamento”. Embora educado, é visto como muito reservado, que não costuma receber em audiência os representantes de sindicatos patronais de pequenas indústrias – atraídos para Fiesp por Skaf.
Outra crítica é a pouca presença na sede da entidade, na Avenida Paulista. Gomes da Silva comparece em dois ou três dias por semana na Fiesp, diferentemente de Skaf, que batia ponto todos os dias.
O fato de Gomes da Silva ser amigo do presidente Lula – seu pai, José de Alencar, foi vice-presidente nos dois mandatos do petista, entre 20023 e 2010 –, também pesou contra.
O manifesto pela democracia divulgado pela Fiesp em agosto do ano passado, com apoio de apenas 15% dos sindicatos da entidade, ajudou a atrair a ira contra Gomes da Silva.
“Os opositores do Josué dizem que ele apoiou o Lula, mas, na verdade, ele foi totalmente isento na eleição, convidou todos os candidatos para irem à Fiesp e deu a cada um deles um documento com propostas da entidade”, disse o representante de um sindicato ligado à área de infraestrutura, que não quis se identificar.
De acordo com essa fonte, o que Gomes da Silva fez foi acabar com a política pequena, de troca de favores, que estava imperando na Fiesp. “É uma estrutura que sobrevive de dinheiro compulsório, com estruturas políticas arcaicas e cartorialmente controladas por pequenos sindicatos”, acrescentou, lembrando que Skaf usou politicamente a entidade para se candidatar ao governo estadual três vezes, sem jamais conseguir se eleger.
Um consultor externo que sempre presta serviços para a Fiesp disse ter ficado impressionado com o atual clima de polarização. “Acho difícil apostar numa reconciliação a curto prazo”, disse.
Outro empresário, ligado à grande indústria, lamentou os efeitos para a imagem da Fiesp com a atual disputa. “Toda vez que a Fiesp toma uma posição político-partidária, como no impeachment da presidente Dilma Rousseff ou contra o manifesto pró-democracia do ano passado, tem sua credibilidade arranhada”, diz. “Se a atual disputa for judicializada, a entidade vai perder anda mais sua relevância.”