Anunciada em 2005 pelo governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, localizada em Ipojuca, no interior de Pernambuco, é um caso clássico de obras que demoram para ser concluídas no Brasil e acabam saindo muito mais caro do que se imaginava.
Inicialmente orçada em US$ 2,3 bilhões e com previsão para ser concluída em 2011, a refinaria, até hoje, não está completamente pronta e, segundo as estimativas mais recentes da estatal, de 2018, os custos chegam a US$ 20,1 bilhões, quase nove vezes mais.
Em 2019, após ter sido um dos alvos de investigação da Operação Lava Jato, por corrupção e lavagem de dinheiro, a refinaria foi posta à venda, ao lado de uma série de outras refinarias que, segundo a Petrobras, davam baixo retorno. A empresa só quis manter as unidades localizadas na região Sudeste, consideradas as “joias da coroa”.
A Petrobras, porém, tem enfrentado dificuldades para achar um comprador para a Abreu e Lima. Em fato relevante publicado na noite desta quarta-feira, 25 de agosto, a companhia disse que todos os interessados em adquirir a refinaria desistiram do processo.
"Assim, a companhia está realizando os trâmites internos para encerramento do processo de venda em curso e avaliará seus próximos passos”, informa a empresa, no comunicado.
Instalada no Complexo de Suape, a 45 quilômetros de Recife, a Abreu e Lima começou a produzir em 2014, uma vez que uma das duas unidades da refinaria já estava pronta. A segunda unidade ainda não foi concluída.
O equipamento tem capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia. A produção é focada em diesel, que representa 70% da operação. A refinaria também produz gasolina e GLP (gás liquefeito de petróleo).
No primeiro trimestre deste ano, a refinaria foi responsável pelo processamento de 8,8 milhões de barris de petróleo, ou 5,42% do total processado no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A média diária foi de 99 mil barris por dia.
A Abreu e Lima é também um dos símbolos das investigações envolvendo corrupção na Petrobras. Em julho, o Ministério Público Federal no Paraná denunciou o ex-gerente-geral da refinaria Glauco Colepicolo Legatti por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em razão de repasses de R$ 400 mil em aditivos contratuais fraudulentos entre a estatal e a empreiteira Galvão Engenharia. Ele ocupou o cargo entre junho de 2013 a junho de 2014.
Em 2016, o Tribunal de Contas da União (TCU) constatou um superfaturamento de pelo menos R$ 2,1 bilhões nas obras da refinaria. Em 2017, o delator Márcio Faria da Silva, ex-executivo da Odebrecht, disse à Procuradora-Geral da República (PGR) que as obras realizadas na Abreu e Lima renderam R$ 90 milhões em propinas para ex-executivos da estatal ligados a três partidos: PT, PP e PSB.
Apesar do fracasso na tentativa de vender a Abreu e Lima, a Petrobras obteve sucesso na venda de outra refinaria: a Isaac Sabbá, no Amazonas. Anunciada também nesta quarta-feira, a transação foi fechada no valor de US$ 189,5 milhões, em contrato com a Ream Participações S.A., veículo societário de propriedade dos sócios da Atem’s Distribuidora de Petróleo S.A. (Atem). A Petrobras também já vendeu a refinaria Landulpho Alves, por US$ 1,65 bilhão, para a Mubadala Capital.
A companhia afirma que mantém os processos competitivos para a venda das seguintes unidades: Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul,; Gabriel Passos, em Minas Gerais; Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR), no Ceará; e Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), no Paraná