Talvez o telespectador acreditasse já ter visto de tudo no universo feminino da espionagem. Principalmente depois da popularidade alcançada por séries como “Homeland” (2011-2020), “The Americans” (2013-2018), “Alias” (2001-2006) e “La Femme Nikita” (1997-2001).
Mas “Killing Eve” mostrou que as mulheres ainda podiam revolucionar o gênero que tradicionalmente envolve o jogo de gato e rato. Em sua terceira temporada, que acaba de chegar ao Brasil pelo streaming Globoplay, a série recorre ao humor negro e, por vezes, ao grotesco para apimentar a narrativa marcada por rede de intrigas, por perseguições e pelo perigo.
Com foco na obsessão mútua entre uma detetive do MI6 e uma serial killer extravagante, “Killing Eve” é um dos shows mais viciantes da TV atualmente. Na cerimônia do Emmy, o Oscar da TV que será entregue em 20 de setembro, a coprodução entre EUA e Reino Unido concorre a oito prêmios, incluindo o de melhor série dramática.
A criadora do show, a britânica Phoebe Waller-Bridge, explica – pelo menos em parte – o sucesso. Ela é mais conhecida pela franqueza e pelo humor cortante que imprimiu em outras séries inglesas, como “Crashing” (2016) e “Fleabag” (2016-2019), expondo as frustrações femininas profissionais e sexuais, mesmo que isso inclua piadas escatológicas.
Apontada como “a voz da mulher moderna”, Phoebe até foi chamada para o time de roteiristas do novo filme de James Bond, “Sem Tempo para Morrer”, com previsão de estreia em novembro nas telas.
Baseada no livro “Codename Villanelle”, de Luke Jennings, “Killing Eve” propõe uma reflexão sobre a solidão feminina e um eventual mundo sem consciência. Isso explica a serial killer glamourosa gostar de “ver a luz esmaecer nos olhos de suas vítimas”.
“O que também temos a nosso favor são duas atrizes extraordinárias que estalam como faíscas, estejam juntas ou separadas nas cenas”, disse a produtora executiva Sally Woodward Gentle. Durante evento online com cobertura do NeoFeed, Sally se referiu aqui à canadense de origem coreana Sandra Oh e à britânica Jodie Comer.
Mais lembrada como a dra. Cristina Yang, de “Grey’s Anatomy”, Sandra interpreta Eve, uma americana que trabalha na inteligência britânica e descobre que assassinatos aparentemente aleatórios foram cometidos pela mesma pessoa (“uma mulher”, conforme a sua intuição).
Jodie vive a irreverente Villanelle, uma assassina de aluguel fashionista que é altamente eficiente em suas matanças, muitas vezes surreais. Ao descobrir que uma agente mulher está no seu encalço, Villanelle passa a caçá-la também, criando um vínculo obsessivo.
Mesmo com missões opostas, elas acabam atraídas uma pela outra por conta da inteligência, do empoderamento e das habilidades da adversária (o que sugere até uma tensão sexual). “É importante para nós que o relacionamento esteja sempre evoluindo e que o entendimento das personagens, sobre o que uma representa para a outra, mude constantemente também”, contou a produtora executiva.
“Às vezes, elas apenas se iludem, tentando racionalizar o que existe entre elas. Mas o que fala mais alto é o ego das duas. É com isso que nós jogamos na história”, completou Sally. Tanto Sandra quanto Jodie estão indicadas ao Emmy de melhor atriz de série dramática pelas performances nesta terceira temporada.
Essa nova safra, de oito episódios, fez de “Killing Eve” o show mais visto deste ano no serviço de streaming da BBC, o iPlayer, na Inglaterra – posição que dividiu com a série “Normal People”. Nos EUA, a estreia dessa temporada atraiu mais de 1,1 milhão de telespectadores.
“As cenas entre Eve e Villanelle funcionam por acontecerem em uma espécie de bolha”, afirmou Sandra Oh, ao explicar o que torna o show tão especial. Apesar de muitas outras séries serem protagonizadas por mulheres fortes, o que a atriz destaca aqui é o envolvimento psicológico profundo entre a heroína e a vilã.
“Embora o que elas façam possa parecer ultrajante muitas vezes, as duas estão totalmente imersas na dinâmica que estabeleceram. É como se não importasse o que acontece ao redor, desde que elas sejam verdadeiras a si mesmas na dança que criaram”, acrescentou Sandra.
Uma das novidades na terceira temporada será desvendar a origem de Villanelle, com o roteiro fazendo uma parada na Romênia, onde a personagem reencontrará a mãe e outros familiares. “Até então, o passado de Villanelle sempre foi um mistério. Para entender por que ela é desse jeito, eu sabia que seria inevitável explorar de onde a personagem vem”, disse Jodie.
O que mais agrada a atriz no rumo que a trama tomará é o fato de “Killing Eve” não corresponder às expectativas. “Por mais que a tendência seja Villanelle aceitar quem ela é, o público provavelmente espera uma outra, mas terá outra”, completou Jodie, adiantando que as duas rivais terão momentos inesperadamente emocionais pela frente.
Com produção da Sid Gentle Films, da BBC America e da BBC iPlayer, “Killing Eve” já garantiu uma quarta temporada. O anúncio foi feito antes mesmo da estreia da terceira na Inglaterra e no Reino Unido, em abril. Só que a produção, que deveria ter sido retomada em agosto, foi suspensa em função da pandemia de Covid-19.
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