A Petrobras fechou 2022 com chave de ouro, registrando um lucro de R$ 188,3 bilhões. Além do melhor resultado da companhia em quase 70 anos, o valor da última linha do balanço representa o maior lucro já registrado por uma empresa de capital aberto no País.
Por conta desse desempenho, a companhia anunciou o pagamento de um dividendo gordo aos acionistas (que inclui a União), de R$ 35,8 bilhões. Com esse valor, seria possível comprar a Sabesp, que fechou o pregão de 1º de março avaliada em R$ 35,5 bilhões, de acordo com levantamento do TradeMap.
Mas os polpudos repasses de dividendos – o valor anunciado representa um dividend yield de cerca de 10% – podem estar com os dias contados. O novo presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, sinalizou que pode ocorrer uma mudança de postura sobre o tema em sua gestão, mas destacou que qualquer decisão será tomada após diálogo com os stakeholders da empresa.
“As empresas propõem aos acionistas uma relação de tradeoff, ‘você deixa o dinheiro aqui e vou te mostrar um portfólio de bons projetos’, e aí o investidor decide”, disse ele durante a teleconferência sobre os resultados anuais da Petrobras, na quinta-feira, dia 2 de março.
“E essa relação de tradeoff vai mudando. Tenho dúvidas se tem que ter regras rígidas de distribuição de dividendos; as circunstâncias mudam, os projetos mudam”, completou.
Os montantes que a Petrobras vinha pagando de dividendos são alvo de críticas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados. A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, afirmou na terça-feira, dia 28, em postagem no Twitter, que é preciso “rever a indecente distribuição de dividendos da empresa para ela voltar a investir e fazer o Brasil crescer”.
Questionado por analistas sobre o que seria uma postura equilibrada em termos de pagamento de dividendos, Prates disse que “é aquilo que o conselho de administração, a assembleia de acionistas e a diretoria decidem em prol de investir bem, e ao mesmo tempo remunerar os acionistas”.
A questão dos pagamentos de dividendos já começou a passar por alterações. No comunicado em que anuncia o montante do provento, a Petrobras informou que, como o valor proposto supera os dividendos mínimos previstos em suas políticas de remuneração em R$ 0,50 por ação, o conselho de administração sugeriu aos acionistas a criação de uma reserva estatutária para reter até R$ 0,50 por ação.
Ativos, preços e investimentos
Outro ponto que também deve passar por mudanças na administração de Prates é o processo de venda de ativos. Depois de se desfazer de uma série de operações nos últimos anos, visando reduzir o endividamento e sair de atividades pouco rentáveis, o processo deve ser revisto, de acordo com o novo presidente da Petrobras.
Segundo ele, no passado, a venda de ativos era uma agenda de governo. Agora, ela será da própria Petrobras. “Não vamos nos desfazer de refinarias ou regiões inteiras porque o governo quer”, afirmou.
Já sobre mudanças na política de preços, que sofre duras críticas de integrantes do governo Lula, Prates afirmou que esta é uma questão de governo, e não apenas da Petrobras. Ele não sinalizou o que pode mudar no mecanismo, que pressupõe a paridade com os valores praticados no mercado internacional, caso ocorra algo neste sentido.
Prates comentou ainda que sua administração quer avançar em investimentos em matrizes renováveis de energia. A ideia é aplicar recursos em projetos de geração eólica offshore, aproveitando a expertise da companhia em instalar estruturas em alto mar, e também de gás natural, visto como um combustível que permitirá a transição energética.
Sobre hidrogênio verde, Prates afirmou que a tecnologia ainda está nos estágios iniciais e que a Petrobras não vai se engajar sozinha, diante dos desafios que ela apresenta. “O hidrogênio não é o carro-chefe”, disse.
Ele afirmou ainda que a Petrobras não vai sacrificar as operações de produção de petróleo para investir em energias renováveis. “Não vamos deixar de colocar fichas no pré-sal e na margem equatorial, porque no curto e médio prazo precisamos para abastecer o País e financiar a transição energética”, disse.
A Petrobras fechou o quarto trimestre com um lucro líquido de R$ 43,3 bilhões, alta de 37,6% em relação ao mesmo período de 2021. A receita subiu 18,2%, para R$ 158,6 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado cresceu 16,1%, a R$ 73,1 bilhões.
Por volta das 12h51, as ações preferenciais da Petrobras caíam 2,02%, a R$ 24,79. Com as ações acumulando alta de 22,3% em 12 meses, o valor de mercado da estatal soma R$ 349,4 bilhões.