Entre abril de 2020 e junho deste ano, Fred Santoro esteve à frente das relações da AWS, a gigante de computação em nuvem da Amazon, com startups brasileiras. Seu trabalho consistia em se aproximar de jovens empresas de tecnologia que pudessem acelerar seus negócios.
Essa relação de Santoro com as startups ganhou novos contornos desde o mês passado. Mas, agora, por conta da Raketo, que significa foguete em esperanto. Trata-se de uma venture market criada pelo executivo, agora empreendedor.
A nova empresa vai operar ajudando startups que buscam recursos em captações públicas, por meio de equity crowdfunding, ou privadas, conectando empreendedores com gestoras de venture capital, private equity, family offices, além de fundos de corporate venture capital.
A ideia da Raketo vai além da oferta de uma plataforma para negociar as participações. A companhia pretende auxiliar os fundadores com decisões estratégicas de seus negócios. Por isso, antes de lançarem suas propostas de captação, os empreendedores vão passar por mentorias com executivos de empresas como AB Inbev, Google, iFood, Adobe e Linkedin.
“Após o onboard das startups, elas passam por um processo de diagnóstico que prepara os empreendedores para o pitch”, afirma Santoro, fundador e CEO da Raketo ao NeoFeed. Nesta etapa, os fundadores serão encorajados a desenvolver novos modelos de negócios e a corrigirem possíveis problemas da operação.
Para gerar receita, a Raketo cobra uma fatia de 9% do valor que a startup captar nas rodadas. Segundo Santoro, o valor é menor do que a média do mercado, que gira em torno de 15%. Além disso, metade do montante absorvido será reinvestido na novata em questão. Assim, a Raketo também se tornará detentora de equity das startups que auxiliar.
“A conta fecha porque acreditamos na valorização das startups com as quais iremos trabalhar”, afirma Santoro. “A sacada é manter a barra alta em relação a quais operações iremos investir. Só vamos trazer aquelas que tenham um modelo de negócio que possa ser escalado."
A tese para a escolha de startups é agnóstica em relação a setores da economia e considera apenas operações early stage. “A mentalidade dos fundadores precisa estar de acordo com a nossa, eles precisam ser vendedores e transparentes”, diz Santoro. Ele também afirma que preza por empreendedores que baseiam suas decisões sobre negócios no uso de dados.
Até o fim de 2022, a Raketo projeta auxiliar na captação de três startups, via equity crowdfunding: a Gria, que opera com uma plataforma voltada para RH; a proptech Éleme; e a Don Luiz, uma DNVB que atua no mercado de bebidas. A meta para o ano que vem consiste em concretizar 25 captações de startups e depois dobrar esse número a cada ano.
Nas negociações no mercado privado, a Raketo vai proporcionar que sua plataforma funcione como uma um marketplace para a gestoras. As startups filtradas pela venture market poderão ser mais facilmente encontradas pelos investidores qualificados, o que vai auxiliar na processo de captação de investimentos.
Já no modelo de equity crowdfunding, cada startup pode captar até R$ 15 milhões, conforme uma resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Qualquer pessoa pode investir a partir de R$ 5 mil”, afirma Santoro. Nos três negócios feitos neste ano, a meta é buscar uma injeção de capital de R$ 1 milhão para cada empreendimento.
Por ora, as negociações são feitas por meio da plataforma Divihub. Até o fim do ano, com a homologação de órgãos reguladores de mercado, a Raketo pretende lançar um aplicativo próprio. O programa vai funcionar em uma parceria white label com a Divihub e servirá para facilitar o acesso dos investidores às empresas que passam pelo filtro da venture market.
O modelo de equity crowdfunding vem ganhando espaço no Brasil. A CapTable, por exemplo, espera quintuplicar de tamanho nesse ano. Outras empresas nesta seara são Eqseed, SMU Investimentos e Beegin.Invest.
O que deu um novo fôlego ao setor foi uma mudança na regulamentação. Publicada no fim de abril, a resolução 88 da CVM triplicou os limites de captação, antes restritas a R$ 5 milhões, e flexibilizou o uso dos recursos financeiros obtidos pelas empresas por meio dessa modalidade.
Financeiramente, a Raketo nasce graças a um aporte de valor não revelado feito pelos investidores-anjo Ricardo Wendel, CEO da Divihub; Tiago Galli, cofundador do C6 Bank; e Yan Tironi, fundador de startups como Amigo Edu, Cubos Academy e PeerBnk, e que também foi executivo do Citi e Itaú BBA.
Para o ano que vem, a Raketo pretende buscar uma nova captação no mercado para impulsionar seu próprio negócio. Segundo Santoro, será uma captação de "Série A brasileira".
Em relação a métricas de crescimento e a expectativa para os próximos anos, o executivo diz que o objetivo não está no número de startups que irão usar a plataforma. "A métrica é o retorno dos investidores e não o dinheiro que vamos ganhar ou quantas startups vão utilizar o serviço", conclui.