Em um ano marcado pela conclusão da integração das operações do Hermes Pardini e a manutenção da difícil situação do mercado de saúde, o Grupo Fleury conseguiu fechar o quarto trimestre com resultados dentro do esperado por analistas, sem perder o controle de sua estrutura de capital, com a alavancagem financeira ficando na casa de 1,0 vez.
Neste novo patamar, com presença em 14 Estados e com praticamente o dobro de receita que tinha, a companhia de medicina diagnóstica se vê preparada para lidar com o cenário negativo para o setor de saúde e seguir crescendo com disciplina financeira.
“Temos uma estratégia clara de captura de market share. Então, onde tiver oportunidade, nós expandiremos nossos serviços”, diz Jeane Tsutsui, CEO do Grupo Fleury, ao NeoFeed. “Nosso objetivo é manter uma entrega consistente, da mesma forma como a gente vem fazendo, com muita disciplina em relação a controle de custos e despesas e na alocação de capital.”
Pelo lado do crescimento orgânico, a CEO diz que o Fleury está bem posicionado nas principais praças do País, pronto para capturar a demanda da população de serviços de saúde, que não deve esmorecer diante da situação da economia.
“Existe uma tendência de envelhecimento da população e quando se olha para medicina diagnóstica, o setor cresce em torno de 7% a 8% ao ano”, diz Tsutsui. “Estamos conseguindo capturar market share, com crescimento orgânico e as aquisições nos ajudam.”
Sobre aquisições, a CEO do Fleury entende que o trabalho feito até o momento de manutenção da disciplina financeira permite olhar novos movimentos, desde que os ativos atendam critérios estratégicos, como entrada em um novo mercado, cultura alinhada e parâmetros financeiros razoáveis.
“O grande problema é que, com o custo de capital maior, não é possível atender sempre as expectativas dos vendedores em termos de múltiplos”, diz ela. “Se for no múltiplo adequado, a gente pode fazer sim, porque a gente tem estrutura de capital para isso.”
No ano passado, mesmo com o esforço de integração do Hermes Pardini, o Fleury fez duas aquisições, do Grupo São Lucas, em abril, operação que marcou a entrada da empresa em Santa Catarina, e do Confiance Medicina Diagnóstica, em novembro, para reforçar a presença no interior de São Paulo (a compra ainda precisa ser aprovada pelo Cade).
Resultados
O Fleury registrou no quarto trimestre um lucro líquido de R$ 84 milhões, alta de 3,3% em relação ao mesmo período de 2023. A receita líquida avançou 8%, para R$ 1,8 bilhão, enquanto o Ebitda subiu 8%, a R$ 405,5 milhões.
No ano, em termos contábeis, o lucro líquido subiu 32%, a R$ 616,2 milhões, com a receita avançando 18,8%, para R$ 7,7 bilhões, e o Ebitda avançou 19,6%, para R$ 2 bilhões. Em termos pro-forma, que contempla os números de Fleury e Hermes Pardini como se estivessem combinados no mesmo período de 2023 e 2024, a receita líquida subiu 6,7% e o Ebitda cresceu 9,4%, com os montantes do ano passado permanecendo os mesmos.
Tsutsui classificou os resultados do quatro trimestre consistentes, destacando o desempenho da bandeira Fleury, cuja receita cresceu 9,5%, em base anual. Ela também apontou para as demais marcas em São Paulo, com alta de 13,5% da receita consolidada. “Essas marcas vêm apresentando crescimento de dois dígitos ao longo do ano”, diz Tsutsui.
No B2B, a receita bruta cresceu 5,5%, consequência do fim do contrato de prestação de serviços com o Sírio Libanês, apesar do bom desempenho da parte de lab-to-lab, de serviços para pequenos laboratórios, em que passaram a atender mais de 7 mil laboratórios após a incorporação do Hermes Pardini.
Segundo a CEO do Fleury, essa perda de contrato é algo inerente ao negócio, mas destacou que foram firmados contratos com os hospitais Santa Joana, Pró-Matre e Santa Maria. E destacou que o resultado também foi afetado pelo fato de, em 2023, um aumento no número de exames toxicológicos, algo que não se repetiu no ano passado. “Não é um resultado que preocupa, é um crescimento menor, sendo que no ano cresceu 9,7%”, diz a CEO.
Um ponto que pesou nas margens do Fleury, e que estava no radar dos analistas, é a questão das glosas médicas, que ocorre quando um procedimento médico ou serviço não é reembolsado integralmente pelo plano de saúde. No quarto trimestre, houve uma elevação de 73 pontos base de glosas em relação ao mesmo período do ano passado – de 0,6% para 1,3%. Com isso, a margem Ebitda recuou dos 22,1% para 22%.
Em sua prévia para os resultados do Fleury, analistas do Goldman Sachs apontaram que a situação representa uma questão para a rentabilidade da companhia em 2025. Sobre o tema, Tsutsui reconheceu o aumento, mas destacou que, na comparação trimestral, a situação não piorou.
Ela lembra que a questão da sinistralidade das operadoras aumentou no pós-pandemia, mas existem também efeitos de fraudes no sistema de saúde, gerando mais processos de aprovação. “Quando comparada com hospitais, outros nomes do setor de medicina diagnóstica, 1,3% é um nível baixo”, afirma ela.
Para lidar com a situação e reduzir o peso sobre a rentabilidade, o Fleury ajustou processos para aumentar a vigilância, para não ter nenhum tipo de problema no atendimento. Uma medida foi mudar a área de processamento de pedidos para que ela responda à parte de planejamento financeiro.
“Tudo isso são ações que diminuem a chance de ter aumento de glosa”, afirma José Filippo, CFO e diretor de relações com investidores do Fleury. “Acreditamos que esse nível [de glosa] não deve aumentar, mas depende dos requisitos que possam aparecer.”
O Fleury registrou no quarto trimestre com geração de caixa operacional de R$ 563,6 milhões, alta de 33% em base anual, fechando o ano com uma geração de R$ 1,9 bilhão, expansão de 34,1%.
No acumulado de 12 meses, as ações do Fleury acumulam queda de 7%, levando o valor de mercado da companhia a R$ 6,1 bilhões.