Há 18 anos no mercado, a brasileira Avell encontrou seu lugar ao sol na categoria de computadores ao apostar no filão dos notebooks gamer. Agora, no entanto, a empresa catarinense quer ser conhecida não apenas por ser a queridinha dos jogadores. E tem uma justificativa milionária para essa guinada.
A companhia fechou 2021 com uma receita de R$ 207 milhões, alta de 90% sobre o número reportado um ano antes. E viu esse crescimento ser impulsionado pelos notebooks da sua linha profissional, composto por máquinas potentes, mas com design mais sóbrio.
“Com a crise da pandemia, em que as pessoas passaram a ficar em casa, todo mundo precisou de um notebook”, diz Emerson Salomão, fundador e CEO da Avell, ao NeoFeed. “Tanto o usuário final quanto as empresas.”
Segundo os dados mais recentes da consultoria IDC, referentes ao terceiro trimestre de 2021, foram vendidos 1,8 milhão de notebooks entre julho e setembro no mercado brasileiro, 43% a mais do que o volume registrado no mesmo trimestre do ano anterior.
Para Daniel Voltarelli, analista do mercado de tecnologia da informação e comunicações da IDC, o aumento da demanda por computadores está relacionado a recuperação gradual da economia, à renovação de equipamentos e ao aumento no número de máquinas em cada residência.
“Uma família de quatro pessoas, por exemplo, que só tinha um computador, precisou adquirir outras máquinas para acomodar as suas atividades diárias”, diz Voltarelli.
Fundada em 2004, a Avell surgiu com uma marca de notebooks gamer de alto desempenho dentro da operação da empresa Notebook Center. Com o crescimento da linha, a companhia foi rebatizada com Avell, em 2010 e passou a apostar exclusivamente na linha voltada para os jogadores virtuais.
Para ganhar terreno entre os gamers, a empresa chegou a patrocinar algumas equipes de eSports durante a década passada como forma de divulgar a marca. Entre elas, a Forsaken eSports e a Insight Sports, conhecidas pelas disputas no jogo “League of Legends”.
“Fomos a primeira empresa brasileira a montar notebooks voltados para jogos no Brasil e conseguimos sair na frente”, diz Salomão. Em meados de 2015, porém, a Avell também passou a produzir também notebooks para uso profissional.
Esse segmento representou mais de 70% das vendas da Avell em 2021. O que se refletiu também nas linhas de produção da companhia. Ao todo, foram 21 mil notebooks produzidos pela empresa no período, contra 12 mil máquinas em 2020. A previsão para esse ano é aumentar o volume para 25 mil unidades.
A empresa concentra sua produção em uma fábrica em Manaus (AM). Com 1 mil m² e cerca de 40 funcionários, a unidade tem capacidade para produzir entre 1,5 mil e 2 mil unidades de notebooks por mês, com uma operação dividida em células de montagem.
Ainda que a maior parte da receita venha dos produtos voltados para trabalho, há pouca diferença, na prática, entre as linhas da fabricante catarinense. Internamente, os notebooks são bastante semelhantes e diferenciam-se apenas na personalização dos equipamentos, sendo que um pode ter uma placa de vídeo ou um processador melhor.
A principal diferença era o design dos aparelhos. Os modelos anteriores produzidos voltados para jogos tinham design mais arrojado, com vincos e luzes. Nos últimos tempos, porém, a companhia passou a apostar em um visual mais sóbrio em todas as linhas – até para permitir que um mesmo aparelho possa agradar a profissionais e jogadores.
No segmento profissional, uma das estratégias da empresa na disputa com gigantes multinacionais como Dell, Samsung e Asus é a preferência por trabalhar com determinados nichos de mercado. Entre eles, profissionais das áreas de odontologia, arquitetura, design, desenvolvimento de sistemas, fotografia, engenharia e produtores de conteúdo em vídeo.
A entrada da Avell neste novo mercado aconteceu quando a empresa identificou uma demanda por aparelhos potentes para o uso no trabalho. “O profissional acabava tendo que comprar um notebook gamer, mas ele não queria um computador cheio de luzes e vincos, e sim, um design mais limpo”, diz Salomão.
Para divulgar a marca a esse novo público, a Avell passou a frequentar feiras profissionais e firmar parcerias com empresas e escritórios de cada um dos seus mercados-alvo. Em andamento, o próximo passo envolve estruturar uma equipe dedicada unicamente a atender empresas.
“Não vamos fazer distinção entre as pequenas, médias ou grandes”, diz Salomão. “Vamos trabalhar uma por uma.” A companhia não divulga números referentes às vendas para pessoas jurídicas.
Nos últimos anos, os produtos da linha profissional também ganharam mais destaque no e-commerce da Avell. E outra aposta da empresa é a abertura para a personalização dos equipamentos. “O cliente pode escolher as peças que se adequam ao que ele procura, como a troca de um HD por SSD com mais espaço ou mais memória RAM”, observa Salomão.
De olho nesse público, a Avell projeta seguir crescendo em 2022. A previsão é ampliar a receita entre 30% e 40% e faturar algo próximo de R$ 300 milhões.
Essa perspectiva pode aproximar a operação de investidores. Ao contrário de tantas empresas de tecnologia que surgem no mercado, a companhia nunca recorreu a investidores privados. Pelo menos até agora. Isso deve mudar no futuro.
“Pensamos em ir ao mercado, trazer um parceiro e até realizar um IPO no futuro. Mas precisamos nos preparar bem para isso”, diz Salomão, sobre a evolução necessária em processos ligados à contabilidade à auditoria das contas da empresa.
Em paralelo, a Avell vai ampliar seus investimentos em marketing, que contemplam, por exemplo, a abertura de um showroom em São Paulo, onde será possível testar e encomendar seus notebooks. Operações semelhantes já funcionam em Curitiba (PR) e São José (SC), cidade próxima de Florianópolis.
A empresa também trabalha com um aumento no tíquete médio dos computadores, que hoje partem da faixa de R$ 6 mil. O preço vem sofrendo alteração pela desvalorização do real, o que torna mais caro o processo de produção, bastante atrelado a componentes importados.
Esse aumento já estava sendo refletido no mercado desde 2021. No terceiro trimestre, o preço médio dos notebooks vendidos no País cresceu 15%, para R$ 4.475, segundo a IDC. “A alta de preços foi puxada pela inflação, falta de componentes e pela busca dos consumidores por máquinas melhores”, afirma Voltarelli, analisa da consultoria.
A falta de componentes está relacionada principalmente aos chips semicondutores. Salomão, inclusive, conta que precisou adaptar o processo de compra de peças, com um prazo de antecedência que saiu de dois para seis meses.
Além dos chips, a companhia importa componentes como telas e placas do mercado asiático e faz a montagem dos notebooks na sua fábrica em Manaus. O maior foco na linha profissional não significa, porém, um game over para os notebooks para gamers da marca. Novas máquinas, com design arrojados, estão na esteira para serem lançados neste ano, inclusive um com refrigeração por água.