Com ou sem a hashtag #prayforamazonia, uma das mais usadas nos últimos dias, por conta dos incêndios na Floresta Amazônica, artistas e líderes globais externaram suas preocupações com questões ambientais.
Celebridades como Leonardo DiCaprio e Cara Delevingne publicaram textos sobre os fogos em suas redes sociais, mas o democrata Bernie Sanders foi além. O senador pelo estado de Vermont, que tenta mais uma vez concorrer à presidência americana, aproveitou a repercussão internacional para lançar um plano ecológico de US$ 16,3 trilhões junto a sua plataforma eleitoral.
No Twitter, Sanders já dava pistas de sua inclinação e no dia 1º de agosto postou: "Nós devemos prestar atenção nisto: o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, um autoritário de extrema-direita, está rapidamente destruindo a floresta tropical da Amazônia. Ele é uma ameaça à classe trabalhadora, às minorias, a jornalistas e a um mundo habitável. Não me admira que Trump o ame tanto."
Na manhã desta quinta-feira, 22 de agosto, o político levou ao ar o que chamou de "Green New Deal"– "Novo Pacto Verde", em tradução livre. A proposta do candidato é tornar sustentável e ecologicamente correto todo sistema de energia e de transporte americano até 2030 e descarbonizar completamente a economia americana até 2050.
Todas as medidas necessárias para o cumprimento do projeto seriam financiadas pelos trilhões de dólares provenientes de taxas mais altas aplicadas aos mais ricos e às companhias de combustível fóssil. A redução considerável dos gastos com aparatos militares também seria redirecionada para essa finalidade.
Ousada, como as demais promessas de campanha de Sanders, que inclui saúde para todos, o cancelamento de débitos estudantis e a reforma migratória, entre outras, essa proposta ambiental pode ser decisiva na corrida eleitoral vigente.
Isso porque os democratas colocam as questões climáticas como um de seus principais interesses, e Sanders tem disputado com a senadora Elizabeth Warren a segunda indicação do partido.
Joe Biden, que foi vice-presidente ao longo ao longo do mandato de Barack Obama, está confortável na liderança. Antes de escolher o presidente, os americanos escolhem quem vai concorrer por cada partido, as famosas primárias, que é o que está em jogo agora.
A ofensiva de Sanders inclui ainda declarar a mudança climática uma "emergência nacional"
A ofensiva do senador de Vermont, que perdeu a vaga democrata em 2016 para a então candidata Hillary Clinton, inclui ainda declarar a mudança climática uma "emergência nacional", parar imediatamente a extração de combustíveis fósseis em terras públicas federais e aumentar a contribuição financeira a fundos que tenham esse propósito ecológico.
Também está em jogo o veto ao fracking, ou "fratura hidráulica", uma técnica utilizada por companhias de gás e petróleo para explorar recursos no subsolo através da infusão de jatos de alta pressão. De acordo com ambientalistas, o líquido usado nesse processo é danoso ao meio-ambiente, contendo mais de 600 toxinas.
Com mais de 500 mil poços ativos nos EUA, o fracking e a mineração de carvão são extremamente relevantes do ponto de vista econômico, sobretudo no que tange a questão de emprego. Segundo o Global Energy Institute, o fracking emprega direta e indiretamente cerca de 1,7 milhão de pessoas, enquanto 53 mil mineradores se ocupam com a extração do carvão.
Sem se aprofundar muito na questão, Sanders declarou que seu Green New Deal eventualmente geraria 20 milhões de postos de emprego, já que uma nova estrutura sustentável requer muita mão-de-obra. Além disso, o candidato propõe a criação de um fundo para ajudar os trabalhadores afetados pelas mudanças propostas.
Sob a desconfiança de muitos, Sanders defende que seu projeto vai "se pagar" em 15 anos
Sob a desconfiança de muitos, Sanders defende que seu projeto vai "se pagar" em 15 anos, e que, de qualquer maneira, seria muito mais arriscado não tomar nenhuma atitude frente às questões ambientais – inclusive do ponto de vista financeiro. "Os especialistas estimam que, se não fizermos nada, perderemos US$ 34,5 trilhões em atividade econômica até o final do século", relata em seu programa.
A questão ambiental ganhou repercussão global depois que imagens da Floresta Amazônica em chamas correram o mundo. As principais publicações do mundo, como The New York Times, BBC, The Economist, Al Jazeera, entre outras, escreveram reportagens criticando a política ambiental do governo brasileiro.
O Brasil tem perdido recursos importantes para o combate ao desmatamento da maior floresta tropical do mundo. Os governos da Alemanha e da Noruega, por exemplo, deixaram de doar recursos que seriam usados em políticas de proteção ambiental.
O agronegócio brasileiro também teme por prejuízos, com o boicote que pode acontecer a produtos brasileiros no exterior, por conta do aumento do desmatamento.
O Brasil tem perdido ainda muita credibilidade no cenário internacional. Em Londres, por exemplo, manifestantes cobriram de tinta vermelha a embaixada brasileira, protestando contra o descaso com a Amazônia e a insensibilidade com os assuntos indígenas na região.