Em um novo capítulo da batalha das empresas de streaming, Netflix e Disney agora protagonizam uma corrida atrás dos anunciantes. Ambas pretendem lançar, ao longo dos próximos meses, opções de planos mais baratos para os consumidores. Para pagar a conta, essas assinaturas vão exibir propagandas.

Nesta disputa, a Netflix parece estar na dianteira. A companhia com sede em Los Gatos, na Califórnia, pretende lançar sua assinatura com anúncios já em novembro – bem antes da previsão inicial, no começo de 2023. Já a Disney, por sua vez, anunciou que pretende ter o seu plano com publicidade, chamado de Disney+ Basic, somente em dezembro.

Segundo o Business Insider, a Netflix tem corrido atrás de agências de publicidade. Nas reuniões, executivos da empresa de streaming estão pedindo para que os anunciantes enviem seus conteúdos publicitários até o fim deste mês.

O adiantamento da Netflix não é coincidência. A companhia tem feito esforços para conseguir antecipar o lançamento de sua nova opção em uma tentativa de ganhar mais assinantes. O entendimento é de que uma vez que alguns consumidores já tenham um serviço streaming, podem optar por não assinar outras plataformas.

O que pode atrapalhar é que a companhia estaria cobrando um preço 20% maior do que o praticado por suas concorrentes. O valor mínimo que cada anunciante teria que comprometer com a plataforma também está elevado: em torno de US$ 20 milhões. Outra reclamação é que não há qualquer tipo de exclusividade, o que permite que empresas rivais veiculem anúncios na plataforma.

A ideia da Netflix é de que os anúncios não atrapalhem a diversão dos usuários. A veiculação publicitária acontecerá antes e durante a transmissão do conteúdo e não deverá ultrapassar o limite de quatro minutos por hora – num padrão semelhante ao praticado por outras empresas de streaming que já apostam em anúncios, como a HBO Max.

A Netflix prevê ganhar pelo menos 500 mil assinaturas em seu plano mais barato até o fim deste ano. Há o risco de canibalização. Ou seja: a possibilidade de que alguns assinantes migrem para o plano mais barato. Por um lado, isso poderia ajudar a atrair novos anunciantes. Por outro, diminuiria a receita obtida com as mensalidades.

A previsão é de que o valor desta assinatura nos Estados Unidos gire em torno de US$ 6 até US$ 9 por mês. Já o plano tradicional sai por US$ 16 mensais. Na conversão para o preço praticado no Brasil, o valor poderia girar entre R$ 10 e R$ 15 por mês. A assinatura convencional sai por R$ 25,90 por aqui.

Numa estratégia de “pague menos, mas veja anúncios”, a Netflix tenta salvar um ano ruim para seus negócios. Os últimos resultados financeiros da companhia até agradaram ao mercado (ao contrário dos números do primeiro trimestre), mas mostraram que a empresa perdeu quase 1 milhão de usuários. Por outro lado, registrou alta de 8,5% na receita, para US$ 7,9 bilhões e lucro líquido de US$ 1,4 bilhão, alta de 6,5% ante o mesmo período do ano passado.

No mercado de capitais, a Netflix ainda precisa mostrar que pode se recuperar de um duro tombo no valor de suas ações. Avaliada em US$ 93 bilhões, a empresa está distante do valor de mercado recorde atingido durante a pandemia. Em outubro do ano passado, a Netflix chegou a ter valor de mercado de mais de US$ 300 bilhões. Desde o começo do ano a desvalorização dos papéis já é de 63%.

Na Disney, o plano é ser "a Amazon"

Se ficou para trás na disputa com a Netflix pelos anunciantes, a Disney vem se movimentando em outra pista. A companhia pretende adotar um novo modelo de negócios em que iria unificar diferentes serviços em torno de uma única assinatura. A ideia seria juntar o serviço de streaming Disney+ com descontos em produtos da marca e em ingressos para os parques de diversão da companhia.

O modelo não é novo e ganhou mais notoriedade com a Amazon. A companhia criada por Jeff Bezos oferece uma assinatura única que dá acesso aos serviços Prime Video, Music Prime, Prime Reading, além de descontos e frete grátis em ofertas de seu e-commerce. No Brasil, a assinatura mensal custa R$ 14,90.

Por ora, no entanto, os planos neste sentido ainda estão em fase embrionária e não há qualquer previsão de valor. Por outro lado, segundo o The Wall Street Journal, alguns executivos da companhia já chamam a iniciativa de “Disney Prime”, em uma clara alusão ao serviço da Amazon.

Um porta-voz da Disney afirmou, ao Business Insider, que “um programa de membership é apenas uma das ideias empolgantes que estão sendo exploradas à medida que consideramos maneiras de combinar os mundos físico e digital com criar a próxima geração de grandes histórias e experiências da Disney."

Avaliada em US$ 201 bilhões, a Disney também passa por um período turbulento no mercado de capitais em 2022. A companhia já perdeu quase 30% de valor de mercado desde o começo do ano.

Apesar disso, a empresa vem se recuperando em seus resultados financeiros após sofrer com o fechamento dos parques durante a pandemia. No último trimestre, a empresa registrou receita líquida de US$ 21,5 bilhões e lucro de US$ 1,4 bilhão, altas de 26% e 53% respectivamente.

No streaming, a plataforma Disney+ ganhou 14,4 milhões de assinantes no último trimestre e agora conta com 152,1 milhões de usuários. Contabilizando também as plataformas Hulu (46,2 milhões de usuários) e ESPN+ (22,8 milhões de usuários), o grupo Disney soma 221,1 milhões de assinantes em suas plataformas de streaming, superando, assim, a Netflix. A concorrente tem 220,6 milhões de assinaturas ativas.