Em abril deste ano, o Grupo Fleury concluiu a aquisição da Retina Clinic, um negócio de R$ 21 milhões. A clínica oftalmológica faz parte do ecossistema que a companhia tem criado para o setor de saúde, que foi batizado de novos elos. Também fazem parte clínicas de infusão de medicamentos, ortopedia, centro cirúrgico ambulatorial, medicina reprodutiva e oncologia.

No balanço do terceiro trimestre, esses novos elos chamaram a atenção. A receita bruta totalizou R$ 170 milhões ante R$ 88,5 milhões no mesmo período em 2022 - um crescimento de 92,1%. A maior parte é o efeito das aquisições, como a Retina Clinic e o Saha, hospital especializado em cirurgias minimamente invasivas e terapias imunobiológicas. Na receita bruta do grupo de R$ 2 bilhões, esse ecossistema já representa 8,5%.

“Gradativamente esses outros serviços vêm aumentando a participação nos resultados do grupo. Há dois anos era traço”, diz Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury, em entrevista ao NeoFeed. “Os novos elos são uma avenida de crescimento e ao longo do tempo vai ganhando espaço, mas a medicina diagnóstica vai continuar crescendo. Esse mercado ainda é fragmentado no País”.

No trimestre passado, o Fleury reportou o seu primeiro balanço após a incorporação do Hermes Pardini, que ocorreu em abril deste ano após a aprovação do Cade. Naquele momento, Tsutsui falava sobre a mudança de patamar da empresa. Agora, ela explica sobre o andamento e as mais de 60 iniciativas estão em execução.

“Quando anunciamos o deal, falamos de uma sinergia entre R$ 160 milhões e R$ 190 milhões de Ebitda incremental. Após abril, esse nível aumentou para R$ 200 milhões a R$ 220 milhões, que vai atingir 95% no terceiro ano da incorporação”, diz a CEO.

Neste terceiro trimestre, a receita bruta foi de R$ 2 bilhões, um avanço de 62,9% em relação ao mesmo período do ano passado. A título de comparação, se o Hermes Pardini estivesse no balanço do terceiro trimestre do ano passado, o crescimento seria de 11,6%.

jeane tsutsui grupo fleury
Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury

O Fleury realizou nove aberturas de unidades neste ano, sendo seis de medicina diagnóstica e três de novos elos. O investimento na expansão orgânica foi de R$ 114,9 milhões até setembro, uma redução de 39,5% sobre os nove primeiros meses do ano passado.

O que parece um avanço comedido para uma empresa com mais de 500 unidades de atendimento tem uma explicação: a espera pela incorporação das 182 unidades de atendimento do Hermes Pardini. “Estamos avaliando esse footprint que temos e capturando as sinergias”, diz Tsutsui.

O lado B2B da saúde

Uma das combinações mais interessantes de Fleury e Pardini até o momento é no segmento B2B. Essa prestação de serviços exige uma refinada operação logística pelo Brasil para atender mais de sete mil laboratórios e hospitais.

“A complementariedade do lab-to-lab nos faz percorrer, diariamente, 93 mil quilômetros. Essa é uma maneira de levar inovação a todos os cantos do Brasil e dar acesso ao portfólio completo de exames”, diz a CEO.

Com dívida líquida de R$ 1,98 bilhão, uma redução de 9% sobre o mesmo período do ano passado, a alavancagem do Fleury ficou estável em 1,2x a relação dívida líquida sobre Ebitda.

“Nossa estratégia de sermos mais conservadores é a mais adequada, mas isso sem perder a nossa capacidade de investimento”, diz José Antonio Filippo, CFO e diretor de relações com investidores do Fleury.

Isso não significa diminuir o apetite para novas aquisições. Filippo explica que o crescimento inorgânico vai depender dos preços, algo que neste momento a área de M&A não tem achado atrativa. “Temos de manter a disciplina pelos nossos indicadores”, diz ele.

No começo de outubro, os analistas Leandro Bastos e Renan Prata, do Citi, elevaram a recomendação de Fleury de neutra para compra, com preço-alvo de R$ 17 para R$ 18.

A atratividade para o investidor estava na assimetria de preços das ações. O papel estava sendo negociado com múltiplo de 12,3x o preço-lucro de 2024 e de 10,3x o de 2025.

Com valor de mercado de R$ 9,05 bilhões, a ação do Fleury está em alta de 11,7% em 2023, até o pregão de quinta-feira, 9 de novembro. Em 12 meses, o papel cai 3,3%.