Foi durante a pandemia, quando os aplicativos de delivery avançaram no dia a dia dos consumidores, que o Hermes Pardini, grupo mineiro de medicina diagnóstica, enxergou uma via para levar seu serviço de exames domiciliares a um novo formato. E a novos espaços.
Depois de cumprir um roteiro de experimentações e análises do novo formato, o resultado desses testes chegou ao mercado há duas semanas. Batizada de Saúde Mob, a marca é o novo serviço de atendimento móvel da empresa.
Com um investimento inicial de R$ 5 milhões, o Saúde Mob vai oferecer 100% do portfólio de exames do grupo e aplicações de vacinas. O serviço funcionará 24 horas por dia, sete dias por semana. Com um detalhe: essa oferta irá muito além das residências e dos limites da companhia.
“Criamos o serviço para atender o grupo e qualquer laboratório, clínica ou hospital que precise de coleta e entrega”, diz Alessandro Ferreira, vice-presidente do Hermes Pardini, ao NeoFeed. “E vamos coletar o exame onde o usuário estiver. Em casa, no trabalho, em um evento, em qualquer lugar.”
Esse modelo, batizado de “anywhere lab”, começou a ser formatado há cerca de um ano e meio. Desde então, ele foi testado em dois projetos-piloto. O primeiro, com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nas partidas de todas as divisões do Campeonato Brasileiro de 2021. E o segundo, com o Ministério da Saúde.
No lançamento, o Saúde Mob está disponível em cinco capitais nas quais o Hermes Pardini tem unidades físicas. São elas: Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Goiânia (GO) e Belém (PA). No total, o grupo tem mais de 160 unidades nesses cinco estados.
Com um aplicativo próprio e processo 100% digital – do agendamento aos resultados - o serviço pode ser acessado por consumidores e empresas. E é nesse último espaço que o Hermes Pardini enxerga um atalho para levar o Saúde Mob a outras praças. Mesmo onde o grupo não tem presença física.
Esse caminho será desenhado pelo Lab-to-Lab, unidade de negócios B2B da companhia que presta serviços de análises clínicas para todos os elos da cadeia – de clínicas e laboratórios a operadoras de planos de saúde e hospitais, além de atender empresas de outros segmentos.
Com o apoio de 18 núcleos de análises de exames em seis estados, a divisão tem uma base de cerca de 6 mil clientes, em duas mil cidades. Em 2021, a área reportou uma receita bruta de R$ 1,2 bilhão, um salto anual de 29,2%. No período, o faturamento total do grupo foi de R$ 2,1 bilhões, alta de 33,4%.
“Os clientes do Lab-to-Lab serão, provavelmente, os maiores compradores do Saúde Mob”, observa Ferreira. “Estamos começando a prospectar dentro dessa base e, a partir daí, vamos definir os próximos passos da expansão.”
Ele acrescenta: “É uma maneira de expandir o nosso negócio mesmo onde já estamos, sem a necessidade de investir em uma estrutura física”, diz. “Abrir uma unidade é um processo burocrático, caro e lento. Em um laboratório pequeno, você não gasta menos de R$ 1 milhão.”
Em termos de investimento, boa parte dos recursos destinados, até aqui, ao Saúde Mob foi aplicada em contratações e em tecnologia. Na primeira frente, a empresa dobrou o número de funcionários responsáveis pelas coletas fora dos laboratórios, para cerca de 140 profissionais.
A empresa também buscou inspiração nas tecnologias usadas por aplicativos de delivery e mobilidade. Ao solicitar e agendar o exame, o usuário sabe, por exemplo, o nome do entregador e de qual ponto ele está saindo, além de acompanhar todo o seu trajeto e a previsão de chegada no local.
Da mesma forma, os profissionais responsáveis pelo transporte dos exames coletados têm acesso a um sistema de roteirização das entregas, baseado em inteligência artificial. Com isso, a empresa saiu de uma média de 6 a 7 coletas por dia por profissional, em seu serviço domiciliar, para 12 coletas diárias por profissional no Saúde Mob
“A indústria de saúde sempre fez benchmark para dentro da própria indústria, olhando o que os concorrentes estavam fazendo”, afirma Ferreira. “Nós decidimos olhar além. Pois entendemos que todas as empresas do setor estavam disputando o que o cliente tem de mais preciso, que é o tempo.”
Na nova marca, as receitas serão geradas no formato tradicional, com a o grupo sendo remunerado pelos convênios nas cidades em que tem unidades físicas. Já em outros municípios, ela virá de taxas – não reveladas – pagas por quem contratar o serviço, por exemplo, um hospital.
Com o Saúde Mob, o Hermes Pardini entende que tem um modelo mais adequado para crescer exponencialmente a base coberta, até então, pelo serviço domiciliar. Hoje, esse segmento atende, em média, 22 mil clientes por mês. Em 2021, esse universo incluiu mais de mil empresas. Nesse ano, mais de 700 companhias já estão com contratos ativos.
“Nossa projeção é de que o volume de atendimentos móveis cresça mais de 100% nos próximos 12 meses”, diz Ferreira. “E acredito que, nos próximos dois anos, o Saúde Mob possa se consolidar como uma das principais vias de crescimento do grupo.”
O lançamento também pode ser mais um caminho para ajudar o Hermes Pardini a estancar a queda acumulada de 6,6% no valor de suas ações em 2022. Cotado a R$ 18,02, o papel encerrou o pregão da quinta-feira com baixa de 1,21%. A companhia está avaliada em R$ 2,3 bilhões.
A empresa não é a única do setor a investir nessa direção. Os outros três grandes grupos de medicina diagnóstica – Fleury, Dasa e Sabin – têm alternativas de atendimento móvel/domiciliar com suas respectivas marcas.
O Fleury, por exemplo, destacou, em seu balanço de 2021, que essa unidade já representa 7,4% da sua receita bruta anual, que no período foi de R$ 4,1 bilhões. Segundo a empresa, o montante já equivale à receita média de 26 unidades físicas.